Coluna

Empregos de baixa qualidade diminuem renda das famílias para baixo em Goiás

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 20 de novembro de 2019

O
avanço no total de pessoas com algum tipo de ocupação em Goiás segue de perto o
“padrão” observado para o mercado de trabalho em todo o País, impulsionado pela
criação de empregos de baixa qualificação e baixos salários, sem garantias e
sem direitos. Esse comportamento tem sido o principal fator por trás da
tendência de crescimento muito modesto da atividade econômica, impedindo que a
economia deslanche, juntamente com o arrocho imposto pelos governos às despesas
e investimentos do setor público e aos erros do Banco Central (BC) na condução
da política de juros, diante da demora excessiva na redução da taxa básica.

Em
Goiás, setores associados a serviços de baixa especialização respondem por
pouco mais de 60% do total de empregos, taxa que tem sido mantida ao longo dos
últimos trimestres, e vêm contribuindo com mais da metade das vagas abertas num
período mais recente. Para complicar um cenário já delicado, o crescimento
verificado no total de ocupações não foi suficiente para absorver todas as
pessoas que buscaram emprego no terceiro trimestre deste ano, como mostra a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) divulgada ontem
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na
soma de todos os tipos de ocupação, o total de pessoas com emprego saiu de
3,324 milhões no terceiro trimestre do ano passado para 3,407 milhões no mesmo
período deste ano, com abertura de 83,0 mil vagas e crescimento de 2,5%. Mas
170,0 mil pessoas entraram a mais para a chamada “força de trabalho” (a
população com mais de 14 anos e disposta a trabalhar), que saiu de 3,650
milhões para 3,821 milhões. O resultado foi um salto de 26,9% no número de
desempregados, saindo de 326,0 mil para 414,0 mil (o mais elevado desde o
primeiro trimestre de 2017, quando 452,0 mil pessoas estavam desempregadas). A
taxa de desemprego, que havia baixado para 8,9% no terceiro trimestre de 2018,
subiu para 10,8% e também superou o índice do segundo trimestre (10,5%).

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Bom ou ruim?

O
fato de um número maior de pessoas ter buscado colocação no mercado poderia até
ser visto como uma boa notícia, já que estas teriam se sentido estimuladas a
procurar uma vaga ao perceberem uma suposta melhoria no mercado. Mas a
probabilidade de que essa movimentação tenha sido motivada por fatores
negativos (perda de empregos e de renda da família, levando outros membros a
buscarem alguma forma de ocupação para fazer frente a despesas, por exemplo). O
setor de serviços de baixa especialização respondeu por 53,0% das vagas criadas
no período e os empregos com carteira foram responsáveis por pouco menos de
44,6% do total de novas ocupações. Em torno de um terço dessas vagas foram
ocupadas por pessoas sem carteira assinada e por empregadores e trabalhadores por
conta própria sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

Balanço

·  

não é uma tendência recente, mas o número de trabalhadores em situação precária
(sem carteira e sem CNPJ) continua superando o total de pessoas com carteira
assinada (na soma de empregados dos setores público e privado e trabalhadores
domésticos).

·  
No
terceiro trimestre deste ano, o pessoal com registro em carteira somava 1,279
milhão, representando 37,54% do total de ocupados, diante de 1,461 milhão sem
carteira e sem CNPJ (que respondia por 42,88% de todos os empregos). O nível de
“informalização” da mão de obra ocupada sofreu apenas leve inflexão desde o
terceiro trimestre do ano passado, quando aquela proporção havia sido de
43,14%.

·  
A
taxa de subutilização da mão de obra, que inclui desempregados, subempregados
por insuficiência de horas trabalhadas e aqueles que estão fora do mercado, mas
gostariam de trabalhar, saiu de 16,7% no terceiro trimestre de 2018 para 19,1%
no segundo trimestre deste ano e recuou para 17,9% no trimestre seguinte,
mantendo-se acima dos níveis observados em idêntico período do ano passado.

·  
A
dinâmica pouco favorável no mercado de trabalho, que tem favorecido a baixa
especialização (o que explicaria ainda as quedas frequentes na produtividade do
pessoal ocupado), produziu a segunda queda consecutiva do rendimento médio real
de todos os ocupados. Na comparação com o trimestre encerrado em março deste
ano, o rendimento acumula perda de 4,54%, porque baixou de R$ 2.182 para R$
2.083. Na comparação com o terceiro trimestre de 2014 (quando havia atingido R$
2.249), o rendimento sofreu perda de 7,38% em termos reais (descontada a
inflação).

·  
A
massa de rendimentos anotou ligeira reação no terceiro trimestre deste ano em
Goiás, saindo de R$ 6,975 bilhões no trimestre imediatamente anterior para R$
7,001 bilhões (0,4% a mais, praticamente estabilizada), mas ainda acumula baixa
de 2,44% desde o primeiro trimestre, quando chegou a R$ 7,176 bilhões.

Também em valores reais, a massa salarial (que
corresponde à soma de todos os rendimentos recebidos pelas pessoas ocupadas) vem se mantendo estagnada nos últimos anos e ainda registra
ligeiro recuo de 0,96% em relação ao terceiro trimestre de 2014. Naquele
momento, a soma de todos os rendimentos havia alcançado R$ 7,069 bilhões.