Enel Goiás dobra investimentos e volta ao vermelho no 2º trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 31 de agosto de 2021

A necessidade de melhorar a qualidade dos serviços prestados no Estado, modernizar a rede de distribuição e reduzir perdas de energia no sistema levaram a Enel Distribuição Goiás a mais do que dobrar seus investimentos no segundo trimestre deste ano, na comparação com igual período do ano passado. Foram investidos R$ 560,824 milhões entre abril e junho deste ano, diante de R$ 217,809 milhões nos mesmos três meses de 2020, num salto de 157,5%. No acumulado durante o primeiro semestre, os investimentos da distribuidora (antiga Celg Distribuição), da mesma forma, cresceram fortemente, saltando de R$ 408,162 milhões para R$ 830,404 bilhões, o que correspondeu a um aumento nominal de 103,45%.

O esforço para realizar aqueles investimentos, que exigiu a captação de novos recursos junto à controladora, afetou a conta de resultados da companhia, como decorrência principalmente do aumento dos custos de construção. Nos comentários que acompanham as demonstrações financeiras trimestrais, a empresa informa um prejuízo líquido de R$ 20,371 milhões no segundo trimestre, depois de realizar lucro de R$ 23,259 milhões no trimestre imediatamente anterior. No fechamento do primeiro semestre, a distribuidora chegou a acumular resultado líquido positivo, mas bastante modesto, com lucro de R$ 2,888 milhões em função do ganho realizado nos três meses iniciais do ano. Na primeira metade do ano passado, o prejuízo havia alcançado R$ 59,020 milhões.

Na conta dos investimentos, a Enel Distribuição Goiás destinou R$ 314,006 milhões para novas conexões no primeiro semestre deste ano, com alta de 152,01% em relação ao mesmo intervalo de 2020. Apenas no segundo trimestre deste ano, as novas conexões receberam R$ 213,182 milhões, mais de três vezes o valor investido em igual trimestre do ano passado (na verdade, o salto foi de 235,4%). Os investimentos em melhora da qualidade do sistema elétrico cresceram 110,1% no semestre, para R$ 229,988 milhões, dos quais R$ 153,548 milhões realizados no segundo trimestre (132,67% mais do que no mesmo trimestre de 2020). As melhorias na rede, na soma geral, tiveram destacados investimentos de R$ 259,823 milhões no segundo trimestre (aumento de 132,1% na comparação com idêntico período de 2020), atingindo R$ 385,850 milhões na primeira metade do ano, o que representou elevação de praticamente 89,0% diante dos seis meses iniciais do ano passado.

Continua após a publicidade

Risco hídrico

Os próximos meses antecipam dificuldades crescentes para todo o setor de distribuição de energia no País por conta do agravamento acelerado da crise hídrica e dos riscos de que os problemas causados pelo baixo nível dos reservatórios e consequente necessidade de acionar as térmicas em maior escala acabem gerando passivos para as concessionárias. Até ontem, segundo dados do Operador Nacional do Setor Elétrico (NOS), os reservatórios do Sudeste Centro-Oeste, considerados como a grande “caixa d’água” de todo o sistema, operavam com apenas 21,82% de seu volume útil.

Balanço

  • Os custos dos serviços e despesas operacionais experimentaram variação de 34,8% no primeiro semestre deste ano, sempre em relação aos mesmos meses de 2020, passando de R$ 3,045 bilhões para pouco menos de R$ 4,104 bilhões. As receitas líquidas cresceram a uma velocidade relativamente mais acelerada, variando 38,4% e passando de R$ 3,075 bilhões para R$ 4,226 bilhões.
  • As despesas e custos não gerenciáveis, que envolvem as compras de energia para revenda e encargos do setor elétrico, tiveram maior influência no aumento geral observado nesta área, crescendo 36,5% (de quase R$ 1,720 bilhão para R$ 2,348 bilhões). A variação respondeu por 59,4% do aumento dos custos e despesas totais. Dentro dos custos gerenciáveis, pouco mais da metade do aumento registrado decorreu do maior gasto com a compra de energia, que subiu de R$ 1,522 bilhão para R$ 1,839 bilhão (20,9% a mais).
  • Entre as despesas gerenciáveis, ou seja, que em tese poderiam ser controladas pela companhia, o maior peso veio dos custos de construção (o que esteve diretamente relacionado ao fluxo mais elevado dos investimentos). No total, aqueles gastos saíram de R$ 1,326 bilhão para R$ 1,756 bilhão, numa elevação de 32,5%. Os custos de construção cresceram 88,7% no semestre, depois de saltarem 114,2% no segundo trimestre (sempre na comparação com iguais períodos de 2020). Nos primeiros seis meses deste ano, portanto, o custo de construção chegou a R$ 973,604 milhões.
  • Descontados os custos de construção, as demais despesas gerenciáveis recuaram 3,4%, de R$ 809,569 milhões para R$ 782,070 milhões.
  • A dívida bruta da companhia cresceu 43,5% entre junho do ano passado e o mesmo mês deste ano, passando de R$ 2,837 bilhões para R$ 4,070 bilhões. O crescimento deveu-se, conforme a empresa, “basicamente às novas captações com o objetivo de financiar capital de giro, investimentos e refinanciamento de dívidas”. Por meio de operações de mútuo, a distribuidora levantou R$ 3,094 bilhões com sua controladora, a Enel Brasil (R$ 2,044 bilhões), e com a Enel FinanceInternational (R$ 1,050 bilhão). Dois terços dessa dívida, no entanto, vencem no curto prazo. Descontados recursos em caixa, a dívida líquida atingiu R$ 3,959 bilhões, saindo de R$ 2,720 bilhões em junho do ano passado, subindo 45,5%.
  • O retorno antes de impostos, juros, amortizações e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) registrou alta de 70,7% no primeiro semestre deste ano diante de igual período de 2020, avançando de R$ 205,321 milhões para R$ 350,387 milhões.
  • A relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado passou de 3,36 para 4,03 vezes. A geração de caixa ajustada inclui o resultado do serviço, desconta amortizações e depreciações, juros, provisões para créditos de liquidação duvidosa e para riscos tributários, cíveis e trabalhistas, além da provisão feita pela empresa para fazer frente a passivos não identificados na época da privatização da Celg D e que deveriam ser cobertos pelo Fundo de Aporte à Celg Distribuição S.A. (Funac).