Energia explica alta do IPCA (mas demais preços continuam em baixa)
Antes que o “terrorismo inflacionário” se instale mais uma vez, a alta da taxa de inflação nas duas primeiras semanas de setembro nada teve a ver com “descontrole” e muito menos com alguma forma de “escalada de preços”. Praticamente toda a elevação registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), medido entre os dias 15 de agosto e 15 de setembro, pode ser explicada pelo aumento de 12,17% anotado para a tarifa da energia residencial, que havia registrado baixa de 4,21% ao longo dos 30 dias de agosto, quando o IPCA havia recuado 0,11% em relação a julho. Na quadrissemana encerrada no dia 15 deste mês, no entanto, o índice passou a registrar variação de 0,48%, com a taxa acumulada em 12 meses saindo de 5,13% até o final de agosto para 5,32%.
Sozinha, o encarecimento da energia nas residências explicou algo como 97,3% do IPCA-15 geral. A alta esteve relacionada a fatores que não guardam qualquer relação com a “demanda agregada”, quer dizer, com o consumo total das famílias, das empresas e dos governos. Mais claramente, o avanço não ocorreu devido a pressões da demanda sobre os preços e, portanto, não deveria reavivar temores de um descontrole inflacionário a ser contido por novo aperto na política de juros – que continuam excessivamente elevados qualquer que sejam os parâmetros considerados.
Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo do IPCA e do IPCA-15, mostram, na verdade, dois focos principais de alta inflacionária, a saber, os grupos habitação – que saiu de queda de 0,90% em agosto para uma taxa positiva de 3,31% nas quatro semanas encerradas ao final da primeira quinzena deste mês, por conta do aumento da energia elétrica – e vestuário. Neste último caso, a “inflação” avançou de 0,72% para 0,97% entre agosto e a segunda quadrissemana de setembro (ou seja, entre 15 de agosto e 15 de setembro). Para comparar, o custo do vestuário havia registrado variação de apenas 0,17% entre o início da segunda quinzena de julho e o final da primeira quinzena de agosto (medida pelo IPCA-15 do mês passado).
Efeitos sazonais
A mudança ano ritmo de preços no setor pode ser reflexo da entrada de nova coleção no mercado, o que sempre pressões sazonais de alta. De toda forma, a participação de 4,61% do vestuário no orçamento das famílias e sua variação menos intensa comparativamente ao salto registrado pelos preços da energia ajudaram a limitar seus efeitos inflacionários. O aumento nos preços do setor neste mês, por exemplo, teve impacto de 9,31% na formação do IPCA-15 geral.
Balanço