Energia mais barata e alimentos em baixa explicam desmonte da inflação
A redução nas tarifas de energia elétrica residencial e a queda nos preços dos alimentos, tendência observada desde a segunda metade de junho, derrubaram a taxa oficial de inflação no País no período de 16 de julho a 14 de agosto.
Nesse intervalo, houve deflação de 0,14% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), em relação às quatro semanas anteriores. Foi a primeira deflação registrada pelo IBGE desde julho de 2023.
Mais importante: o comportamento dos preços tem se mostrado mais favorável nas últimas semanas, o que pode abrir espaço para revisões na política monetária e eventual retomada do ciclo de queda dos juros, interrompido em setembro de 2024.
Energia elétrica: impacto decisivo
Entre os nove grupos de gastos que compõem o IPCA, quatro tiveram taxas negativas na leitura concluída em 14 de agosto. O grupo Habitação, puxado pela energia elétrica, foi decisivo:
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A energia passou de alta de 3,04% em julho para queda de 4,93% até a primeira quinzena de agosto.
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A virada em apenas duas semanas indica que os efeitos baixistas devem continuar influenciando o índice nos próximos levantamentos.
O “bônus de Itaipu”
Segundo o IBGE, a queda de quase 5% nas tarifas em agosto foi provocada pela incorporação do bônus de Itaipu nas faturas de energia.
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Esse bônus é resultado do saldo positivo da conta de comercialização da hidrelétrica, distribuído em forma de crédito a consumidores residenciais e rurais que consomem até 350 KWh em pelo menos um mês do ano.
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Em agosto, foram repassados R$ 936,8 milhões, referentes à participação brasileira.
Apesar de temporário, o bônus compensou o efeito da bandeira vermelha nível 2, que acrescenta R$ 7,87 a cada 100 KWh consumidos.
No entanto, o cenário climático pode levar à reativação das bandeiras tarifárias mais caras, trazendo de volta pressões inflacionárias.
Alimentos: queda consistente
Além da energia, os alimentos ajudaram a derrubar o IPCA-15:
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Julho (primeira quinzena): -0,06%
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Julho (mês cheio): -0,27%
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Agosto (até 14): -0,53%
Principais quedas:
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Batata inglesa: -18,77%
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Tomate: -7,71%
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Manga: -20,49%
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Cebola: -13,83%
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Carnes: de -0,30% em julho para -0,94% em agosto
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Café moído: -1,47%
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Laranja: -3,0%
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Açúcar refinado: -0,06%
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Açúcar cristal: -0,82%
Altas pontuais:
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Suco de frutas: +0,75%
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Óleo de soja: +0,34% (ainda abaixo dos +0,46% de julho, influenciado por movimentos no mercado internacional).
Combustíveis e transportes: reforço no alívio
Outro fator de desinflação veio dos combustíveis, que registraram:
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Julho: -0,64%
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Agosto: -1,18%
Essa queda foi favorecida por:
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Valorização do real frente ao dólar, que reduz preços de importados cotados em moeda estrangeira.
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Baixa nas cotações internacionais do petróleo, com reflexos também sobre o etanol.
No grupo Transportes, a taxa saiu de +0,35% em julho para -0,47% em agosto.
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Destaque para a queda de 2,59% nas passagens aéreas, revertendo parte do salto de 19,92% no mês anterior.
Resultado geral
Desconsiderando energia, alimentos, combustíveis e passagens aéreas, o IPCA-15 teria mostrado alta de 0,26% (em vez de queda de 0,14%).
Ainda assim, trata-se de uma taxa relativamente baixa, em linha com a tendência de moderação inflacionária observada nos últimos meses.