Entre grandes setores, apenas serviços avançam no bimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de abril de 2023

Enquanto o comércio varejista e a indústria enfrentaram dificuldades nos primeiros dois meses do ano, com resultados pífios e mesmo negativos, o setor de serviços anotou proporcionalmente melhores resultados em Goiás, presumivelmente sob influência da demanda das famílias colocadas entre as faixas de renda mais elevadas. A hipótese parece ter alguma sustentação quando se observa, por exemplo, que o volume de vendas dos super e hipermercados, incluindo produtos alimentícios, bebidas e fumo, desabou 4,7% na comparação com fevereiro do ano passado, acumulando perdas de 4,4% no primeiro bimestre, igualmente em relação ao mesmo período de 2022.

Apenas para refrescar a memória, a produção industrial no Estado havia anotado retrocesso de 2,5% na passagem de janeiro para fevereiro deste ano, caindo 2,7% diante do segundo mês do ano passado, acumulando nos dois primeiros meses deste ano uma variação modestíssima de 0,3%. Nos 12 meses até fevereiro deste ano, como já registrado neste espaço, a indústria ainda lidava, até aquele momento, com um recuo de 0,9% frente aos 12 meses imediatamente anteriores. A série de dados mostra a tibieza da atividade no setor e uma suposta incapacidade de retomar o crescimento de forma duradoura. Comparada a outubro de 2019, melhor período para o setor desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) começou a acompanhar as indústrias regionais, o volume produzido pela indústria goiana ainda apresentava baixa de 5,9%.

O varejo tradicional, que exclui setores mistos, que operam tanto no varejo quanto no atacado, havia avançado 2,8% em janeiro, em relação a dezembro, descontados fatores sazonais, e recuou 0,5% na saída de janeiro para fevereiro. No varejo amplo, que inclui concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças, material de construção e o segmento do atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, os volumes vendidos subiram 4,4% e 3,1% em janeiro e fevereiro, respectivamente, mais uma vez em comparação aos mesmos meses de 2022.

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Varejo titubeante

O avanço no varejo ampliado, no entanto, concentrou-se no setor de veículos, com salto de 26,7% em fevereiro, impulsionado pelos resultados muito ruins nos períodos anteriores. As vendas de materiais de construção e de alimentos, bebidas e fumo no atacado, prenunciando resultados pouco promissores para o setor varejista nesta última área, registraram tombos de 10,2% e de 17,6% naquela mesma ordem e em relação ao segundo mês de 2022. No acumulado em janeiro e fevereiro deste ano, frente ao mesmo bimestre do ano passado, o varejo convencional avançou apenas 0,9%, diante da alta de 3,8% no varejo ampliado, novamente por conta das concessionárias de veículos e motos (salto de 29,0%), já que os setores de materiais de construção e o atacado de alimentos, fumo e bebidas venderam 6,4% e 9,0% a menos.

Balanço

  • Embora os números do varejo amplo tenham se destacado, recobrando-se das perdas acumuladas durante a fase mais crítica da pandemia, crescendo 10,9% em relação a fevereiro de 2020, há uma particularidade a anotar e que é reveladora do tamanho da crise no setor nos últimos anos. Na comparação com agosto de 2012, melhor momento na série histórica nesta área, o nível das vendas no setor ainda apresentava queda de 22,7%.
  • Além disso, reação recente ainda não ajudou a compensar as perdas dos últimos meses, tanto que o varejo amplo ainda anota baixa de 3,6% em relação a março do ano passado, considerando indicadores dessazonalizados (excluídos fatores que se repetem sempre nos mesmos períodos do ano e poderiam distorcer a comparação para mais ou para menos).
  • Esse movimento não parece ser exclusividade do varejo amplo. No comércio varejista mais tradicional, as vendas encontravam-se 3,3% mais baixas do que em março do ano passado, partindo de fevereiro deste ano. O segmento, de toda forma, não conseguiu recuperar as perdas realizadas a partir de março de 2020, com o segmento ainda anotando queda de 2,9% diante de fevereiro daquele ano. Mais claramente, em três anos precisamente, ainda que a população tenha crescido, assim como o emprego, o varejo não conseguiu avançar e ainda recua.
  • O melhor momento do comércio varejista, na série do IBGE, foi registrado em fevereiro de 2014. Nesses nove anos, o segmento despencou 30,2%. É um retrocesso muito elevado, que não se explica unicamente pelo avanço do comércio online, que, embora tenha avançado expressivamente, ainda responde por uma fatia muito reduzida dos volumes movimentados pelo varejo convencional.
  • Como exceção, respeitadas as proporções, os serviços avançaram 2,2% em fevereiro, em relação a janeiro, quando já havia crescido 1,3% diante de dezembro. Na comparação com os mesmos meses do ano passado, a atividade no setor de serviços anotou elevação de 8,9% em fevereiro, depois de crescer 7,4% em janeiro, passando a acumular variação de 8,2% no bimestre. A reação do setor em Goiás tem sido mais intensa do que na média do restante do País, já que o nível da atividade cresceu 20,3% desde fevereiro de 2020, frente a uma variação de 11,5% na média brasileira. Mas, a exemplo da indústria e do comércio, o crescimento recente não foi suficiente para recuperar todo o atraso registrado pelos serviços desde fevereiro de 2014, com baixa acumulada de 9,1% em nove anos.