Equatorial aprova captação de até R$ 2,5 bi para sua operação em Goiás

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 21 de fevereiro de 2023

Em reunião de seu conselho de administração realizada ainda no início de janeiro, a Celg Distribuição (Celg D), agora sobre controle da Equatorial Participações e Investimentos S.A., aprovou uma série de operações de crédito e mútuo de curto e médio prazos para captação de até R$ 2,5 bilhões, em grande parte destinados a suprir necessidades de recursos de curto prazo e reforçar seu fluxo de caixa. A distribuidora enfrenta um longo histórico de escassez de recursos e vinha experimentando, nos últimos meses, um incremento em sua dívida líquida, relacionado especialmente ao levantamento de recursos no mercado para suprir aquelas deficiências de caixa e ainda dar suporte aos planos de investimento da distribuidora, crescentemente pressionada pelo governo estadual e pelo setor corporativo a aprimorar a qualidade dos serviços prestados no Estado.

A captação recentemente autorizada contempla duas operações de mútuo, num valor total de R$ 2,0 bilhões, prazos de até dois anos para amortização e juros amarrados à taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), mais 1,5% ao ano. O CDI, como se sabe, acompanha de perto a taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano, nível já excessivamente elevado quando se consideram as projeções para a inflação dos próximos 12 meses, muito próximas de 5,79%. Até o começo do mês, a taxa do CDI vinha flutuando ao redor de 13,65% ao ano, o que faria o custo do mútuo firmado pela distribuidora goiana elevar-se até algo ao redor de 15,35% – o que, por sua vez, corresponderia a uma taxa real próxima de 9,0% ao ano.

A maior operação de mútuo, firmada com a Equatorial Energia, envolve a contratação de R$ 1,5 bilhão. A distribuidora goiana também deve assinar com a Equatorial Pará Distribuidora de Energia mútuo no valor de R$ 500,0 milhões, igualmente para suprir deficiência de recursos de curto prazo. O conselho de administração havia também autorizado a diretoria da Celg D a firmar acordos de crédito de curtíssimo prazo com o Citibank, num valor de até R$ 250,0 milhões, e com o braço do Santander em Luxemburgo, por meio do Banco Santander no Brasil, também de até R$ 250,0 milhões, sempre com aval da Equatorial Energia. Nos dois casos, juros e amortizações serão liquidados ao final dos contratos, que têm prazo de até 60 dias, e envolverão ainda a realização de operações de swap em valores equivalentes ao crédito a ser contratado como proteção contra riscos cambiais.

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Custo macroeconômico

O custo muito alto dos juros básicos tem sido apontado por vários especialistas e analistas de mercado como um dos fatores que ameaçam levar a economia a uma crise de falta de liquidez, diante dos números elevados de empresas e de famílias endividadas. No fechamento de cada ano, os juros amarrados ao CDI saíram de 5,96% em 2019 para 2,76% no ano seguinte, elevando-se até 4,42% em 2021. Num empréstimo de R$ 100,0 mil contratado em 2020 com prazo de dois anos, num exemplo hipotético, a empresa pagaria inicialmente em torno de R$ 7,26 mil em juros ao ano e terminaria o período com um papagaio de R$ 13,650 mil, num custo perto de 88% mais elevado.

Balanço

  • Nas demonstrações financeiras referentes aos nove primeiros meses do ano passado, ainda sob a gestão da espanhola Enel, a Celg D já havia assistido a um aumento de 34,3% em sua dívida líquida. Na comparação entre setembro de 2021 e igual mês de 2022, a dívida chegou a avançar de R$ 4,712 bilhões para R$ 6,327 bilhões, impulsionada pela contratação de dívidas novas, destinadas a reforçar o fluxo de caixa e assegurar investimentos no sistema, mas também pela escalada dos juros, que saltaram de 2,0% ao ano até meados de março do ano passado para 13,75% já no final de 2022.
  • Entre janeiro e setembro do ano passado, a distribuidora realizou um prejuízo de R$ 316,972 milhões, disparando em relação a perdas líquidas de R$ 62,797 milhões em igual período de 2021, o que correspondeu a um salto de 409,53%.
  • Para se ter uma ideia do impacto do custo financeiro mais pesado, a conta financeira saiu de um prejuízo líquido de R$ 269,174 milhões nos primeiros nove meses de 2021 para um resultado negativo de R$ 703,544 milhões no acumulado entre janeiro e setembro do ano passado, num aumento de 161,4%.
  • Ainda no período entre janeiro e setembro, as despesas financeiras aumentaram 177,58% e superaram R$ 1,403 bilhão em 2022, diante de R$ 505,595 milhões nos mesmos nove meses de 2021. Entre outras, os desembolsos relacionados a operações com derivativos dispararam de R$ 47,444 milhões para R$ 537,939 milhões, nada menos do que 11,3 vezes mais. Os encargos incidentes sobre dívidas e sobre operações de mútuos aumentaram 3,13 vezes, subindo de R$ 146,208 milhões para R$ 457,613 milhões.
  • O saldo da dívida bruta havia experimentado elevação de 32,5% entre setembro de 2021 e igual mês de 2022, passando de R$ 4,837 bilhões para R$ 6,408 bilhões, em valores aproximados. A principal contribuição veio do crescimento da dívida com empresas do mesmo grupo, que avançou de R$ 4,422 bilhões (91,43% da dívida bruta total) para R$ 5,890 bilhões (91,92% de toda a dívida bruta), numa variação de 33,2%. A dívida com terceiros, por sua vez, aumentou 24,8%, saindo de R$ 414,687 milhões para R$ 517,728 milhões.  Os números do balanço mostram que 75% da dívida bruta estão alocados em operações de curto prazo e que 98% do saldo devido encontravam-se atrelados à taxa dos depósitos interbancários.
  • O grupo Equatorial havia acelerado seus investimentos no setor de distribuição, que passaram de R$ 2,542 bilhões nos 12 meses de 2021 para R$ 4,344 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado, num salto de 70,89%. A expectativa é de que a empresa apresente um forte plano de investimentos para o Estado, acelerando o processo de adequação do sistema às necessidades da economia goiana.