Escalada de custos pressiona para baixo PIB do agronegócio

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de setembro de 2022

A escalada dos custos dos insumos na primeira metade do ano, num avanço mais rápido do que os preços recebidos pela agropecuária, terminou deprimindo a renda recebida pelo agronegócio como um todo, embora os volumes produzidos tenham experimentado incremento na comparação com idêntico período do ano passado. Sob conceito de renda, tradicionalmente utilizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio encolheu 2,48% no primeiro semestre deste ano, frente a igual período do ano passado, depois de sofrer baixa de 1,70% no segundo trimestre.

Ainda sob a ótica do faturamento, o PIB experimentou em junho deste ano a sexta queda mensal consecutiva, com baixas de 0,37%, 0,76% e de 0,59% respectivamente em abril, maio e junho, sempre em relação a iguais meses de 2021. “O principal fundamento para esse cenário é a forte alta dos custos com insumos no setor, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias, que tem corroído o indicador do PIB ao longo das cadeias”, registra a equipe de macroeconomia do Cepea.

O segmento agrícola foi mais penalizado, segundo dados do levantamento divulgado em conjunto nesta semana pelo centro de estudos e pela CNA. Ainda considerando os primeiros seis meses deste ano, frente à primeira metade do ano passado, os preços de fertilizantes e corretivos de solo saltaram 92,76% em média, com alta de 26,11% para os defensivos e de 20,10% no caso das máquinas agrícolas. A pecuária, ao contrário, registrou queda de 6,51% nos custos das rações e de 2,67% nos preços pagos por medicamentos para animais.

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Na intepretação do Cepea, o PIB do agronegócio havia alcançado dois anos de recordes sucessivos, em 2020 e 2021, mostrando que o faturamento do setor havia sido menos afetado pela pandemia do que o restante da economia. Aquele biênio, anota o centro de estudos, pode ser caracterizado como “um dos melhores da história do agronegócio brasileiro”, o que deveria permitir avaliar o desempenho deste ano, de certa forma, sob um ângulo menos negativo. Considerando os resultados muito positivos de 2021, o desempenho neste ano “ainda pode ser considerado favorável”.

Fatia menor

Embora ainda parciais, os dados da economia brasileira como um todo e do agronegócio nos primeiros seis meses deste ano, ainda na avaliação do Cepea, permitem antecipar uma ligeira redução da fatia do setor no PIB total do País, saindo de 27,5% em 2021 – percentual mais elevado desde 2003 – para 25,5% neste ano. De toda forma, seria o terceiro melhor resultado em quase duas décadas. A comparação deverá se dar sobre uma base mais elevada, já que o PIB brasileiro avançou em torno de 2,5% no primeiro semestre, com alta próxima de 2,6% nos quatro trimestres finalizados em junho deste ano.

Balanço

  • Medido em volume, mesma métrica utilizada para calcular o PIB do País, os números do semestre foram ligeiramente melhores, mas ainda inferiores ao desempenho registrado pelo restante da economia. Sob essa ótica, o PIB do agronegócio anotou variação de 0,64% em relação ao primeiro semestre do ano passado, com alta de 6,40% para o setor que fabrica e distribui insumos para a agropecuária, elevação de 1,09% no segmento de serviços associados ao agronegócio e incremento de 0,80% para a agroindústria. O setor primário experimentou baixa de 1,27%.
  • Os dados do Cepea e da CNA confirmam que a contribuição do agronegócio na formação do PIB brasileiro será muito mais modesta neste ano e não deverá compensar o desaquecimento esperado para toda a economia nos meses finais de 2022 como consequência da política monetária ainda bastante restritiva.
  • Mais claramente, mesmo que o Banco Central (BC), por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), tenha decidido interromper os ajustes nos juros, ao menos por enquanto, a taxa básica continuará muito elevada, na faixa de 13,75% ao ano, por um período ainda longo.
  • A persistência de taxas reais de juros muito elevadas, na faixa de 8,2% ao ano, depois de descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, continuará como um obstáculo importante no caminho da atividade econômica, esfriando os negócios neste restante de ano e provavelmente também em 2023. A previsão mais recente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) para o PIB do ano que vem sugere um recuo de 0,4%.
  • De volta ao PIB do agronegócio, mais uma vez sob o conceito de renda, o Cepea aponta reduções de 2,71% e de 1,82% respectivamente para os ramos agrícola e pecuário. No primeiro ramo, a queda veio na sequência de um tombo de 14,01% experimentado pelo segmento primário da agricultura, pressionado pela alta de custos, como demonstra o salto de 31,81% no PIB dos insumos agrícolas – reflexo, por sua vez, do encarecimento de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas.
  • A indústria que processa produtos de origem vegetal acumulou no semestre incremento modesto de 0,45% no semestre, igualmente explicado pelo aumento dos custos. “O avanço dos custos tem marcado a indústria de transformação brasileira de modo geral e, no contexto dessa análise, pressionado negativamente o PIB tanto das agroindústrias agrícolas quanto das pecuárias”, comenta o Cepea.
  • O PIB primário chegou a avançar 1,7% no ramo pecuário, mesmo diante de alguma acomodação nos preços do setor. O desempenho, como reforça o centro de estudos, foi favorecido por “algum alívio dos custos ao longo do primeiro semestre – frente ao patamar expressivamente elevado alcançado em 2021”. Por isso mesmo, o faturamento do setor de insumos pecuários caiu 2,45%. De outro lado, a redução de 3,44% para o PIB da agroindústria de base pecuária, na visão ainda do Cepea, refletiu o aumento nos custos industriais “a taxas superiores às do crescimento esperado para o faturamento”.