Coluna

Especulação turbina preços do milho, que sobem vigorosamente em agosto

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de agosto de 2020

A
perspectiva de safras recordes para milho e soja neste ano não foi suficiente
para segurar os preços. No caso do milho, além da maior produção, o mercado tem
sido pressionado pelo tombo nas exportações, que caíram quase pela metade em
relação ao ano passado. Mesmo assim, numa nítida manobra especulativa,
produtores, atravessadores e tradings têm retido o produto, causando alta
acentuada num momento de procura mais intensa pelo grão no mercado interno.
Apenas para reforçar, desde julho foram colhidas 74,9 milhões de toneladas na
segunda safra de milho, o que significou 1,74 milhão de toneladas a mais do que
no mesmo período do ano passado, numa produção recorde.

A
soja segue trajetória inversa na área externa, com forte incremento dos
embarques, liderados pela China, mas sustenta cenário semelhante em relação à
oferta doméstica, que parece apresentar certa folga como
decorrência de um aumento de pouco mais de 5,9 milhões de toneladas na produção
colhida em 2020.Os levantamentos diários realizados pelo Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz” (Esalq/USP), apontam preços recordes ou próximos disso para o milho
e a soja, com forte alta também para o arroz, reflexo, no caso, de uma demanda
mais aquecida internamente e de uma produção virtualmente estagnada nos mesmos
níveis desde o final dos anos 1990, como mostram os dados históricos da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os produtos de exportação, a
exemplo da soja e do milho, têm recebido ainda o impulso da forte
desvalorização do real frente ao dólar.

Nos
dados do Banco Central (BC), a cotação da moeda norte-americana encerrou os
primeiros 27 dias de agosto ao redor de R$ 5,46 na média do período, o que
representou alta de 36,5% em relação ao mesmo mês do ano passado. Nas bolsas
internacionais, os preços do milho e da soja em grão experimentaram forte
recuperação depois de despencarem muito baixos por volta de março e abril deste
ano, quando a safra brasileira estava desembarcando no mercado. Desde final de
julho do ano passado, as cotações do milho chegaram a desabar 27,7%, atingindo
302,75 centavos de dólar por bushel no final de abril. Desde lá, no entanto,
subiu 13,6% e chegou a 343,88 centavos ontem. Persistia, ainda, uma redução de
3,67% em relação ao mesmo período de 2019.

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Para
a soja, a comparação anual mostra uma elevação de 9,53%, já que os preços para
entrega futura do grão subiram de 859,00 centavos de dólar no final de agosto
do ano passado para 940,88 centavos no fechamento de ontem. O preço externo do
grão havia baixado 8,3% entre os últimos dias de julho do ano passado e o dia
16 de março deste ano, quando chegou ao seu nível mais baixo neste ano, para
824,62 centavos. Entre meados de março e o final de agosto, portanto, a cotação
avançou 14,1%. Na comparação entre julho e agosto deste ano, a soja subiu 4,5%
no mercado internacional, diante de uma alta de 5,8% para o milho.

Balanço

·  
De
acordo com o Cepea, os dados parciais de agosto, fechados até a sexta-feira
passada, mostravam que os preços da soja em grão continuavam “renovando as
máximas nominais” aqui dentro. O indicador criado pelo centro de pesquisas apontava,
até ali, alta de 11,5% no mês, com a saca de 60 quilos atingindo R$ 132,80 em
Paranaguá (PR). A valores não atualizados pela inflação, a cotação marcou novo
recorde nominal em toda a série do Cepea, iniciada em março de 2006.

·  
Atualizado
com base no Índice Geral de Preços (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o
recorde foi registrado em setembro de 2012, quando o preço médio mensal
alcançou R$ 139,20 por saca.

·  
Na
média observada no Paraná, de acordo ainda com o Cepea, o indicador anotou
elevação de 13,9% frente à média registrada em julho, com a saca alcançando R$
126,96. Um recorde nominal e, em termos reais (quer dizer, descontada a
inflação), a cotação mais elevada desde setembro de 2012, quando a média mensal
fechou em R$ 132,95. A despeito da valorização recente, os preços reais da saca
de soja continuam abaixo do recorde de R$ 149,71 observado, para o Estado, em
outubro de 2002.

·  
Além
da desvalorização da moeda brasileira diante do dólar, o que torna a soja
proporcionalmente mais barata para compradores estrangeiros, a procura
doméstica pelo grão mantinha-se firme, segundo a equipe de pesquisadores do
Cepea. Neste cenário, começaram a ser registrados negócios envolvendo a venda
antecipada de soja para entrega entre fevereiro e julho de 2022. Para os
pesquisadores, esta seria uma ocorrência inédita no mercado da oleaginosa.

·  
Em
Mato Grosso, pouco mais de metade da safra de soja esperada para 2021 já havia
sido comercializada. Neste mês, o Instituto Mato-grossense de Economia
Agropecuária (Imea) registrou a venda antecipada de 50,52% da produção prevista
para 2020/21.

·  
O
indicador da Esalq para o milho apontou salto de 17,35% para os preços do grão
em agosto na região de Campinas (SP), mesmo com a colheita da segunda
safrapraticamente concluída, o que significou a entrada de 74,9 milhões de
toneladas no mercado – um recorde histórico. O valor médio da saca do grão
registrou R$ 59,60 no dia 21 passado, aproximando-se do valor real observado em
março deste ano (R$ 60,36). Também em valores corrigidos pelo IGP-DI, o recorde
foi alcançado em dezembro de 2007 (R$ 73,20 a preços de hoje).

·  
No
caso, de acordo com o Cepea, houve um movimento de retenção da produção pelos
vendedores, que têm evitado fechar negócios à espera de maior alta para o grão,
num nítido movimento especulativo num momento de maior procura por indústrias
de ração e produtores de aves e suínos.