Exportações da indústria ampliam dependência do petróleo e do agro

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de setembro de 2022

O avanço acelerado das exportações realizadas pela indústria de transformação nos primeiros oito meses deste ano esconde um crescimento mais do que proporcional da dependência do comércio externo no setor do petróleo, seus derivados e de produtos de base agropecuária, com destaque para carnes, farelos e óleos de origem vegetal – concentrados, neste caso, em derivados da soja em grão. Numa tendência muito aproximada, as importações do setor de transformação industrial foram lideradas pelas compras de combustíveis e lubrificantes e de adubos e fertilizantes, com participação muito menos relevante de itens que ajudam a compor o investimento industrial.

As vendas externas da indústria brasileira de transformação, segundo dados do Ministério da Economia, experimentaram uma alta muito próxima de 31,2% na comparação entre os valores acumulados entre janeiro e agosto deste ano frente ao mesmo período do ano passado, subindo de pouco mais do que US$ 91,414 bilhões para algo em torno de US$ 119,927 bilhões. Entre os dois períodos, as vendas registraram um acréscimo muito próximo de US$ 28,513 bilhões. A participação do setor nas exportações totais do País elevou-se de 48,39% para 53,33% e sua contribuição para o avanço geral das vendas externas foi ainda mais relevante, alcançando 79,23%. No total, o Brasil exportou praticamente US$ 224,891 bilhões entre janeiro e agosto deste ano, avançando 19,05% em relação aos US$ 188,902 bilhões exportados nos mesmos oito meses do ano passado (mais US$ 35,989 bilhões entre um período e outro).

Petróleo e derivados

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A questão é que esses números têm sido sustentados por setores associados ao ciclo mais recente de elevação dos preços internacionais das commodities. As exportações de combustíveis e lubrificantes, num exemplo, insufladas pelo aumento das cotações do barril de petróleo e de seus derivados especialmente no curso da guerra entre Rússia e Ucrânia, subiram 44,4% naquela mesma comparação, passando de quase US$ 24,741 bilhões para US$ 35,724 bilhões, somando mais US$ 10,983 bilhões à conta do setor. A participação dos combustíveis nas vendas externas totais da indústria cresceu de 27,06% para 29,79% e, ainda assim, o segmento respondeu por US$ 38,52 a cada US$ 100 exportados a mais pelo setor de transformação como um todo. A fatia dos produtos com origem na agropecuária foi reduzida de 39,43% para 37,58% entre janeiro e agosto de 2021 e igual intervalo deste ano, refletindo um ritmo de crescimento menos intenso, numa variação de 25,04% entre aqueles dois períodos.

Balanço

  • Na soma até agosto, as vendas externas de carnes, farelos, óleos e outros derivados de origem vegetal ou animal saíram de US$ 36,046 bilhões, em números aproximados, para US$ 45,072 bilhões, o que correspondeu a um ganho de US$ 9,026 bilhões. Sua contribuição para o aumento geral das exportações da indústria atingiu, assim, algo perto de 31,7%. Incluindo os combustíveis na conta, a participação de ambos segmentos no aumento geral das vendas externas da indústria alcançou praticamente 70,18%. Se forem consideradas ainda as exportações de produtos industriais a base de minerais metálicos e não ferrosos, o percentual avança para 77,29%.
  • Como sugerem os dados, a dependência das exportações da indústria de transformação em relação a recursos naturais tem se aprofundado, apontando uma incapacidade crescente do setor para disputar mercados tecnologicamente mais sofisticados, de maior valor agregado e que ajudam a sustentar um crescimento mais duradouro e de melhor qualidade.
  • Considerados todos os fatores, a hipótese é de um crescimento de fôlego curto para as exportações industriais, com duração equivalente ao ciclo de valorização das commodities. O momento recomendaria capitalizar esse processo para financiar um modelo de reconversão da indústria em direção a formatos mais sustentáveis e tecnologicamente mais avançados, assegurando uma integração autônoma e competitiva do País à cena industrial global – cenário amplamente desprezado pela atual equipe econômica.
  • A indústria de transformação importou qualquer coisa ao redor de US$ 160,583 bilhões nos oito primeiros meses deste ano, correspondendo a um incremento de 29,57% na comparação com US$ 123,936 bilhões importados entre janeiro e agosto do ano passado. Sozinho, o setor respondeu por 88,71% de tudo o que o País importou até agosto deste ano, inferior aos 90,55% registrados em idêntico intervalo de 2021. As compras externas totais cresceram de US$ 136,862 bilhões para US$ 181,015 bilhões, num aumento de 32,26%, puxado pelo salto de 100,9% nas importações da indústria extrativa, que, por sua vez, foram turbinadas pelas compras de óleo bruto de petróleo.
  • O saldo negativo das indústrias de transformação, em consequência, cresceu 25,01% entre aqueles mesmos períodos, saindo de US$ 32,522 bilhões para quase US$ 40,656 bilhões, o que ajudou a reduzir o superávit final da balança comercial brasileira (exportações menos importações) de US$ 52,039 bilhões para US$ 43,875 bilhões, em baixa de 15,69% (menos US$ 8,164 bilhões). Na prática, quase toda a queda deveu-se ao crescimento do rombo na balança da indústria, já que o déficit no setor aumentou em US$ 8,134 bilhões.
  • No prato das importações, a maiores contribuições vieram de combustíveis e lubrificantes e das compras de adubos e fertilizantes, antecipadas pela indústria do setor para fazer frente às necessidades do campo, antecipando-se a eventuais dificuldades de suprimento motivadas pelo conflito no leste da Europa.
  • As compras de combustíveis e lubrificantes subiram de pouco menos do que US$ 15,062 bilhões para praticamente US$ 28,629 bilhões, num aumento de 90,1% nessa comparação (um acréscimo de US$ 13,567 bilhões, correspondendo a 37,02% do aumento geral observado para as importações de toda a indústria. Em dólares, o País gastou US$ 18,649 bilhões entre janeiro e agosto deste ano, num salto de 150,64% em relação a importações de US$ 7,441 bilhões em 2021, também até agosto. Foram US$ 11,209 bilhões a mais, respondendo por 30,59% do acréscimo registrado pelas importações totais da indústria. Os dois grupos de produtos contribuíram, portanto, com US$ 67,61 a cada US$ 100 acrescidos na conta das importações do setor.