Falta de chuvas reduz drasticamente crescimento da economia na década
A instabilidade climática e os níveis reduzidos de precipitação nos últimos anos, fenômenos associados às mudanças no clima mundial, mas fortemente relacionadas à condução errática das políticas ambientais aqui dentro, especialmente entre 2016 e 2022, ao avanço desnaturado do desmatamento, a queimadas, invasões e grilagem de terras, resultando na espoliação desavergonhada dos povos originários, têm […]
A instabilidade climática e os níveis reduzidos de precipitação nos últimos anos, fenômenos associados às mudanças no clima mundial, mas fortemente relacionadas à condução errática das políticas ambientais aqui dentro, especialmente entre 2016 e 2022, ao avanço desnaturado do desmatamento, a queimadas, invasões e grilagem de terras, resultando na espoliação desavergonhada dos povos originários, têm imposto um custo elevado à economia brasileira. Um fator, de resto, solenemente desprezado no debate econômico doméstico, que escolheu como foco único a política fiscal, mais claramente, o desequilíbrio entre receitas e despesas no setor público, com o objetivo claro de reduzir o tamanho do Estado, obrigando os governos a cortarem despesas indiscriminadamente.
Analistas, consultores e economistas ligados a departamentos econômicos do sistema financeiro, altamente especializados, em teoria, não conseguem incluir em seus modelos macroeconômicos a equação ambiental, como se o lado real e concreto da vida das pessoas pouco tivesse relevância. Mas há exceções. Desde 2021, o economista Bráulio Borges, economista-sênior da área de macroeconomia da LCA e pesquisador-associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), tem produzido estudos mostrando os impactos de anomalias climáticas, sobretudo no caso do regime irregular de chuvas observado nos últimos anos, sobre a produtividade na economia e, portanto, sobre a capacidade de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo ele, choques (climáticos) ou anomalias no regime de chuvas “correspondem, na prática, aos desvios das chuvas àquilo que seria ‘usual’ para cada região ou país (média histórica no período analisado)”. Adicionalmente, acrescenta Borges, “o impacto dessas anomalias das precipitações sobre o desempenho do PIB é cumulativo”, vale dizer, um período de seca, na sequência de anos de boas chuvas, terá menor impacto negativo sobre a economia do que uma fase mais alongada de falta de chuvas.
Três vezes mais
Esses impactos têm sido dramaticamente negativos, minando as bases do crescimento econômico no País e limitando o avanço da atividade econômica. Num exercício publicado em 16 de janeiro deste ano no Blog do Ibre, Borges observa que o “déficit crônico de chuvas”, na média de 2012 a 2023, “teria gerado um impacto negativo de 1,7 pontos percentuais ao ano sobre a taxa de variação do PIB brasileiro”. Considerando-se que a taxa média de crescimento potencial da economia naquele período teria sido de apenas 1,0% ao ano, segundo estimativas do economista, pode-se inferir, por conta e risco desta coluna, que o PIB poderia ter avançado a uma taxa média de 2,7% ao ano, caso as chuvas tivessem seguido tendência normal – uma velocidade quase três vezes maior. Borges assinala que a atividade econômica de fato poderia ter crescido mais, sem gerar pressões inflacionárias, já que chuvas em níveis normais teriam favorecido uma melhora na chamada “Produtividade Total dos Fatores (PTF)”, quer dizer, na eficiência da economia no uso do capital e da força de trabalho disponíveis. “O Brasil está passando por uma estiagem crônica e severa desde 2012”, anota ainda o economista.
Balanço