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sábado, 23 de novembro de 2024
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Gastança com juros explica 95% da alta do rombo em oito meses

A farra de gastos com juros, numa gastança desenfreada, explica quase integralmente o crescimento do rombo no setor público

A farra de gastos com juros, numa gastança desenfreada, para replicar a retórica preferida do “esquadrão austericida” que domina o pensamento econômico e a imprensa em geral, explica quase integralmente o crescimento do rombo no setor público, quando o resultado fiscal é tomado em seu conceito nominal – ou seja, incluindo os juros, a classe de despesas solenemente ignorada pelo discurso da austeridade a todo custo. Conforme já registrado neste mesmo espaço (O Hoje, 03.09.2024), a maior contribuição para o avanço dos gastos com juros veio do próprio Banco Central (BC).

As estatísticas utilizadas nos próximos parágrafos foram integralmente retiradas da nota à imprensa sobre a política fiscal, produzida pelo mesmo BC e publicada ontem pela instituição. No acumulado entre janeiro e agosto, o déficit nominal do setor público brasileiro, incluindo o governo central, governos regionais e estatais (com exceção de Petrobrás e Eletrobrás), experimentou um salto de 26,35% entre o ano passado, quando o rombo havia alcançado R$ 546,167 bilhões, algo em torno de 7,67% do Produto Interno Bruto (PIB), para R$ 690,078 bilhões em igual intervalo deste ano, atingindo 9,09% do PIB. Nessa comparação, o rombo registrou um acréscimo de R$ 143,911 bilhões (ou quase 1,90% do PIB).

Tomando todas as esferas da área pública, os juros passaram a consumir R$ 603,856 bilhões nos primeiros oito meses deste ano, crescendo 29,26% em relação a despesas de R$ 467,158 bilhões entre janeiro e agosto do ano passado. Em relação ao PIB, a despesa com juros havia representado 6,56% do PIB no ano passado e avançou para 7,95%. A comparação entre aqueles valores mostra uma variação absoluta de R$ 136,698 bilhões (em torno de 1,80% do PIB). Essa despesa acrescida à conta dos juros, como se percebe, correspondeu a 94,99% do aumento registrado pelo déficit nominal.

A gastança real

Os dados oficiais, produzidos pelo próprio Banco Central, como vale sempre reforçar, desautorizam a retórica austericida, já que demonstram que o aumento do déficit teve muito pouco a ver com a tal “gastança” que teria sido promovida pelo governo. A “matemágica” do “esquadrão austericida” especializou-se por jogar sob o tapete do debate econômico a gastança dos juros, variável frequentemente ignorada pelo segmento. O escândalo armado pela ofensiva ultraliberal e conservadora centra-se num incremento de R$ 600,705 milhões registrado pelo resultado primário do governo central. Essa variação representou menos de 0,01% do PIB acumulado entre janeiro e agosto, algo próximo de R$ 7,591 trilhões na estimativa do BC. Para comparar mais uma vez, a gastança com juros no governo central representou um aumento, proporcionalmente ao PIB, duzentas e trinta e quatro vezes maior. Só para ficar claro: 234,2 vezes mais. Mas isso não gera manchetes e nem escandaliza como os gastos com programas sociais e setores de fato essenciais, como saúde e educação.

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