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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Gasto das famílias com juros cresce 9,4% e se aproxima de R$ 210,6 bi

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 5 de setembro de 2025
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A perda de dinamismo da atividade econômica, conforme atestam as
estatísticas mais recentes de organismos públicos e independentes, está
nitidamente associada também a uma perda de ritmo na renda bruta
disponível das famílias, com efeitos agravados pelo crescimento das
despesas com o pagamento de juros e amortizações sobre a dívida
contratada no sistema financeiro nacional, incluindo crédito habitacional.
Segundo dados do Banco Central (BC), as famílias tiveram que destinar
uma fatia equivalente a 27,6% de sua renda bruta disponível para fazer
frente aos juros e amortizações cobradas por bancos em junho deste ano,
financeiras e outras instituições de crédito em junho deste ano, frente a
26,3% no mesmo mês do ano passado, um avanço de praticamente 1,3
pontos percentuais.
O nível de comprometimento da renda tem se mantido em percentuais
historicamente muito elevados quando comparado a uma taxa média de
23,5% registrada entre março de 2011, quando se inicia a série histórica do
BC, e dezembro de 2019. A relação entrou em alta, não por coincidência,
durante a fase mais recente de alta dos juros básicos, o que contribuiu para
encarecer o crédito em todos os segmentos do mercado, afetando mesmo as
linhas com recursos direcionados, em geral contratados a juros mais baixos,
a exemplo do crédito rural, dos empréstimos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do crédito habitacional.
Aquelas taxas foram ajustadas para reduzir a distância relativa em relação
aos juros cobrados no chamado “crédito livre”, assim classificado por
supostamente estar sujeito unicamente à “livre negociação” entre
instituições financeiras e tomadores de crédito.
O comprometimento de renda registrado mais recentemente pelo BC
continua muito próximo de seus níveis mais elevados na série histórica,
com o recorde de 27,9% alcançado em maio de 2023. As taxas de juros
cobradas em média das pessoas físicas chegaram a baixar de 37,3%
naquele mesmo mês para 32,2% em agosto do ano passado, avançando
novamente para 36,5% em maio deste ano e oscilando ligeiramente para
baixo nos dois meses seguintes, fechando em 35,6% ao ano em julho
último, ou seja, três pontos e meio acima da taxa de 32,4% registrada em
julho do ano passado.

Metodologia
O BC constrói suas estimativas considerando o gasto das famílias com
juros e amortizações, ou seja, as “prestações” pagas juntamente com as
demais despesas financeiras relacionadas ao empréstimo contratado, em
relação à renda disponível bruta trimestral, em valores “deflacionados”
(quer dizer, descontada a inflação) e ajustados sazonalmente, o que
significa desconsiderar feriados e outros eventos que ocorrem na mesma
época todos os anos. Entre junho do ano passado e junho deste ano,
conforme já mencionado, o nível de comprometimento avançou de 26,3%
para 27,6%, ao mesmo tempo em que a renda variou de R$ 731,920 bilhões
para R$ 751,920 bilhões nos trimestres encerrados em junho de 2024 e no
mesmo mês deste ano, o que correspondeu a uma variação de 4,23%.
Balanço
 A combinação daqueles dados permite estimar qual o valor
desembolsado pelas famílias, em números aproximados. Esse cálculo
mostra, por exemplo, que a despesa com juros cresceu mais de duas
vezes acima da variação computada pelo BC para a renda das
famílias, com redução proporcional para o total dos recursos
disponíveis para bancar outros tipos de gastos, o que pode ser parte
da explicação para o desaquecimento experimentado pelo consumo
das famílias na primeira metade do ano.
 Assim, os juros comprometeram em torno de R$ 210,57 bilhões no
trimestre móvel encerrado em junho deste ano, o que se compara
com pouco menos de R$ 192,50 bilhões no segundo trimestre do ano
passado. Na comparação entre os dois períodos, essa despesa
registrou aumento real de 9,4% em grandes números o que se
compara, apenas para reforçar, com uma variação real de 4,23%
anotada para a renda bruta disponível.
 Adicionalmente, a renda passou a anotar variação menos intensa
neste ano. Na comparação entre os trimestres finalizados em junho
de 2023 e idêntico mês de 2024, a renda bruta havia crescido 7,23%
já descontada a inflação e fatores sazonais, diante de uma variação
de apenas 1,8% para as despesas com juros. Naquele período, o
percentual da renda comprometido pelo pagamento de juros e
amortizações havia recuado de 27,7% para 26,3%.
 A combinação não poderia ser mais negativa para as famílias, em
particular, e para o conjunto da atividade econômica no geral, com
notório desaquecimento da renda e aceleração nos gastos causados
pela alta dos juros. O menor crescimento da renda bruta está, por sua
vez, relacionado à menor velocidade de avanço do rendimento dos
trabalhos (ainda que o emprego tenha continuado seu avanço e o

desemprego tenha baixado para seu menor nível desde que a
pesquisa começou a ser realizada no formato atual, em 2012).
 Como se sabe, o conceito de renda nacional disponível desenvolvido
pelo BC inclui os salários pagos aos trabalhadores, dividendos e
outras rendas recebidas por donos de empresas, rendimentos de
aluguéis, juros e demais rendimentos de aplicações financeiras,
aposentadorias, pensões e benefícios do sistema nacional de
assistência social, como os benefícios de prestação continuada, renda
mensal vitalícia e Bolsa Família, além de transferências eventuais de
renda, a exemplo do auxílio emergencial pago em 2020 e em parte de
2021. Depois de somar todos aqueles valores, o BC desconta os
valores pagos pelas famílias a título de imposto de renda e impostos
sobre o patrimônio (como IPTU e ITR), as contribuições para a
Previdência e transferências de renda feitas pelas famílias para outras
instituições e para fora do Brasil.
 No caso da massa salarial real, que corresponde à soma de todos os
rendimentos recebidos pelos trabalhadores, descontada a inflação, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNADC)
havia registrado variação de 9,11% em termos reais na saída do
segundo trimestre de 2023 para igual período do ano seguinte, saindo
de R$ 303,813 bilhões para R$ 351,190 bilhões. Neste ano,
considerando os dados de igual trimestre, a variação ficou limitada a
5,94%, com a massa salarial atingindo R$ 351,190 bilhões.
 As transferências de renda do governo federal por meio de
pagamentos de aposentadorias e pensões, benefícios de prestação
continuada (a exemplo da renda mensal vitalícia) e do Bolsa Família,
que haviam crescido 13,79% no segundo trimestre do ano passado,
em comparação ao mesmo período de 2023, passaram a avançar
6,36% no segundo trimestre deste ano, diante dos mesmos três meses
de 2024, em valores nominais.

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