Gastos com juros crescem 28%, com salto de 49% para empresas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de setembro de 2021
Business finance man calculating budget numbers, Invoices and financial adviser working.

O novo ciclo de aumento nas taxas básicas de juros, iniciado em março pelo Banco Central (BC), já afeta o lado real da economia, tornando mais salgada ainda a conta de empréstimos e financiamentos contratados por empresas e famílias. No chamado segmento de recursos livres no setor financeiro, os juros saíram de 25,5% em dezembro do ano passado para 29,9% ao ano em agosto deste ano, numa elevação de 4,4 pontos de porcentagem. Em igual período, a taxa básica havia avançado de 2,0% para 5,25%, correspondendo a um aumento de 3,25 pontos.

Os juros cobrados pelos bancos das empresas experimentaram incremento proporcionalmente mais acelerado, avançando de 11,6% para 16,2% (ou seja, 4,6 pontos adicionais). Nas operações destinadas a pessoas físicas, os bancos passaram a cobrar juros médios de 40,9% em agosto deste ano, taxa que se compara com 37,2% em dezembro do ano passado, marcando elevação de 3,7 pontos. Ao longo do ano passado, quando a chamada taxa Selic (os juros básicos fixados pelo BC) experimentou seu nível mais baixo em toda a série histórica, os bancos chegaram a maneirar na cobrança de juros, que haviam atingido 34,1% em fevereiro, antes da pandemia. Até dezembro, registrou-se baixa de 8,6 pontos de porcentagem.

A mudança de tendência, colocada em prática desde o começo da segunda quinzena de março, encareceu o crédito para pessoas jurídicas e físicas e tem causado um aumento nas despesas financeiras. Numa estimativa elaborada pela coluna com base nos dados brutos do BC sugere que os gastos com juros, de forma geral, teriam subido em torno de 28,0% desde dezembro de 2020. Uma parte desse aumento esteve relacionada com o próprio crescimento no total das operações de crédito, mas a parcela maior foi de fato causada pela alta nas taxas de juros.

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Despesa salgada

O saldo total das operações de crédito, contratadas com recursos de livre destinação pelos bancos, registrou elevação de 9,2% entre o último mês do ano passado e agosto deste ano, evoluindo de R$ 2,323 trilhões para R$ 2,536 trilhões, num avanço de R$ 212,5 bilhões. Considerando uma taxa média de 25,5% cobrados pelo setor em dezembro, a valor atribuído aos juros teria alcançado qualquer coisa ao redor de R$ 592,4 bilhões, em grandes números. O estoque de crédito cresceu e os juros aumentaram desde então, fazendo a despesa com juros atingir praticamente R$ 758,2 bilhões em agosto (sempre projetando a manutenção dos juros, que bateram em 29,9% no mês de agosto, para os 12 meses seguintes), numa variação de 28,0%. Descontada a variação do saldo das operações de empréstimos e financiamentos, a correção operada pelos bancos no custo do dinheiro que emprestam a firmas e a pessoas físicas respondeu por uma fatia muito próxima de 61,7% da alta nos desembolsos destinados a fazer frente ao pagamento de juros.

Balanço

  • O peso para as empresas tem sido mais relevante, refletido em um salto de 49,4% nas despesas com juros. Esses gastos teriam subido de R$ 126,6 bilhões para R$ 189,1 bilhões, refletindo as taxas mais salgadas e também a elevação de 7,0% no saldo do crédito destinado ao setor. As famílias pagaram mais juros, em valores absolutos, já que o saldo das operações de crédito e as taxas cobradas são mais elevados do que aqueles registrados pelas pessoas jurídicas.
  • Considerando o saldo do crédito para pessoas físicas em dezembro e os juros então praticados, as famílias teriam que pagar R$ 458,3 bilhões a título de juros pelos 12 meses seguintes. Em agosto, a despesa a ser enfrentada ao longo de um ano subiria para R$ 559,7 bilhões, variando 22,1%. O estoque do crédito para este segmento do mercado, no entanto, variou 11,1%.
  • Os novos empréstimos e financiamentos contratados pelas famílias, ainda no segmento de recursos livres, experimentaram alta de 29,7% entre o trimestre encerrado em agosto do ano passado e o mesmo intervalo deste ano, quando as concessões de crédito passaram de R$ 444,983 bilhões para R$ 577,334 bilhões. Numa tendência que pode vir a gerar complicações adiante, esse aumento deu-se especialmente nas linhas de crédito mais caras (quer dizer, que cobram juros mais altos) e onde as taxas de inadimplência em geral são mais altas.
  • Incluindo o cartão de crédito rotativo e parcelado, o valor das concessões atingiu R$ 646,433 bilhões no acumulado entre junho e agosto deste ano, crescendo 30,4% frente aos mesmos três meses do ano passado, quando haviam somado R$ 495,672 bilhões. O chamado crédito rotativo, que inclui o cheque especial e o crédito rotativo nos cartões de crédito, assim como as compras à vista também no cartão de crédito, responderam por quase 70% desse aumento, representando mais de dois terços do total das concessões.
  • O crédito rotativo avançou de R$ 316,024 bilhões para R$ 418,007 bilhões, com sua participação evoluindo de 63,8% para 67,7% em grandes números.
  • As concessões para o cheque especial avançaram a um ritmo um pouco menor, mas igualmente intenso, com os valores saindo de R$ 69,760 bilhões para R$ 86,135 bilhões entre aqueles dois trimestres, numa variação nominal de 23,47%. Os recursos para a composição de dívidas (quer dizer, para a renegociação de débitos em atraso com os bancos) encolheram 26,0%, de R$ 16,161 bilhões para R$ 11,961 bilhões. No momento de maior restrição à circulação de pessoas, entre março e maio do ano passado, esse tipo de operação havia exigido desembolsos de R$ 23,981 bilhões.
  • Os juros do crédito rotativo e parcelado no cartão saltaram de 309,9% para 336,1% e de 137,8% para 163,7% ao ano entre agosto de 2020 e igual mês deste ano, respectivamente. No cheque especial, as taxas subiram de 112,2% para 124,9% – absurdos que não se justificam diante de taxas de inadimplência ainda bastante moderadas, seguindo em torno de 3,0% do saldo total do crédito em agosto deste ano, frente a 3,3% no mesmo mês de 2020.