Gastos com juros externos saltaram 118% em junho, para US$ 2,3 bilhões

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de julho de 2023

O pagamento de juros por empresas multinacionais e grupos nacionais a suas filiais e coligadas fora do Brasil contribuiu para que os gastos do País nesta área experimentassem um salto de 117,7% em junho deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Os desembolsos líquidos, descontadas as receitas recebidas na conta de juros, avançaram de US$ 1,068 bilhão para US$ 2,325 bilhões e praticamente dois terços do avanço registrado pelo Banco Central (BC) tiveram como origem as remessas de juros direcionadas a empresas associadas ou controladas por companhias com negócios aqui dentro, resultado de operações realizadas entre as duas partes ao longo do tempo.

Segundo dados do BC, as empresas de capital multinacional e brasileiro remeteram a suas similares lá fora em torno de US$ 1,485 bilhão apenas em junho, diante de US$ 711,501 milhões em igual período de 2022, correspondendo a um crescimento de 108,7%, ou seja, US$ 773,575 milhões a mais – o que correspondeu, por sua vez, a 61,54% da variação de US$ 1,275 bilhão registrada pelas despesas totais com juros externos na mesma comparação.

No primeiro semestre, as remessas totais de juros cresceram 35,05% na comparação entre 2023 e 2022, elevando-se de US$ 9,153 bilhões para US$ 12,361 bilhões, em alta de US$ 3,208 bilhões. Desse acréscimo, perto de US$ 1,627 bilhão (ou 50,72%) vieram do aumento nas remessas entre companhias. Os juros pagos pelas empresas a subsidiárias e filiais no exterior saíram de US$ 5,283 bilhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 6,910 bilhões nos seis meses iniciais deste ano, correspondendo a uma variação de 30,80%. Variações nesse montante sempre fazem ressurgir suspeitas segunda as quais esse tipo de transação estaria sendo utilizada para encobrir remessas de lucros para fora do País, evitando o pagamento de impostos.

Continua após a publicidade

Lucros e dividendos

De toda forma, com o fechamento de balanços em mercados mais relevantes no exterior, as remessas líquidas de lucros e dividendos também entraram em disparada em junho, crescendo 66,71% frente a igual período de 2022. A conta subiu de US$ 2,304 bilhões para US$ 3,841 bilhões, correspondendo a um acréscimo de US$ 1,537 bilhão. No semestre, a despesas líquida com lucros e dividendos, quer dizer, descontando os dólares que entraram no País por conta de lucros remetidos para cá por empresas que atuam em outros países, registrou variação de 14,92%, passando de US$ 19,916 bilhões para US$ 22,888 bilhões (em torno de US$ 2,972 bilhões adicionais, dos quais 51,72% registrados apenas em junho, o que corrobora a probabilidade de que esses recursos foram remetidos para reforçar os resultados de balanço daquelas empresas sediadas no exterior).

Balanço

  • Juros, lucros e dividendos ajudaram a engrossar o déficit na conta de renda primária, que contabiliza a saída e a entrada de rendimentos gerados por investimentos diretos, destinados à ampliação e também para a compra de empresas já instaladas em seus mercados, assim como a renda de aplicações financeiras e no mercado de capitais (compra e venda de títulos públicos e privados e de ações).
  • O déficit na renda primária aumentou nada menos do que 83,47% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, avançando de US$ 3,358 bilhões para US$ 6,161 bilhões – US$ 2,803 bilhões a mais. A variação no mês explicou 45,77% do incremento registrado pelo déficit neste setor em todo o semestre. A renda primária havia registrado déficit de US$ 29,034 bilhões entre janeiro e junho de 2022, passando a acumular um rombo de US$ 35,158 bilhões na primeira metade deste ano, numa elevação de US$ 6,124 bilhões. Mais da metade desse incremento pode ser atribuído ao aumento nas despesas líquidas com juros.
  • A piora nessa conta superou o ganho adicional trazido pelo crescimento do superávit comercial de bens (exportações menos importações), ajudando a mudar o sinal positivo que a conta de transações correntes havia apresentado em junho do ano passado. O resultado da conta de transações correntes, que consolida todas as transações do Brasil com o resto do mundo, havia anotado superávit de US$ 265,930 milhões em junho de 2022. No mesmo mês deste ano, as saídas de dólares passaram a superar as entradas em US$ 843,039 milhões, numa reviravolta equivalente a US$ 1,109 bilhão, em valores aproximados.
  • A mudança de sinais em um único mês não configura uma tendência, além de não afetar a solidez das contas externas brasileiras – especialmente quando são consideradas reservas internacionais num valor de US$ 343,620 bilhões, suficientes para pagar toda a dívida externa, que chegou a US$ 334,446 bilhões no dado de junho deste ano.
  • Mesmo porque, o déficit em transações correntes foi reduzido em pouco mais de um terço no primeiro semestre, caindo de US$ 20,833 bilhões para US$ 13,803 bilhões, numa baixa de 33,74% (US$ 7,030 bilhões de redução). Ainda no primeiro semestre, a queda no saldo negativo pode ser explicada principalmente pelo aumento de 46,47% no superávit comercial de bens, com o saldo saindo de US$ 25,823 bilhões para US$ 37,823 bilhões (US$ 12,0 bilhões a mais). O lado negativo nesta área é que o crescimento do saldo positivo refletiu muito mais a queda de 6,42% nas importações, que recuaram de US$ 139,914 bilhões para US$ 130,925 bilhões (US$ 8,989 bilhões a menos). As exportações, por sua vez, avançaram apenas 1,82%, de US$ 165,738 bilhões para US$ 168,748 bilhões (US$ 3,010 bilhões a mais).