Quinta-feira, 28 de março de 2024

Gastos dobram e dependência do diesel importado volta a crescer

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de maio de 2022

As despesas com a importação de diesel mais do que dobraram no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), com alta também para os volumes desembarcados no País. O avanço vigoroso das importações alterou a relação entre importações e consumo doméstico e, como consequência, a dependência em relação ao combustível produzido no exterior voltou a crescer num momento ainda de volatilidade e alta nos preços internacionais do petróleo, gerando insegurança e incertezas aqui dentro em relação ao comportamento dos preços domésticos do diesel num país que depende largamente de caminhões para movimentar cargas.

Nos primeiros três meses deste ano, enquanto as vendas domésticas de óleo diesel variaram 3,6% frente ao mesmo período do ano passado, saindo de 14,461 bilhões para 14,987 bilhões de litros, as importações avançaram 31,4% em igual intervalo, passando de 2,396 bilhões para 3,149 bilhões de litros. Proporcionalmente, os volumes importados passaram a corresponder a algo em torno de 21,0% do diesel total vendido aqui dentro no primeiro trimestre de 2022, diante de uma participação de 16,6% no mesmo trimestre de 2021.

Os custos envolvidos na importação do diesel, no entanto, subiram proporcionalmente muito mais. Na verdade, os gastos com o insumo importado mais do que dobraram entre os três meses iniciais de 2021 e o mesmo trimestre deste ano, avançando de US$ 953,534 milhões para quase US$ 2,020 bilhões, impulsionados pelo aumento de 41,9% nos custos médios do petróleo importado, que subiram de US$ 375 para US$ 532 a cada mil litros. Aqui dentro, com a política de alinhamento automático dos preços domésticos às cotações no mercado internacional, o diesel acumulou alta de 53,58% nos 12 meses encerrados em abril deste ano, subindo 23,88% apenas nos quatro primeiros meses de 2022.

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Desmonte

Num horizonte um pouco mais longo, o aumento da dependência parece relacionado não apenas aos aumentos mais recentes nos custos do petróleo e de seus derivados no mercado global, mas principalmente a uma queda na produção doméstica de diesel, relacionada à desestruturação do setor de refino e aos “desinvestimentos” feitos pela Petrobrás nesta área, incluindo a venda de refinarias e corte de investimentos. A produção atingiu seu maior volume na série histórica da ANP em 2014, somando 49,675 bilhões de litros, e foi reduzida para 42,853 bilhões de litros no ano passado, num recuo de 13,7%.

Balanço

  • A produção realizada em 2014 havia representado perto de 82,7% do consumo, que somava à época 60,031 bilhões de litros, com essa relação baixando para apenas 69,0% no ano passado, quando as vendas alcançaram 62,112 bilhões de litros. O consumo, portanto, registrou variação de apenas 3,5% em sete anos, variação modesta diante da escalada das importações, especialmente porque os preços médios do petróleo importado sofreram tombo de 38,2% entre 2014 e 2021, caindo de US$ 694 para US$ 429 por metro cúbico.
  • Na comparação entre 2021 e 2020, os volumes importados haviam anotado elevação de 20,4%, de 11,995 bilhões para 14,437 bilhões de litros, frente a uma variação de 8,1% nas vendas domésticas, limitadas a 57,472 bilhões de litros por conta da pandemia em 2020 e elevando-se até 62,112 bilhões de litros no ano seguinte.
  • O salto nos preços ajudou a turbinar a despesa com o óleo importado, que subiu de US$ 4,027 bilhões para US$ 7,071 bilhões, num aumento de 75,6%. Em volumes, a relação entre importações e vendas internas avançou de 20,9% para 23,2%, frente a 14,3% em 2012 e apenas 7,9% em 2009. A produção de diesel anotou variação de apenas 1,51% na saída de 2020 para 2021, o que significou sair de 42,215 bilhões para 42,853 bilhões de litros.
  • A economia nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) registrou sensível desaceleração no primeiro trimestre deste ano, segundo dados ainda preliminares. De acordo com a instituição, depois de avançar 1,2% no quarto trimestre de 2021, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, em bases já ajustadas sazonalmente, o Produto Interno Bruto (PIB) daqueles países variou apenas 0,1% frente ao último trimestre do ano passado.
  • Entre os sete países mais desenvolvidos (que formam o G7), o PIB saiu de um avanço de 1,2% para recuo de 0,1% em parte por conta do retrocesso de 0,4% sofrido pelo PIB dos Estados Unidos e ainda pelo recuo de 0,2% registrado tanto na Itália quanto no Japão, com crescimento zero na França e variação de apenas 0,2% na Alemanha (saindo de 0,3% no quarto trimestre de 2021).
  • A OCDE atribui o desaquecimento relativo à queda nas exportações líquidas (vendas externas menos importações), relacionada parcialmente aos desarranjos gerados pela pandemia nas cadeias globais de suprimento de insumos e matérias primas.
  • Aqui dentro, depois de desacelerar entre a terceira quadrissemana de abril e a segunda quadrissemana de maio, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), atingiu 0,44% nas quatro semanas finalizadas no dia 22 deste mês, saindo de 0,41% na medição anterior (encerrada em 15 de maio). O efeito da redução da tarifa de energia começa a se desfazer, embora seu impacto mantenha-se em terreno negativo, ao mesmo tempo em que os custos do vestuário e dos transportes pressionaram um pouco mais.