Importação mais cara reduz poder de compra das empresas goianas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de novembro de 2022

Os recordes acumulados neste ano pelas exportações e importações em Goiás vieram sobretudo das vendas ao exterior do complexo soja e das compras de adubos e fertilizantes, impulsionadas por sua vez pela escalada dos preços notadamente após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Além de uma concentração historicamente excessiva das vendas externas em commodities, os números oficiais, disponíveis no site do Ministério da Economia, mostram nitidamente que os preços médios dos produtos exportados pelo Estado entraram em baixa desde agosto e as perdas foram ampliadas nos meses seguintes, afetando os termos de troca negativamente (a relação entre preços médios de bens e mercadorias exportados frente aos valores pagos na importação).

Essa deterioração obrigou a economia estadual a realizar um esforço adicional para conseguir manter em crescimento as receitas de exportação, com as empresas passando a gastar ainda mais na importação, em termos proporcionais. Na prática, isso significa que o Estado passou a transferir renda para fora do País em escala maior, já que tem pago muito mais para importar bens necessários ao funcionamento de sua indústria do que aquilo que recebe por unidade exportada.

Entre janeiro e outubro deste ano, as empresas instaladas em Goiás realizaram exportações de US$ 12,206 bilhões, quebrando mais um recorde na série histórica. Na comparação com os primeiros dez meses do ano passado, quando o Estado havia exportado US$ 7,980 bilhões em valores aproximados, registrou-se um incremento de 52,95%. O avanço veio pelo efeito combinado de um aumento nos volumes embarcados e da elevação nos preços médios de exportação. Mas, ao contrário do que ocorreu até o início do segundo semestre, o impacto foi maior por conta do crescimento dos volumes, que subiram 36,06%, saindo de 11,658 milhões para 15,862 milhões de toneladas (4,204 milhões de toneladas a mais).

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Preços em baixa

Os preços médios avançaram 12,41% na mesma comparação. No primeiro semestre, a elevação havia sido de 26,8%. A evolução mês a mês confirma a perda de fôlego e a mudança de sinais desde agosto. Considerando os preços médios por tonelada exportada, os números oficiais mostram em junho uma alta de 24,55% em relação ao mesmo mês de 2021, com a alta limitando-se a 8,56% em julho. Em agosto, setembro e outubro, a queda agravou-se sequencialmente, com baixas respectivamente de 8,83%, de 18,96% e de 22,29% em relação aos mesmos meses do ano passado. O comportamento reflete a mudança de direção nas cotações das principais commodities (grãos e minérios) no mercado internacional.

Balanço

  • No lado das importações, os valores gastos com a compra de bens e mercadorias lá fora experimentaram alta de 19,82% entre os dez meses iniciais de 2021 e igual período deste ano, saindo de US$ 4,353 bilhões para aproximadamente US$ 5,216 bilhões, numa elevação de US$ 862,550 milhões.
  • Os volumes importados recuaram ligeiramente de 3,494 milhões para quase 3,435 milhões de toneladas, ou seja, baixaram em alguma coisa ao redor de 59,731 mil toneladas. A variação não parece tão relevante, mas sugere alguma debilidade da atividade econômica aqui dentro, já que os valores das compras subiram exclusivamente por efeito dos preços mais elevados pagos pelas empresas no exterior.
  • De fato, os preços médios registraram elevação de 21,90% na média de cada tonelada importada, sempre na comparação entre os primeiros dez meses deste ano e idêntico intervalo do ano passado. Os preços médios das importações passaram a superar em 97,34% o valor médio recebido pelas empresas a cada tonelada vendida lá fora. No ano passado, essa diferença foi relativamente menos expressiva, chegando a 81,97% – ainda assim, uma defasagem enorme.
  • Em grande parte, essa discrepância guarda relação direta com a extrema dependência das exportações de produtos básicos, com valor agregado muito reduzido, diante da predominância de mercadorias de baixíssimo nível tecnológico. No lado inverso, as importações incorporam bens de maior valor agregado, a exemplo de produtos farmacêuticos, veículos, suas partes e acessórios, adubos e máquinas.
  • A análise dos dados desagregados nas importações indica que o crescimento relativamente menor frente ao desempenho das exportações deveu-se em grande medida à queda vertical nos gastos do Estado com a importação de energia elétrica, o que havia pressionado mais fortemente as compras externas no ano passado, quando o sistema integrado de geração havia enfrentado níveis históricos de baixa nos reservatórios.
  • A importação de energia despencou de US$ 796,201 milhões para US$ 169,026 milhões, num tombo de 78,77% (menos US$ 627,175 milhões). Para todo o restante das importações, os números anotam elevação de 41,88% em valor, saindo de US$ 3,557 bilhões entre janeiro e outubro de 2021 para pouco mais de US$ 5,046 bilhões no mesmo período deste ano (US$ 1,490 bilhão a mais). Detalhe: por definição, como não se pode “medir” as importações de energia em toneladas, a queda observada no volume importado em toneladas continua a prevalecer como tendência mais geral, sob influência possivelmente de alguma acomodação na demanda estadual.
  • Mesmo assim, todo o crescimento das compras externas em dólares, descontada a energia elétrica, ficou concentrado em quatro grupos, a saber, adubos e fertilizantes, produtos farmacêuticos, veículos, tratores, suas partes e acessórios e caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos. Somadas, as compras naqueles setores subiram de US$ 2,232 bilhões para US$ 3,756 bilhões, num salto de 68,28%. A participação daqueles quatro itens nas importações totais do Estado avançou de 51,28% para 72,02%.