Coluna

Incluindo pessoas que saíram do mercado, taxa de desemprego aproxima-se de 14%

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 01 de maio de 2020

As
primeiras vítimas da crise sanitária no mercado de trabalho começaram a tombar
e os efeitos, como já se esperava, colhem principalmente as fatias menos
desprotegidas e vulneráveis, atingindo trabalhadores sem carteira assinada e
aqueles chamados equivocadamente de “empreendedores”, que haviam decidido
defender a sobrevivência fazendo bicos, montando banquinhas e barraquinhas nas
calçadas das grandes cidades. Os números do desemprego anunciados ontem pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram um salto de
10,5% no total de pessoas sem ocupação desde o final de 2019, elevando a taxa
de desocupação de 11,0% para 12,7% entre o quarto trimestre do ano passado e o
primeiro deste ano.

Mas
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNADC) apresenta números
já preocupantes e antecipa piora nesta área, porque
capturam os impactos das medidas de isolamento social apenas nas duas semanas
finais de março. Deve-se registrar, no entanto, que a pesquisa já mostrava
redução no total de pessoas empregadas e certo avanço no desemprego nos
primeiros meses deste ano, situação agravada pelo curto da coronavírus, causada
pelo Sars-CoV-2. Os acontecimentos desde então sugerem uma deterioração severa
do mercado de trabalho, a ser anotado nos próximos levantamentos do IBGE.

O
aperto decorrente da súbita paralisação da economia já havia levado, até
ali,1,851 milhão de pessoas a deixarem o mercado de trabalho e a desistirem da
busca de alguma colocação na passagem do trimestre final de 2019 para o
primeiro deste ano. O total de pessoas fora da força de trabalho, que reúne
ocupados e desocupados (classificação que inclui, por sua vez, apenas aquelas
pessoas que ainda procuravam emprego na semana da pesquisa), aumentou de 65,429
milhões para 67,281 milhões, em alta de 2,8% – número recorde em toda a série
da PNADC, iniciada em 2012. A desistência desses trabalhadores, de todo modo,
terminou por mascarar a real situação do desemprego no País.

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Fora do mercado

Na
comparação com o primeiro trimestre de 2019, o número de pessoas fora do
mercado aumentou 3,1%, com acréscimo de 2,031 milhões de trabalhadores. Esses
dados sugerem que a taxa de desocupação registrada no primeiro trimestre
poderia, na verdade, ser muito mais elevada, se computadas as pessoas que
desistiram de procurar emprego. Na média do ano passado, o total de
trabalhadores fora do mercado somou em torno de 65,1 milhões, ou seja, perto de
2,21 milhões a menos do que o dado do primeiro trimestre. Somado esse
contingente ao número de desocupados encontrados pela pesquisa no trimestre
encerrado em março, o número de pessoas sem colocação subiria para alguma coisa
além de 15,0 milhões, perto de 17% superior ao total registrado pela PNADC para
o período, refletindo uma taxa de desemprego levemente acima de 14%.

Balanço

·  
Também
como esperado, o emprego vem degringolando. O número total de pessoas ocupadas
sofreu baixa de 2,5% entre dezembro e março (sempre considerando os respectivos
trimestres finalizados naqueles meses), caindo de 94,552 milhões para 92,223
milhões de pessoas. Mais precisamente, em torno de 2,329 milhões de
trabalhadores perderam o emprego ou a ocupação.

·  
Desse
total, perto de 1,990 milhão não tinham carteira assinada e nem registro no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). Quer dizer, eram ambulantes
trabalhando por conta própria ou “empregadores” sem CNPJ. Esse contingente
respondeu por 85,4% da queda no total de ocupações naquele intervalo.

·  
Somando
o número de empregados sem carteira no setor privado, empregos domésticos sem
registro e trabalhadores do setor público igualmente sem carteira, esse número
decresceu de 18,938 milhões de pessoas no último trimestre de 2019 para 17,696
milhões no primeiro deste ano, em baixa de 6,6% (ou seja, 1,242 milhão de
pessoas a menos).

·  
Aqueles
sem CNPJ, por sua vez, sofreram queda de 3,7% (748,0 mil a menos), saindo de
20,262 milhões para 19,514 milhões. Somados, os “sem carteira” e “sem CNPJ”
ainda respondem por 40,35% do total de ocupados, o que ainda supera a fatia dos
empregados com carteira (em torno de 39,0%).

·  
A
maior parcela dessas “vítimas” estava no comércio, no setor de reparação de
veículos e motos e nos serviços de forma geral. Esses segmentos da economia foram
responsáveis por 91,3 a cada 100 ocupações fechadas desde o final do ano
passado. O setor de comércio e as oficinas de reparação de veículos fecharam
628,0 mil vagas (queda de 3,5% frente a dezembro), que recuaram de 18,009
milhões para 17,381 milhões, em queda de 3,5%.

·  
Os
serviços em geral, que empregavam 67,210 milhões de pessoas até dezembro
passado, reduziram esse número em 2,2%, para 65,712 milhões (quer dizer, 1,498
milhão a menos).

·  
Em
números desagregados por setor de atividade, a indústria demitiu 322,0 mil
pessoas no primeiro trimestre (queda de 2,6% frente a dezembro) e construção
afastou 440,0 mil trabalhadores (redução de 6,5%). Entre 10 segmentos
pesquisados, apenas os serviços de tecnologia da informação, financeiros e
imobiliários aumentaram as contratações, ainda assim modestamente (mais 0,5%,
com contratação de 55,0 mil pessoas).

·  
A
queda do emprego em ocupações de remuneração mais baixa ajudou a elevar o
rendimento real médio em 1,1% no primeiro trimestre, para R$ 2.398. Mas não
“salvou” a massa de rendimentos, que encolheu 1,3% diante do trimestre final de
2019, saindo de R$ 219,172 bilhões para R$ 216,290 bilhões. Desde o trimestre
setembro-novembro de 2019, a massa encolheu 1,4% com perdas de R$ 3,007 bilhões
para a renda das famílias.