Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Indústria acumula três trimestres sem sinais efetivos de crescimento

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 02 de novembro de 2023

Os dados disponíveis até o momento sobre o desempenho da indústria sugerem mais um ano sem crescimento para o setor, depois de fechar 2022 no vermelho, num recuo de 0,7%. Na série trimestral da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a produção industrial, o último dado positivo foi registrado no trimestre final do ano passado, mesmo assim com uma variação minúscula de 0,6% em relação a igual período do ano anterior. Dali em diante, foram três trimestres de perdas ou estagnação, resultando numa redução de 0,2% frente aos primeiros nove meses do ano passado.Sempre comparando com idênticos períodos do ano passado, a produção baixou 0,4% no primeiro trimestre deste ano, recuou 0,1% no segundo e estagnou no terceiro, mantendo o mesmo nível de igual trimestre de 2022, quando o setor havia registrado variação mísera de 0,1% diante do mesmo intervalo de 2021. Os números relativamente positivos observados em setembro não sugerem mudanças radicais na tendência esboçada pela indústria brasileira até aqui.Mesmo porque, a variação entre agosto e setembro ficou limitada a 0,1% – o que mais se aproxima de uma estabilização, especialmente quando se considera que 20 entre os 25 setores estiveram em queda na mesma comparação, correspondendo a 80% dos segmentos investigados pelo IBGE. Em meio aos cinco setores que apresentaram números positivos, somente dois experimentaram o que se poderia considerar como crescimento de fato, com altas de 5,6% para a indústria extrativa (que havia sofrido baixa de 4,2% em agosto) e de 1,5% para a fabricação de produtos químicos. Na sequência, produtos diversos, têxteis e derivados de petróleo e biocombustíveis anotaram respectivamente variações de 0,6%, 0,6% novamente e 0,5% – índices relativamente baixos para justificar algum prognóstico mais promissor.Baixa difusãoAinda segundo a pesquisa, menos de um quarto dos itens produzidos pela indústria em geral apresentaram taxas positivas em setembro, diante de uma taxa de difusão (que afere o número de itens com produção em alta) de 70,2% em agosto. A produção avançou ainda 0,6% diante de setembro do ano passado, aparentemente favorecida pela redução de 1,0% anotada naquele mês em relação a setembro de 2021. Neste caso, entre todos os itens produzidos pela indústria, perto de 38,8% estiveram em crescimento, diante de 42,8% em agosto, novamente em relação ao mesmo mês de 2022. Entre os grandes setores da economia, a indústria foi o único a não conseguir sequer retomar os níveis da produção realizada antes da pandemia, sustentando uma redução de 1,4% na comparação entre setembro deste ano e fevereiro de 2020. No mesmo intervalo, 17 setores – ou 68% do total – ainda registravam níveis de produção abaixo de fevereiro de 2020, com apenas sete superando aqueles níveis e um deles, justamente a indústria de alimentos, apenas igualando a produção realizada no mês que antecedeu a chegada da Covid-19 ao País.Balanço

  • A avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) não mostra animação diante do desempenho do setor. “Com dois terços do ano já cobertos pelas estatísticas do IBGE, pode-se dizer que a trajetória da indústria em 2023 está dividida em dois momentos: um de maior oscilação no primeiro semestre, com predomínio das quedas, e outro de virtual estagnação no segundo semestre, pelo menos por ora”.Em ambos os momentos, acrescenta o instituto, o quadro não parece “nada favorável ao necessário ciclo de investimentos para modernizar nossa indústria, inserindo-a de forma mais generalizada no processo de digitalização dos processos produtivos. Esta é uma destacada via para a obtenção de níveis superiores de produtividade e de competitividade para o setor”. Oscilando entre a estagnação e perdas em sequência, portanto, o setor industrial tenderia a se sentir desestimulado a realizar os investimentos necessários para se colocar de forma mais competitiva no mercado, aqui dentro e lá fora, agravando o risco de perder espaço de forma acelerada para seus concorrentes globais, o que aprofundaria a desindustrialização em curso.Os resultados trimestrais, prossegue o Iedi, sugerem uma indústria “sem forças, em muito exauridas pelas elevadas taxas de juros praticados no País, e sem bases de comparação favoráveis, já que a morosidade não é de agora”. Os anos de câmbio desajustado, com valorização do real frente ao dólar, favoreceram a entrada de produtos industriais importados, agravando as condições de funcionamento da indústria brasileira.Os investimentos parecem continuar em retração no terceiro trimestre deste ano, a julgar pelo desempenho menos do que sofrível da indústria de bens de capital, que fabrica máquinas, equipamentos, ferramentas e mesmo caminhos, além de instalações destinadas à produção de outros bens industriais. A queda tem se aprofundado nesta área, com a produção caindo 5,8% no primeiro trimestre e despencando 11,0% e 14,1% nos dois trimestres seguintes, encerrando os nove primeiros meses do ano numa retração de 10,4%. A tendência, na verdade, já vem de algum tempo, posto que a produção de bens de capital cai há cinco trimestres em sequência. No terceiro trimestre, a produção de bens de capital para os setores de transporte e de energia sofreram perdas mais dramáticas, com retração, na mesma ordem, de 25,4% e de 29,3%.A produção de bens intermediários, envolvendo insumos destinados igualmente à fabricação de outros itens industriais, havia sofrido baixa de 1,9% no primeiro trimestre, mas avançou 0,7% no segundo, refreando seu ritmo para uma variação de 0,4% no terceiro trimestre. O baixo desempenho entre julho e setembro deste ano esteve associado a um tombo de 16,6% nos bens intermediários destinados à indústria de indústria de veículos, contrabalançado por altas de 10,0% e de 3,1% nos intermediários destinados aos setores de alimentos e têxtil, embora este último segmento tenha reduzido sua produção em 4,8% no mesmo trimestre.O setor de bens duráveis chegou a saltar 9,0% no primeiro trimestre, desacelerando rapidamente para uma variação de 2,6% no trimestre seguinte, encerrando o terceiro trimestre em baixa de 1,1%. A produção de semi e não duráveis subiu 3,4% nos primeiros três meses do ano, entrando em estabilidade no segundo trimestre (variação de 0,1%), mas acelerou seu crescimento para 2,1% no terceiro trimestre. Para o Iedi, a melhora reflete ganhos do setor nas exportações, o crescimento do emprego e o “arrefecimento da inflação”.