Coluna Foco econômico
Indústria brasileira acumula seis anos de perdas nos últimos 10 anos
Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 04 de fevereiro de 2023A indústria brasileira perdeu quase um sexto de sua capacidade produtiva na última década, acumulando resultados negativos em seis daqueles 10 anos, com avanços eventuais apenas em 2013, 2017, 2018 e 2021. Ainda assim, foram taxas de crescimento extremamente modestas quando comparadas aos tombos registrados nos anos imediatamente anteriores, vale dizer, sem que o setor jamais conseguisse se recuperar das perdas sequenciais que sofreu e vem sofrendo. No ano passado, a produção recuou 0,7% depois de avançar 3,9% em 2021, resultado que não chegou a repor as perdas de 4,5% sofridas em 2020, como resultado da pandemia.
O crescimento de 2,1% em 2013 veio na sequência de uma queda de 2,3% em 2012. Em 2017 e 2018, a produção chegou a avançar, pela ordem, 2,5% e 1,0%, num ritmo insuficiente para recompor o parque industrial depois de tombos de 3,0%, 8,3% e 6,4% em 2014, 2015 e 2016, na fase de recessão em toda a economia. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o desempenho pífio dos últimos anos, é um claro reflexo da “ausência de vetores de dinamismo que possam restabelecer uma trajetória de retomada industrial no País”.
De fato, a indústria tem sido castigada, ao longo do tempo, por um ambiente macroeconômico marcadamente hostil, sujeita a custos de capital muito elevados em função de juros usualmente na estratosfera, baixo crescimento, câmbio apreciado na maior parte do período e ainda sujeito a fortes oscilações, agravando e tornando mais injusta a concorrência com produtos importados, entre outros fatores. O resultado dessa combinação de fatores negativos está refletido na série estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já com os devidos ajustes sazonais, a produção industrial encolheu nada menos do que 15,5% entre dezembro de 2012 e o mesmo mês de 2022, com perdas praticamente generalizadas. Considerando o nível alcançado em maio de 2011, quando o setor como um todo havia alcançado sua melhor marca histórica, o retrocesso chega a 18,5%.
Prejuízos em série
Entre os grandes setores da indústria, sempre considerando o mesmo intervalo, a indústria de bens duráveis foi a mais afetada, supostamente em função dos valores médios mais elevados de seus produtos, tornando-os mais dependentes de crédito na ponta final do consumo, e do baixo poder de compra das famílias em geral. A produção no setor desabou 32,4% em uma década e mantinha-se, em dezembro passado, 38,2% abaixo do seu melhor período, registrado em março de 2011. No ano passado, a produção de duráveis ficou 3,3% menor na comparação com 2021. Considerado como o “coração” da indústria como um todo, o setor de produção de bens intermediários (celulose e papel, produtos de plástico e borracha, produtos químicos e siderúrgicos, componentes eletroeletrônicos, petróleo e gás, entre outras matérias primas) sofreu baixa de 15,3% na década encerrada no ano passado. Desde maio de 2011, quando a produção de bens intermediários registrou seu melhor desempenho na série histórica, o setor sofreu perda de 17,8% depois de recuar 0,7% no ano passado, em relação a 2021.
Balanço
- Mais próxima do consumidor final e dominada por setores dedicados à produção de bens de consumo mais popular, a indústria de produtos semiduráveis e não duráveis reduziu sua produção em 11,6% em 10 anos, acumulando retrocesso de 13,5% desde junho de 2013, quando chegou a seu melhor resultado em toda a série do IBGE. E o ano passado foi mais um período de estagnação, com a produção do setor recuando 0,2% diante de 2021.
- Como exemplo, a indústria de alimentos anotou um retrocesso de quase 7,0% entre dezembro de 2012 e o mesmo mês do ano passado. Ainda em 2022, a produção de bens alimentícios cresceu 2,4% na comparação com um ano antes. A reação, no entanto, não levou o setor sequer a recuperar as perdas sofridas desde a pandemia. Comparada a fevereiro de 2020, a produção de alimentos ainda acumulava perda de 2,1%.
- Os números da indústria de bens de capital, por sua vez, sugerem um nível de investimento reduzido considerando o volume que seria necessário para preservar o dinamismo da economia e sua capacidade de crescimento. A produção do setor caiu praticamente 8,0% na década, mas sofreu queda mais pronunciada, precisamente de 24,8%, quando tomado o mês de abril de 2013, quando havia anotado seu melhor momento na série histórica.
- A produção de bens de capital, incluindo máquinas e equipamentos em geral, caminhões, computadores, instalações industriais e outros, também ficou 0,3% menor no ano passado, frente a 2021, quando havia experimentado salto de 27,8% (lembrando que a produção nesta área havia sofrido baixas de 0,6% e de 9,6% em 2019 e 2020).
- No ano passado, num balanço geral, nove entre 26 setores transitaram por terreno positivo, com as perdas alcançando 17 setores ou 65% dos segmentos acompanhados pelo IBGE. Em dezembro, na comparação com igual mês de 2021, pouco mais de 69% dos setores tiveram perdas e oito conseguiram registrar algum crescimento. No geral, a produção caiu 1,3%.
- Na visão do Iedi, em 2022, “muitos obstáculos conjunturais estiveram em atuação, como pressões de custo, gargalos remanescentes das cadeias, aumento das taxas de juros e encarecimento do crédito, desemprego e queda do poder de compra, além das incertezas advindas do campo político e do cenário internacional”. A despeito daqueles fatores mais pontuais, sublinha ainda o IEDI, “os problemas da indústria brasileira não vêm de agora e são muito mais profundos”.
- Ainda na análise do instituto, “as adversidades pontuais e estruturais se traduzem em uma sequência de resultados ruins que já está ficando bastante longa, comprometendo novos ciclos de investimento e modernização do parque produtivo que são essenciais para a competitividade do setor. Entre 2014 e 2022, em dois terços do tempo a indústria ficou no vermelho e os anos positivos em geral foram recuperações parciais de quedas anteriores”.