Indústria de alimentos investe, mas química enfrenta ociosidade recorde

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de julho de 2024

Dois setores relevantes da indústria enfrentam momentos conjunturalmente opostos, com retração preocupante de um lado e perdas geradas pelo avanço das importações, especialmente da China, e novos investimentos de outro, com planos de renovação e expansão do parque instalado. A indústria como um todo continua derrapando mês a mês, com a produção alternando altas e baixas, mas acumulando um avanço de 2,5% nos cinco primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mas, nos dados mensais dessazonalizados, a atividade industrial sofreu perdas em abril e maio, dado mais recente divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e recuou 1,75% entre março e maio deste ano.

As expectativas consolidadas pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) indicam que o setor pretende realizar investimentos próximos de R$ 120,0 bilhões a contar de 2023, quando já havia investido R$ 36,0 bilhões, até 2026. Da estimativa total, perto de R$ 75,0 bilhões deverão ser destinados para a ampliação e modernização das plantas industriais em operação no País, além da instalação de novas unidades. O restante, em torno de R$ 45,0 bilhões, deverá ser investido em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos, com o objetivo de atualizar o parque instalado e preparar o lançamento de novos produtos nos segmentos de bebidas e alimentos.

Projetos

Entre outros projetos, a Abia destaca o investimento de R$ 15,0 bilhões anunciado pelo grupo JBS para a expansão de sua capacidade de abate e de produção de proteína animal, “especialmente em Mato Grosso”. A Nestlé espera investir R$ 7,0 bilhões para ampliação de fábricas e também na produção de café na região de Araras, no interior de São Paulo, acrescenta a associação. O grupo BRF, controlado pela Marfrig Global Foods, que detém pouco mais de 50% das ações, aplicou R$ 5,6 bilhões também para expandir sua operação brasileira. A multinacional Coca-Cola reservou R$ 4,0 bilhões para ampliação e modernização fábricas, enquanto a concorrente Pepsico está investindo R$ 1,2 bilhão na ampliação de sua capacidade de produção. No setor agrícola, a Coamo Agroindustrial

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Cooperativa pretende investir R$ 3,5 bilhões na expansão de seus armazéns e também para o processamento de grãos. Já a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) programa R$ 3,5 bilhões para ampliar a moagem de cana e a produção de açúcar em Minas Gerais.

Balanço

  • A relação da Abia inclui ainda o investimento de R$ 2,6 bilhões da Cargill e mais R$ 2,0 bilhões confirmados pela Nutriza Alimentos Nordeste direcionados para seu frigorífico de aves em Uruçuí, no Piauí. Os moinhos de trigo da Bunge Alimentos deverão receber injeção de R$ 1,7 bilhão e a Cocamar vai destinar R$ 1,3 bilhão na ampliação da produção de soja. Ainda de acordo com a Abia, “a Mondelez dedicou R$ 1 bilhão nas fábricas de Curitiba (PR) e Vitória do Santo Antão, em Pernambuco”. Outros R$ 8,2 bilhões serão distribuídos entre uma série de projetos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
  • Os dados do IBGE mostram um avanço acumulado de 5,2% para a produção de alimentos entre janeiro e maio deste ano frente ao mesmo período do ano passado. O setor está entre aqueles que já operam em níveis superiores a fevereiro de 2020, apontando variação dessazonalizada de 2,14%. De toda forma, tem registrado perdas no curtíssimo prazo, com recuo de 0,7% em abril, na comparação com março, e nova perda em maio, quando a produção no setor sofreu baixa de 4,0% frente ao mês imediatamente anterior. Esse desempenho mais errático trouxe a produção em maio para níveis 7,74% mais baixos do que em dezembro do ano passado.
  • Num cenário crítico, na definição da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o índice de ociosidade no setor atingiu 42% em maio deste ano, um recorde histórico desde que essa estatística começou a ser divulgada, ainda em 1990. O nível de utilização das máquinas e equipamentos instalados no setor alcançou apenas 58% em maio, sete pontos percentuais abaixo dos 65% anotados no mesmo mês do ano passado e quatro pontos menor do que em abril deste ano, quando havia sido registrado um percentual de 62%.
  • Na média móvel de 12 meses, anota a Abiquim, o indicador do nível de ocupação na indústria química vem sofrendo deterioração desde janeiro de 2007, quando havia atingido quase 90%. De acordo com Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, ouvida pela assessoria da associação, por conta da baixa utilização da capacidade, as paradas para manutenção tornam-se mais frequentes, gerando custos e perdas de eficiência e de competividade.
  • “Algumas empresas, portanto, acenam, no momento, para a hibernação de unidades, em decorrência da baixa eficiência operacional, além de aumento nas emissões de CO², por tonelada de produto, e, consequentemente, maiores custos de produção. Nesse nível de operação não há atratividade para manter a produção atual e tampouco atrair novos investimentos para o setor”, anota Coviello.
  • Os indicadores de produção, gerados pela Abiquim em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP), apontam quedas de 9,11% em abril e 7,77% em maio, com retração acumulada no bimestre de 16,17%. As vendas recuaram 0,76% e 3,59% respectivamente em abril e maio, enquanto o consumo aparente de produtos químicos (que soma produção e importações, excluindo os volumes exportados) caiu 3,5% em maio, depois de avançar 2,6% em abril.
  • As importações passaram a responder por 48% da demanda doméstica de produtos químicos nos 12 meses encerrados em maio deste ano, o que se compara com algo próximo a 7,0% no começo dos anos 1990. O setor passou a registrar um déficit comercial de US$ 44,210 bilhões em 12 meses até maio passado.