Indústria de biogás tende a atrair investimentos de R$ 60,0 bi até 2030

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de junho de 2022

A indústria de biogás mais do que dobrou a produção entre 2017 e 2021, atingindo 2,349 bilhões de metros cúbicos normais (Nm³) no ano passado, segundo dados do Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CIBiogás), e espera a multiplicar seu tamanho em sete vezes e meia até 2030, na projeção da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás). Conforme Tamar Roitman, gerente executiva da entidade, respondendo a uma demanda crescente no mercado doméstico e ao interesse cada vez maior de empresas e investidores, o setor deverá receber investimentos ao redor de R$ 60,0 bilhões até o final da década, o que seria suficiente para elevar a capacidade nominal instalada de 4,0 milhões de metros cúbicos para algo em torno de 30,0 milhões de m³ diários até 2030.

Ao longo do processo, o aumento esperado para a produção do gás corresponderia a uma redução estimada em 100,0 milhões de toneladas de carbono equivalente nas emissões de gases do efeito estufa, significando 10% das metas assumidas pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Estrategicamente, os volumes de biogás projetados até 2030, estima a executiva, poderiam substituir a importação de diesel, “o que gera empregos e movimenta a economia de outros países”.

Entre os projetos esperados para os próximos anos, prossegue Tamar, foram mapeados investimentos em torno de R$ 8,0 bilhões na instalação de 27 novas plantas para a produção de biometano, destino de parcela da produção adicional de biogás antecipada para o período. Uma parte mais expressiva será reservada à geração de energia, reforçando a fatia do setor na matriz energética, atualmente limitada a menos de 0,1%. Atualmente, perto de 80% da produção de biogás têm como destino a geração de energia, somando quase 400 megawatts de potência instalada, praticamente o dobro daquela registrada em 2016. O restante do insumo é dividido entre a produção de biometano, que soma em torno de 400 mil m³ por dia, envolvendo uma dezena de plantas, e para a geração de energia térmica, utilizada na alimentação de caldeiras, no aquecimento e em outras aplicações na indústria.

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Corrida

Num horizonte de dois anos, acredita Tamar, a capacidade de produção de biometano poderá dobrar, atingindo 800 mil m³ por dia por volta de 2023, num investimento ao redor de R$ 800,0 milhões. A executiva identifica uma corrida para a qualificação de projetos de biogás destinados ao segmento de geração distribuída para assegurar a isenção da tarifa de distribuição de energia até 2045. A cobrança começará a ser aplicada gradualmente a partir de janeiro de 2023 para empreendimentos que não conseguirem pedir conexão à rede elétrica num prazo de até 12 meses contados desde a sanção do marco legal da geração própria de energia, em janeiro deste ano.

Balanço

  • Parte do avanço esperado para a indústria de biogás está relacionado ao Programa Nacional Metano Zero, lançado neste ano como resultado da adesão do país ao esforço global para reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, gás entre 20 e 25 vezes mais nocivo ao ambiente do que o CO2. “Trata-se de um programa amplo, que não fixa diretrizes muito claras mas deixa as bases para ações concretas no setor, despertando o interesse de investidores, produtores e empresas interessadas em fazer a transição energética”, comenta Tamar.
  • A despeito dos avanços esperados, continua ela, a produção diária de biogás em 2030 ainda representará um quarto do potencial estimado para o país, ao redor de 121,0 milhões de m³ por dia, equivalente a toda a produção brasileira de gás natural, considerando os rejeitos da agropecuária, da indústria e do saneamento.
  • Até 2030, estima o pesquisador Airton Kunz, da Embrapa Suínos e Aves, a meta do programa Manejo de Resíduos da Produção Animal (MRPA), parte da agenda do Plano ABC+, é tratar algo como 208,4 milhões de metros cúbicos de dejetos, o que seria equivalente à mitigação de 118,2 milhões de toneladas de CO2 equivalente na natureza.
  • A descarbonização, neste caso, está associada à “mitigação das emissões da decomposição natural dos resíduos, ao aproveitamento energético do biogás em substituição a combustíveis fósseis e à substituição do uso de fertilizantes sintéticos pelo uso do digestato, produto final da digestão anaeróbica dos rejeitos animais”, destaca Kunz.
  • Para literalmente acelerar esse processo, uma equipe de pesquisadores da Embrapa Agroenergia desenvolveu dois catalisadores que combinam óxidos de alumínio, de magnésio, de níquel e de metais de terras raras (praseodímio e gadolínio) para uso no processo de reforma a vapor de biogás. O gás de síntese obtido a partir desse processo contém hidrogênio, que pode ser utilizado na produção de amônia, no refino de petróleo, na metalurgia e na indústria de alimentos, e ainda gás carbônico, aproveitado como matéria prima pelos setores químico e farmacêutico, descreve Emerson Schultz, coordenador da pesquisa.
  • Os testes em laboratório, conforme o pesquisador, mostraram que o uso combinado daqueles metais deu maior estabilidade ao catalisador, alongando sua vida útil. O passo seguinte será adicionar o ácido sulfídrico (H2S) ao biogás simulado usado nos testes iniciais para emular as condições naturais do biogás produzido a partir de resíduos da agropecuária e analisar o desempenho dos catalisadores nos reatores da própria Embrapa Agroenergia. A etapa seguinte exigirá a busca de parceiros interessados em realizar os testes em escala industrial, com uso de reatores de grande porte.