Indústria goiana devolve em 5 meses quase tudo o que cresceu em 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de julho de 2023

A produção industrial em Goiás não saiu do lugar na passagem de abril para maio, avançando meros 0,2% na comparação com abril do ano passado, segundo pesquisa mensal divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos cinco meses iniciais deste ano, a produção recuou 1,3% quando comparada ao mesmo período de 2022. Para comparar, ao longo dos 12 meses do ano passado, a produção havia avançado apenas 1,4%. Mais claramente, em apenas cinco meses, a indústria devolveu todo ou quase todo o avanço já modestíssimo colhido em 2022, saindo de uma queda de 3,9% em 2021.

Os índices dessazonalizados, excluídos fatores que se repetem sempre nos mesmos períodos a cada ano e poderiam distorcer comparações com os meses imediatamente anteriores, mostram que a produção goiana amargou uma retração de 7,9% desde janeiro deste ano, o que não é um dado a ser desprezado e demonstra a extrema fragilidade enfrentada pelo setor nos últimos anos. Em grande parte, esse descompasso pode ser relacionado a um ambiente macroeconômico bastante hostil, com juros nas alturas, demanda encolhida e exportações em forte queda, mais recentemente.

Não foi por falta de incentivos fiscais. Os dados oficiais, disponíveis no portal Goiás Transparente, mostram que a indústria recebeu incentivos fiscais de quase R$ 6,070 bilhões nos 12 meses encerrados em junho deste ano, o que corresponde a 21,87% da receita total do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) realizada em igual período, que somou R$ 27,748 bilhões em valores nominais. Em 24 meses, entre julho de 2021 e junho deste ano, os incentivos contratados pelo setor atingiram nada menos do que R$ 12,568 bilhões.

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Jogo de sofismas

Mas a comparação é inadequada, já que deve ser considerado o imposto recolhido pelo setor. Neste caso, como a arrecadação do setor industrial somou R$ 5,703 bilhões, o Estado literalmente “pagou” para que o parque industrial instalado produzisse menos. A colocação não parece apropriada, embora reflita radicalmente os dados disponíveis. Afinal, os incentivos concedidos foram R$ 366,891 milhões maiores do que todo o ICMS pago pela indústria. E há gestores públicos que dizem acreditar que a “guerra fiscal” trouxe ganhos reais e não penalizou a arrecadação. Na prática, há um jogo de sofismas para esconder o fato de que o sistema de incentivos em vigor promove uma redução das receitas futuras, ao rebaixar a base de cálculo ou limitar o crescimento das receitas do ICMS, causando perdas proporcionais para o Estado e para o financiamento de suas políticas sociais.

Balanço

  • O desempenho da indústria no Estado tem sido claudicante ao longo dos últimos meses, para dizer o mínimo. Na comparação mês a mês, já aplicados os tais ajustes sazonais, a produção só avançou em janeiro, quando cresceu 4,8% na comparação com dezembro do ano passado. Nos quatro meses seguintes, a produção esteve em baixa na maior parte do tempo e parou de cair em maio, o que não significa muita coisa, por enquanto.
  • Em fevereiro, março e abril, nesta ordem, a produção sofreu baixas de 4,8% (devolvendo todo o crescimento observado em janeiro), 1,8% e 1,5%. Em maio, o setor repetiu o volume produzido um mês antes.
  • Na comparação com os mesmos meses do ano passado, os resultados não foram mais promissores, com o avanço de 3,5% registrado em janeiro dando lugar a quedas de 3,0%, de 5,1% e de 1,9% em fevereiro, março e abril, respectivamente. O avanço de 0,2% anotado em maio não compensa sequer a perda sofrida um mês antes, além de ter ocorrido sobre uma base reduzida. Para relembrar, a produção havia desabado 5,8% em maio do ano passado, na comparação com igual mês de 2021.
  • Goiás está no grupo daqueles Estados que não conseguiram retomar os níveis alcançados em fevereiro de 2020, antes da pandemia. Incluindo Goiás, que anota perda de 2,8% frente ao mês anterior à crise sanitária, estão no vermelho Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Pará e a indústria do Nordeste como um todo, com baixas para Ceará e Bahia.
  • O resultado modesto colhido em maio, frente ao mesmo mês de 2022, refletiu os tombos de 67,3% na indústria de máquinas equipamentos (pulverizadores e colheitadeiras), 42,6% no setor de confecções (calças, camisas e camisetas), de 23,7% na produção de veículos (automóveis e caminhões), de 21,8% na fabricação de produtos de metal (embalagens metálicas e esquadrias), de 13,9% no setor de produtos químicos (fertilizantes químicos, cloreto de potássio, desodorantes) e de 5,2% na produção de produtos farmacêuticos.
  • Houve crescimento relevante na metalurgia, com salto de 38,9% (ferroníquel, ferronióbio e ouro), além de altas de 10,3% na indústria de produtos de papel (fraldas descartáveis, papel higiênico e papelão para embalagens) e de 9,5% na indústria de alimentos (puxada carnes bovina e de aves e leite condensado). A indústria extrativa avançou 2,7%, principalmente por conta do crescimento da produção de minério de cobre, com elevação de 2,1% no setor de bebidas (cerveja e água mineral). O avanço na produção de asfalto, cimento e sistemas pré-fabricados para a construção civil ajudou a indústria de minerais não metálicos a avançar 0,7% frente a maio do ano passado, depois de ter caído 2,6% em abril.
  • A indústria de confecções parece ser o caso mais grave entre todos os setores, acumulando um tombo de nada menos do que 45,0% no acumulado dos cinco primeiros meses deste ano em relação a idêntico período do ano passado. Apenas em março e abril, a produção no setor havia despencado 70,5% e 76,9%, indicando uma crise de graves proporções num setor que já foi grande empregador de mão de obra.
  • Entre 2013 e 2021, dado mais recente do IBGE, o total de empregos no setor desabou 36,8%, com fechamento de 11.312 vagas. O número de pessoas ocupadas nas confecções goianas encolheu de 30.749 em 2013 para 19.437 em 2021. Os números mais recentes da produção sugerem que a liquidação de empregos deve ter tido continuidade nos anos seguintes.