Indústria goiana respira, puxada pelos setores de alimentos e etanol

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de julho de 2022

Os números da indústria goiana em maio vieram melhores do que aqueles observados nos meses anteriores, num respiro que ainda não consolida uma tendência em função do desempenho negativo ou muito modesto observado nos meses anteriores. E ainda porque o crescimento observado naquele mês foi puxado principalmente pelas indústrias de produtos alimentícios e de biocombustíveis, mais precisamente pelo avanço da produção de etanol. A pesquisa mensal sobre a produção regional da indústria, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta elevação de 3,2% em Goiás na saída de abril para maio e um incremento de 2,9% frente a maio de 2021, acumulando uma variação de 0,9% nos cinco primeiros meses deste ano frente ao mesmo período do ano passado.

A despeito do avanço observado mais recentemente, a produção realizada pela indústria em Goiás ainda se encontrava, em maio deste ano, perto de 2,3% abaixo daquela observada em fevereiro de 2020, antes da pandemia. O setor sequer retomou os níveis de produção registrados em outubro de 2019, quando havia registrado seu melhor momento na série histórica do IBGE, numa perda de 7,1% se considerado maio passado.

Nos primeiros cinco meses deste ano, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior, a produção havia despencado 5,7% em janeiro, segundo indicadores dessazonalizados (ou seja, excluídos fatores que se repetem regularmente em determinados períodos do ano e poderiam distorcer a comparação); avançou 0,9% em fevereiro para recuar 0,8% em março e apresentar variação de apenas 0,1% em abril.

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Quando comparada aos mesmos meses do ano passado, a produção da indústria goiana havia registrado elevações de 1,4% e de 3,1% em janeiro e fevereiro e caiu 2,3% e 1,1% nos dois meses seguintes. Em resumo, o comportamento tem sido errático e, por isso, ainda não é possível considerar o dado de maio como tendência para os próximos meses, principalmente diante das expectativas de um desaquecimento adicional projetado para a economia no segundo semestre deste ano.

Concentração

Quase todo o crescimento registrado em maio, diante do mesmo mês de 2021, esteve muito concentrado nos setores de alimentação e etanol, com altas para as indústrias extrativa e de produtos de metal (que têm menor influência na estrutura industrial do Estado e, portanto, participação mais reduzida no resultado geral do setor como um todo). O setor de produção de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis registrou alta de 9,9% na comparação com maio do ano passado, com influência de 2,05 pontos na formação do índice de crescimento da indústria em geral. Neste caso, os resultados do segmento de etanol tiveram maior impacto, diante do aumento de 10,3% anotado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para a produção do setor. Em Goiás, a produção elevou-se de 640,676 milhões para 706,663 milhões de litros. Nos cinco meses deste ano, as usinas do Estado produziram 1,145 bilhão de litros, crescendo 6,21% frente ao mesmo período do ano passado, quando o Estado havia produzido 1,078 bilhão de litros.

Balanço

  • Na indústria de bens alimentícios, a produção avançou em menor intensidade, variando 2,9% em relação a maio do ano passado, sob liderança da produção de açúcar cristal e de óleo de soja refinado. O setor tem um peso muito maior na composição do valor agregado industrial e, embora tenha apresentado variação proporcionalmente mais baixa do que o setor de biocombustíveis, exerceu influência igualmente decisiva, correspondendo a uma contribuição de 1,57 pontos de porcentagem em uma taxa de crescimento de 2,9% registrada pela indústria como um todo.
  • Isoladamente, portanto, a indústria de alimentos respondeu por pouco mais de 54% do incremento observado para o conjunto da indústria no Estado. Obviamente, o setor de biocombustíveis anotou contribuição mais relevante em função do avanço proporcionalmente mais vigoroso. Num exercício estatístico, excluídos os dois setores (alimentos e biocombustíveis), o restante da indústria teria recuado 0,72% em relação a maio do ano passado.
  • Dois outros setores apresentaram números mais substanciais, com altas de 13,5% para produtos de metal e de 6,0% para a indústria extrativa. No primeiro caso, estruturas de ferro e aço em chapas e esquadrias de alumínio, produtos tipicamente associados à construção civil, apresentaram números positivos. No setor de extração mineral, calcário e brita estiveram na liderança, mais uma vez sob influência aparente da construção.
  • A maior produção de medicamentos ajudou a puxar o tímido aumento de 1,2% registrado pela indústria de produtos farmoquímicos e farmacêuticos. O setor tem apresentado oscilações importantes ao longo dos meses mais recentes, chegando a desabar 16,3% em março e saltar 36,0% no mês seguinte. Nos cinco primeiros meses deste ano, a indústria farmacêutica chegou a avançar 6,2%, embora sustente indicadores negativos no acumulado em 12 meses, com baixa de 4,7%, refletindo resultados adversos colhidos nos meses anteriores.
  • Quatro setores apresentaram perdas em maio, incluindo as indústrias de produtos minerais não metálicos, em baixa de 3,5%; de veículos, com queda de 4,2% (depois de cair 13,8% em abril); outros produtos químicos, que encolheu 9,8% (e havia saltado nada menos do que 97,2% em abril); e metalurgia, num tombo de 16,2% (depois de varia apenas 0,2% no mês imediatamente anterior).
  • O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação de 0,67% no fechamento de junho, ligeiramente inferior à taxa de 0,69% observada nas quatro semanas encerradas em 15 de junho. O índice começou a refletir as reduções nas tarifas de energia elétrica e nos preços dos combustíveis (gasolina e etanol) em função das mudanças na tributação sobre o setor implantadas pelo desgoverno de plantão.
  • Mas os preços dos alimentos experimentaram aceleração, saindo de uma “inflação” de 0,25% nos 30 dias finalizados na segunda semana de junho para 0,80% nas quatro semanas do mesmo mês. Nitidamente, a carestia no setor observou forte agravamento em apenas duas semanas, sugerindo pressões resultantes do clima mais seco e frio sobre a oferta de alimentos, assim como o início da entressafra de grãos e do leite.