Indústria não cresce e investimento derrete nos primeiros meses de 2023

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 20 de abril de 2023

A produção industrial brasileira não experimenta qualquer crescimento desde novembro do ano passado, na comparação mês a mês, já descontados os tais “efeitos sazonais” que poderiam distorcer a comparação e sugerir um comportamento mais positivo ou mais negativo do que aquele efetivamente observado na realidade. Na verdade, a indústria até recuou no período, acumulando uma variação negativa de 0,65% na comparação com fevereiro deste ano. Ao mesmo tempo, setores essenciais para assegurar alguma forma de avanço futuro da indústria como um todo têm sofrido forte desaquecimento, indicando que o investimento privado de uma forma geral estaria pelo menos paralisado, senão em franco processo de derretimento.

Se a indústria tem demonstrado há anos baixo dinamismo e incapacidade virtual de sustentar algum crescimento duradouro, o setor que fabrica os chamados “bens de capital”, que engloba a produção de máquinas e equipamentos, tratores, caminhões, computadores e outros equipamentos que ajudam o setor industrial em seu conjunto a expandir sua produção, agregando maior capacidade produtiva a sua operação, vem encolhendo. O nível de produção da indústria de bens de capital em fevereiro deste ano, segundo a pesquisa mensal da produção industrial divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desabou 10,3% frente a novembro do ano passado.

De acordo com a mesma pesquisa, a produção registrou números negativos em dezembro do ano passado e em janeiro e fevereiro deste ano, com recuos, pela ordem, de 0,1%, de 0,3% e de 0,2% na comparação com os meses imediatamente anteriores. A produção de bens de capital praticamente não saiu do lugar em fevereiro deste ano, variando 0,1% em relação a janeiro, quando havia sofrido queda de 4,4% sobre dezembro (quando, por sua vez, o setor já havia apresentado recuo de 1,7%).

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Estagnação virtual

“Depois de um período volátil na entrada do último trimestre do ano passado, a indústria tem se mantido em um quadro de virtual estagnação, mas, embora baixas, as variações negativas estão se acumulando. Para a indústria, 2023 ainda não começou”, aponta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ao avaliar os dados da pesquisa. Na visão do instituto, a análise por setor mostra que as perdas “não se mostraram muito difundidas, mas ainda assim atingiram 36% dos ramos acompanhados pelo IBGE e metade dos macrossetores industriais”. Na indústria de bens de capital, anota ainda o Iedi, “ramos como máquinas e aparelhos elétricos (-3,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-1,8%) e máquinas e equipamentos (-0,5%) estiveram entre os piores resultados”, também na passagem de janeiro para fevereiro deste ano.

Balanço

  • O setor de produção de bens alimentícios voltou a tropeçar em fevereiro, com recuo de 1,1% frente a fevereiro e baixa de 3,8% na comparação com fevereiro do ano passado. Registrou-se ainda redução de 4,5% para a produção de produtos químicos e farmacêuticos entre janeiro e fevereiro.
  • A indústria de transformação, como resultado, tropeçou em fevereiro, anotando queda de 0,45% em relação a janeiro e perdas de 3,7% diante de fevereiro do ano passado, no terceiro mês de queda nesse tipo de comparação. Desde novembro do ano passado, o setor sofreu baixa de 1,5%.
  • Os números não melhoram quando se toma fevereiro do ano passado como base para comparação. A produção da indústria geral havia recuado 0,4% em dezembro, esboçou alguma reação ao avançar 0,3% em janeiro, mas caiu 2,4% em fevereiro, agora em relação a meses idênticos do ano imediatamente anterior.
  • As maiores perdas concentraram-se, mais uma vez, na indústria de bens de capital, que registrou em fevereiro o sexto mês consecutivo de queda. Comparando o segundo mês deste ano com o mesmo período de 2022, a produção no setor desabou 12,4%, depois de cair 6,6% em janeiro. No primeiro bimestre deste ano, acumula baixa de 9,7%. E, na comparação entre fevereiro deste ano e agosto do ano passado, último mês de crescimento para o setor, a indústria de bens de capital encolheu 10,3%.
  • Os principais ramos daquele setor mantiveram-se no vermelho em fevereiro, com quedas de 4,8% para manutenção, reparo e instalação de máquinas e equipamentos (o que reforça a hipótese segundo a qual a indústria estaria reduzindo investimentos na expansão de sua capacidade); perda de 9,0% para a produção em si de máquinas e equipamentos e tombo de 12,6% para máquinas e aparelhos elétricos.
  • Três anos desde o início da pandemia, a produção não retomou os níveis registrados em fevereiro de 2020, apresentando baixa de 2,6%. Entre 25 ramos de atividade acompanhados pelo IBGE, 17 deles ou praticamente 68% não voltaram aos níveis anteriores à pandemia. Um deles, a indústria de bebidas, registrou um empate e sete outros conseguiram superar o volume produzido em fevereiro de 2020. O setor de transformação caiu 3,45% entre fevereiro de 2020 e igual mês deste ano.
  • A baixa capacidade de crescimento do setor surge com nitidez quando se comparam os resultados de fevereiro deste ano com o melhor momento de cada grande setor na série histórica de dados do IBGE. A indústria em geral havia atingido seu pico em maio de 2011 e caiu 19,0% desde lá. A indústria de transformação, que atingiu seu melhor resultado naquele mesmo período, perdeu um quinto de sua produção, numa queda de 20,0%.
  • Na comparação com abril de 2013, o setor de bens de capital despencou 31,9%, enquanto o setor de fabricação de bens intermediários caiu 16,7% também desde maio de 2011. A produção de bens duráveis desabou nada menos do que 38,9% frente a março de 2011, enquanto os bens semi e não duráveis, categoria que inclui alimentos, roupas e outros produtos de consumo popular, anotaram queda de 15,1% em relação a junho de 2013.