Indústria não cresce e segura investimento em renovação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 03 de agosto de 2022

A produção industrial continuou derrapando ao longo de todo o primeiro semestre, a despeito de ganhos ocasionais registrados mês ou outro e prontamente “devolvidos” no período seguinte, como anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Mais do que isso, os dados da edição mais recente da pesquisa industrial mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sugerem que o setor passou a engavetar investimentos em renovação e atualização de seu parque de máquinas, num prenúncio de mais encolhimento adiante, com o desgaste natural da base industrial instalada no País.

Comparada ao mesmo período do ano passado, a produção sofreu queda de 2,2% na primeira metade deste ano, depois de recuar 0,4% na saída de maio para junho e cair 0,5% entre junho deste ano e igual mês de 2021. Os números mostram, conforme destaca o Iedi, que a industrial devolveu todos os ganhos observados em maio, quando a produção havia registrado variações positivas de 0,3% frente a abril e de 0,5% em relação a maio do ano passado. O setor sequer conseguiu retomar os níveis registrados em fevereiro de 2020, antes da pandemia, com a produção mantendo-se, em junho deste ano, 1,5% mais baixa. Ainda em comparação com fevereiro de 2020, entre 26 ramos acompanhados pelo IBGE, em torno de 65,4% ou 17 segmentos não anotaram recuperação, oito conseguiram superar a marca anterior à pandemia e um (a indústria de produtos de fumo) não saiu do lugar em todo o período.

A indústria de bens de capital, que fabrica máquinas, equipamentos, ferramentas e aparelhos para os demais setores da economia, chegou a apresentar números mais vistosos em meio à pandemia, mas já não registra intensidade semelhante num período mais recente. Na comparação com o mês imediatamente anterior, o setor oscilou entre altos e baixos no primeiro semestre, iniciado com tombo de 9,2% em janeiro, seguido por dois meses de crescimento (2,1% e 8,7% em fevereiro e março), queda de 8,0% abril, alta de 7,5% em março e recuo de 1,5% em junho. Em relação a igual mês de 2021, foram quatro meses de perdas e taxas positivas em maio e junho, com elevações, pela ordem, de 5,7% e de apenas 0,2% – o que corresponde, na prática, a estabilidade.

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Descendo a ladeira

A redução na produção de máquinas e equipamentos para a indústria contribuiu para puxar para baixo os resultados da indústria de bens de capital, anota o Iedi. O segmento vem sofrendo baixas desde o quadrimestre final de 2021, quando havia registrado queda de 6,7%, passando a cair 12,9% no acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, frente ao mesmo intervalo do ano passado. No bimestre maio e junho, a produção baixou mais 5,7%. Na comparação semestral, a produção de bens de capital para a indústria como um todo, que já havia recuado 1,9% na segunda metade do ano passado, despencou 10,5% nos seis primeiros meses deste ano.

Balanço

  • Nitidamente, a indústria paralisou e mesmo vem reduzindo investimentos em renovação, modernização e atualização de suas máquinas, o que poderá acelerar a obsolescência do parque instalado, dificultando uma arrancada em algum ponto do futuro, quando a economia estiver de fato embalada.
  • “Este é um dado que preocupa” alerta o Iedi”, “pois a produção interna de bens de capital para a indústria compõe o investimento do setor. Vale enfatizar que é urgente a retomada de suas inversões para modernizá-la, depois dos desincentivos provocados pelo período de grandes adversidades a partir de 2014 e que, a rigor, ainda não foi superado”.
  • Com exceção da produção de bens de capital para o setor de energia, todas as demais classes registraram desaceleração ou recuo ao longo do primeiro semestre deste ano. No caso da agricultura, por exemplo, a produção de máquinas e equipamentos agrícolas ou destinados ao agronegócio chegou a saltar 19,7% no segundo semestre de 2021 e apresentou variação de 4,4% no acumulado dos primeiros seis meses deste ano.
  • A produção de bens de capital destinados ao setor de transporte havia saltado 20,6% nos seis meses finais de 2021 e recuaram 0,1% no semestre inicial deste ano. No setor da construção, o salto de 41,4% deu lugar a um incremento de 19,4%. Mas a produção de bens de capital para o setor energético saiu de elevação de 2,7% para crescimento de 13,4%.
  • Numa visão mais ampla, incluindo o conjunto da indústria, o desempenho tem deixado a desejar. Para o Iedi, “os sinais favoráveis da produção industrial continuam se mostrando fracos e descontinuados, longe do que sinalizaria uma nova fase de expansão do setor”.
  • Olhando para a tendência mais de longo prazo, ao considerar a evolução da produção industrial acumulada em 12 meses, o Iedi constata ainda que a reação esboçada pela indústria “após os efeitos iniciais da pandemia de Covid-19 foi interrompida, não dando início a um processo consistente de crescimento”. Sempre considerando o dado acumulado em 12 meses, as variações têm se tornado mais negativas, saindo de recuo de 0,3% até abril e baixa de 1,9% até maio para a queda de 2,8% nos 12 meses encerrados em junho passado.
  • Num aparente alento, o cenário registrado no segundo trimestre deste ano, ainda na leitura do Iedi, sugere um “quadro menos grave, mesmo não tendo sido suficiente para reverter o sinal negativo”. Comparado ao segundo trimestre de 2021, a produção anotou recuo de 0,2% depois de ter caído 4,4% no primeiro trimestre.
  • O dado mais concreto é que o setor não conseguiu repetir a produção realizada há mais de uma década, a despeito do crescimento da população e do consumo no período. Os níveis registrados pela produção industrial em junho deste ano estavam 18,0% mais baixos do que em maio de 2011, melhor mês para o setor na série histórica do IBGE. A indústria de bens duráveis, por sua vez, despencou 36,7% na comparação entre março de 2011 e junho deste ano, com tombo de 25,0% para o setor de bens de capital desde abril de 2013.
  • A indústria de bens intermediários, responsável pela produção de insumos e outros produtos destinados à própria indústria, encolheu 16,5% sobre julho de 2008, quase uma década e meia atrás.