Indústria não sustenta reação e para de crescer (mais uma vez)
Depois de reagir moderada e brevemente em agosto, na sequência de quatro meses sem crescimento, a indústria não conseguiu sustentar o resultado positivo colhido naquele mês e parou de crescer em setembro, na comparação que considera dados dessazonalizados, descontando-se eventos e fatores que sempre ocorrem numa mesma época todos os anos. Os números apurados pela pesquisa mensal da produção industrial, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram recuo de 0,4% na passagem de agosto para setembro, devolvendo parte do incremento de 0,7% observado de julho para agosto.
Num contexto de juros ultraelevados, anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “os avanços tendem a ser pontuais” e indicam as dimensões dos obstáculos impostos ao desempenho da indústria pela política monetária. Três entre os quatro “macrossetores industriais” – bens intermediários, duráveis e produtos semi e não duráveis – tropeçaram na comparação com agosto, com recuos de 0,4%, 1,4% e 0,1%, respectivamente. Único segmento a ter algum alívio, a indústria de bens de capital apontou variação muito próxima da estabilidade, com alta de 0,1% depois de dois meses de resultados negativos, incluindo baixas de 0,3% em julho e de 1,6% em agosto.
Ao longo dos nove meses iniciais deste ano, observa ainda o Iedi, “a indústria não cresceu em cinco deles e nos demais meses, em geral, ficou perto da estabilidade”, na série de dados dessazonalizados. Como exceções, o instituto cita o avanço de 1,8% observado em março, na comparação com fevereiro, e a variação de 0,7% registrada em agosto (inicialmente estimada em 0,8% pelo IBGE). Os dados naqueles dois meses, no entanto, foram “insuficientes para evitar o enfraquecimento dos resultados em comparação com a situação industrial de um ano atrás”.
Ritmo declinante
Na comparação com períodos idênticos do ano imediatamente anterior, relembra o Iedi, os resultados trimestrais anotados pela indústria “na maior parte de 2024” mostram variações acima de 3,0%. Com exceção do primeiro trimestre, quando a produção havia crescido 2,0% frente aos mesmos três meses de 2023, os trimestres seguintes apontaram altas de 3,3% (segundo trimestre), de 3,9% (no terceiro trimestre) e de 3,2% (no quarto e último trimestre do ano passado).
O ritmo foi relativamente desacelerado para 2,0% nos primeiros três meses deste ano, sendo reduzido mais fortemente para 0,6% e 0,5% no segundo e terceiro trimestres, respectivamente, sempre na comparação com iguais períodos de 2024. Mas, considerando a indústria de transformação em seu conjunto, com exclusão das atividades de extração mineral (petróleo em bruto e minério de ferro, principalmente), houve perdas de 0,6% e de 0,4% no segundo e no terceiro trimestre deste ano em relação a idênticos intervalos do ano passado.
Balanço
Naquela mesma métrica, a produção de bens de capital – máquinas, equipamentos, computadores, algumas categorias de aparelhos e instrumentos mecânicos, elétricos e eletroeletrônicos, caminhões e ônibus, entre outros – havia engatilhado quatro trimestres consecutivos de crescimento, com taxas de dois dígitos entre o segundo e o quarto trimestres de 2024 e variações entre 12% e 14% diante dos mesmos períodos de 2023. O ano de 2025 começou com menor ímpeto para o setor e um incremento mais modesto, de 4,6% no primeiro trimestre, seguido de dois trimestres negativos, com baixas de 2,2% e de 2,4% no segundo e no terceiro trimestres.
Na série dessazonalizada, comparando o mês em curso com o período de 30 dias imediatamente anterior, a indústria em geral continua oscilando entre números negativos e positivos, em alguns casos mais próximos da estagnação. Entre março e setembro deste ano, os volumes produzidos recuaram quase 1,0%, em mais um demonstrativo da capacidade reduzida do setor para iniciar uma fase mais auspiciosa de crescimento.
A indústria extrativa teve seu melhor momento entre fevereiro e abril deste ano, notadamente naqueles dois primeiros meses, quando a produção no setor havia avançado 3,0% e 3,7% em relação aos meses imediatamente anteriores. Embora tenha anotado algum crescimento em abril e maio, dali em diante oscilou entre os dois extremos da escala, acumulando ligeiro recuo de 0,2% na comparação entre setembro e março.
A indústria de transformação, que literalmente parou de crescer em setembro, com variação nula, chegou a setembro com níveis de produção quase 0,9% mais baixos do que em março. As principais perdas no período foram registradas pelas indústrias de confecções e de produção de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis, que despencaram perto de 4,9% nos dois casos.
Como exceção, a indústria de produtos alimentícios chegou ao terceiro mês de crescimento, com elevação acumulada de 4,4% desde junho. Em relação a igual período do ano passado, o setor cresceu 1,9%, 0,5% e 7,1% em julho, agosto e setembro, pela ordem, revertendo o recuo de 0,4% acumulado até agosto e passando a avançar 0,5% nos primeiros nove meses deste ano — um desempenho, apesar de tudo, ainda muito modesto. O crescimento em setembro veio puxado por saltos de 10,9% no abate de animais e fabricação de produtos de carne, com destaque para altas de 9,3%, 12,0% e 10,4% para abate de bovinos, suínos e aves e processamento de produtos à base de carne.
De volta à comparação trimestral, a indústria de bens intermediários continua demonstrando resiliência, como observa o Iedi, “estimulada sobretudo por ramos vinculados à atividade agrícola, como defensivos agrícolas [com alta de 21,1% no terceiro trimestre deste ano], intermediários têxteis (mais 13,1%), celulose (mais 8,9%) e intermediários alimentícios (mais 4,3%)”.
No terceiro trimestre, aquele setor foi a exceção, no entanto, com baixas para todos os demais grandes segmentos industriais, a exemplo da queda de 2,4% verificada para a indústria de bens de capital. Bens duráveis anotaram recuo de 1,2% em igual período, com baixa de 3,1% para produtos semi e não duráveis.