Indústria química encerra 2023 com maior nível de ociosidade da história
A indústria química brasileira chegou a dezembro do ano passado com 40% de suas máquinas literalmente paralisadas, segundo levantamento desenvolvido em conjunto pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP). Na média, entre janeiro e dezembro de 2023, a ociosidade atingiu 36%, já […]
A indústria química brasileira chegou a dezembro do ano passado com 40% de suas máquinas literalmente paralisadas, segundo levantamento desenvolvido em conjunto pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP). Na média, entre janeiro e dezembro de 2023, a ociosidade atingiu 36%, já que a indústria utilizou 64% de sua capacidade instalada, no índice mais elevado em toda a série histórica da associação, sinalizando um agravamento da crise no setor, que tem colecionado números negativos ao longo das últimas décadas.
A invasão dos importados ajuda a explicar em grande parte o cenário observado no setor atualmente, complicado ainda pelos efeitos adversos de conflitos geopolíticos, especialmente por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, pelo aumento da oferta global de produtos químicos, levando a uma queda nos preços médios no mercado internacional e acirrando a concorrência predatória em relação ao produto nacional. Os índices desenvolvidos pela Abiquim e Fipe, que consideram uma amostra representativa da indústria química, mostram quedas de 10,1% para a produção e de 10,9% para as exportações do setor entre 2022 e 2023.
Ao mesmo tempo, as vendas domésticas despencaram 9,4% na mesma comparação, ao mesmo tempo em que os volumes importados pelo setor avançaram 7,8% no ano, depois de um salto de 22,5% entre dezembro do ano passado e o mês final de 2022. Como se percebe, a indústria não teve como opção, diante do encolhimento da demanda interna, sequer a saída para o mercado externo, complicando sua situação. Paradoxalmente, o chamado “consumo aparente” de produtos químicos anotou recuo de 1,5% ao longo do ano passado, queda muito menos intensa do que aquela observada para a demanda doméstica.
Política industrial às avessas
Essa diferença explica-se pela forma de aferição do “consumo aparente”, que soma os volumes produzidos e importados, subtraindo os embarques destinados ao mercado externo. Nessa equação, como já registrado, as compras externas cresceram, compensando parcialmente a baixa registrada nas vendas internas. Na verdade, não se trata de um dado necessariamente positivo, já que a entrada de produtos químicos importados causa o deslocamento da produção local, que tem sofrido baixas recorrentes, promovendo uma “substituição” de importações às avessas. Na prática, a importação substitui a produção doméstica, provocando desemprego e ociosidade no setor e achatando os resultados da indústria. As margens de rentabilidade foram pressionadas, adicionalmente, pela queda nos preços, que atingiu 12,7% entre janeiro e dezembro do ano passado no segmento de produtos químicos de uso industrial, refletindo as tendências em cena no mercado internacional.
Balanço