Indústria titubeia, mas avança. Com reação também para bens de capital

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 06 de junho de 2024

A produção industrial registra um comportamento titubeante nos primeiros meses deste ano, mas vai configurando uma tendência de recuperação especialmente em relação aos resultados pouco expressivos observados no ano passado, quando a indústria literalmente não saiu do lugar depois de recuar 0,7% em 2022. Numa perspectiva mais otimista, a reação tem de ampliado para um número maior de setores e veio acompanhada de uma aparente retomada dos investimentos no setor, conforme sugerem os dados mais recentes sobre a produção de bens de capital.

A produção havia recuado 1,2% em janeiro, sobrevindo certa “estabilização” no mês seguinte, com variação de 0,1% (o dado original, agora revisado, havia apontado recuo de 0,3%). Em março, a indústria avançou 0,9% e, na estatística mais recente, referente a abril, anotou baixa de 0,5% – sempre na comparação com o mês imediatamente anterior. Neste caso, no entanto, o nível da atividade no setor industrial foi afetado negativamente pela indústria extrativa, que apresentou baixa de 3,4% na saída de março para abril em função da menor extração de minério de ferro e petróleo, ao mesmo tempo em que a indústria de transformação avançou 0,3%. 

“A análise da composição deste resultado mostra um quadro mais favorável do que à primeira vista. Com isso, não parece haver uma interrupção dos progressos obtidos no primeiro trimestre de 2024, do ponto de vista tanto da produção como do valor adicionado, como mostraram os dados do PIB divulgados ontem para a indústria de transformação: mais 0,7% com ajuste sazonal”, constata o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ao avaliar os números trazidos pela mais recente edição da pesquisa mensal da produção industrial publicada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Altas e baixas

De fato, prossegue o Iedi, 18 entre 25 ramos da indústria – ou 72% deles – anotaram crescimento em relação a março e apenas sete reduziram seu ritmo. Além das indústrias extrativas, as perdas mais severas foram registadas por fabricantes de produtos têxteis e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, com quedas de 2,8% e 2,6% respectivamente. No outro prato da balança, destacaram-se as indústrias de produtos diversos, veículos e gráficas, com altas, na mesma ordem, de 25,1%, 13,2% e 12,4%. A indústria de produtos alimentícios contribuiu igualmente para esfriar o ânimo geral do setor, recuando 0,6% (o que se compara com o avanço de 1,1% observado em março, também na comparação com o mês imediatamente anterior). Na comparação com abril do ano passado, a indústria como um todo experimentou salto de 8,4% depois de cair 2,8% em março, com baixa de 1,6% para o setor extrativo e alta de 10,3% para a indústria de transformação, mais do que se recompondo em relação ao tombo de 3,6% em março. Detalhe: abril do ano passado registrou 18 dias úteis, em função dos feriados da semana santa, diante de 22 dias neste ano, o que ajudou a impulsionar a produção.

Balanço

  • Entre os grandes setores da indústria, o retrocesso observado em abril concentrou-se na produção de bens intermediários, que praticamente devolveu a alta de 1,1% registrada na passagem de fevereiro para março e sofreu baixa de 1,2% em abril. Em boa parte, o tropeço pode ser debitado na conta da indústria extrativa, como aponta o Iedi, já que no setor de transformação a maior parte dos ramos industriais esteve em alta.
  • De toda forma, acrescenta o instituto, deve-se recordar que a indústria extrativa havia se saído bem em 2023, “acumulando alta de 7,1% ante virtual estabilidade da produção industrial como um todo (variação de 0,1%), e agora dá indicação de acomodação”. Conforme o Iedi, “o cenário internacional é de desaceleração da economia chinesa e de preços mais fracos para as commodities, o que tende a moderar a expansão das atividades extrativas”. Colocado de outra maneira, as perdas nesta área podem ser explicadas mais pela influência do cenário externo do que pela conjuntura doméstica.
  • Na indústria de transformação, houve certa desaceleração no ritmo de crescimento mês a mês, com a variação passando de 0,8% em março para 0,3% no mês seguinte. Ainda assim, comenta o Iedi, “esta parcela da indústria vem conseguindo evitar perdas há sete meses consecutivos, o que é uma mudança de padrão em comparação ao que vimos no ano passado”.
  • Todos os grandes setores anotaram crescimento em abril, agora em relação ao mesmo mês de 2023, com destaque especial para a indústria de bens de capital, que cresceu 25,5%, repondo com sobra toda a perda de 10,4% realizada em março. Os fabricantes de bens intermediários, bens de consumo duráveis e bens semi e não duráveis experimentaram crescimento de 4,6%, 25,8% (com salto de 31,6% na produção de veículos e carrocerias) e 11,5% (principalmente em função do avanço de 14,4% na produção de alimentos).
  • A indústria de bens de capital, um termômetro do investimento na economia, merece um registro adicional. A produção no setor, que já havia encolhido 11,7% nos 12 meses de 2023, passou a acumular elevação de 4,5% nos quatro primeiros meses deste ano em relação a igual período do ano passado, em função especificamente do resultado de abril.
  • A produção de bens de capital nos segmentos de máquinas e equipamentos e de outros equipamentos de transporte saiu de um período de 12 meses de perdas em sequência para aumentar, respectivamente, 12,3% e 16,0% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2023. A queda acumulada no ano nos dois setores saiu de 8,9% e 11,4% entre janeiro e dezembro do ano passado para 5,6% e 2,1% no primeiro quadrimestre deste ano, naquela mesma ordem.
  • No setor de informática e produtos ópticos, a produção de bens de capital havia recuado 4,6% nos 12 meses do ano passado e agora acumula alta de 19,0% na comparação entre o primeiro quadrimestre deste ano e o mesmo intervalo do ano passado. Na mesma toada, as indústrias de máquinas e aparelhos elétricos e de veículos haviam registrado tombos de 23,8% e de 14,4% na produção de bens de capital em 2023. Neste ano, até abril, passaram a anotar ganhos de 10,0% e de 24,5% respectivamente.