Indústria volta ao vermelho e indica ano de retração ao longo de 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de março de 2022

“A indústria começou 2022 do mesmo jeito que passou a maior parte de 2021: no vermelho”, sustenta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A brisa que havia soprado em dezembro sobre o setor mostrou-se passageira, insuflada por números temporariamente melhores nas indústrias de bens duráveis (a exemplo dos veículos) e de bens de capital (máquinas e equipamentos, caminhões e ônibus, além de computadores). “A contar pela evolução da produção neste início de ano, é bem provável que a indústria tenha um ano recessivo, como indicam as projeções coletadas pelo Boletim Focus do Banco Central. Em sua última edição, o resultado esperado para o PIB da indústria em 2022 era de -0,55%”, acrescenta o instituto.

O recrudescimento da pandemia nos primeiros meses deste ano, trazida pela Ômicron, a mais recente variante do Sars-CoV-2, complicou mais uma vez a situação das cadeias de suprimento em todo mundo, interrompendo fluxos de fornecimento de peças, acessórios e componentes eletrônicos, além de elevar os índices de absenteísmo, especialmente na indústria. Ao mesmo tempo, o desemprego elevado, a renda em baixa e o crédito muito mais caro trataram de refrear uma demanda que já não se mostrava muito animada.

Nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ontem divulgou a pesquisa de janeiro da produção industrial, o setor industrial devolveu quase todo crescimento registrado em dezembro, quando chegou a avançar 2,9% frente a novembro, caindo 2,4% na passagem do último mês de 2021 para o primeiro do novo ano. Na verdade, nesse tipo de comparação, já aplicados os devidos ajustes sazonais (quer dizer, descontados fatores que ocorrem em determinados períodos de cada ano e poderiam “contaminar” os indicadores mensais), os números da indústria foram negativos em nove dos últimos 12 meses, com quatro quedas nos seis meses até janeiro deste ano.

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Vinte entre os 26 setores da indústria sofreram perdas, perfazendo quase 77% de todos os setores. Onze deles registraram quedas superiores ao nível médio de perda observado para a indústria como um todo, com pior tombo para a indústria de veículos, que encolheu 17,4% em relação a dezembro. Nessa mesma comparação, a pesquisa mostra ainda que apenas 48,7% dos produtos pesquisados registraram algum crescimento na saída de dezembro para janeiro, o que vem a ser o índice mais baixo em toda a série para o mesmo mês. Quando considerada a comparação com janeiro do ano passado, os resultados foram ainda mais pobres: apenas 31,6% dos produtos anotaram crescimento, da mesma forma, o pior resultado da série para um mês de janeiro.

Abaixo de fevereiro de 2020

Tomado o mesmo mês de 2021, a produção experimentou retração de 7,2% em janeiro, no sexto mês consecutivo de perdas frente aos mesmos 30 dias do ano anterior. Na sequência, a produção caiu 0,6%, 4,1%, 7,8%, 4,4% 5,0% e 7,2% em agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2021 e em janeiro de 2022. A persistência de resultados negativos levou o nível da atividade industrial a cair 3,5% em relação a fevereiro de 2020, desmontando os sonhos de uma recuperação em “V” (forte queda seguida por intensa e rápida recuperação) alimentados pelo ministro dos mercados e sua equipe. Dezessete setores (pouco mais de 65% de todos os setores da indústria) continuam abaixo dos níveis imediatamente anteriores à pandemia, um conseguiu um empate honroso e oito superaram aquela marca.

Balanço

  • Na série do IBGE, a indústria em geral experimentou seu melhor momento em maio de 2011, pouco mais de uma década atrás. Pois em janeiro deste ano os volumes produzidos ficaram 19,8% mais baixos do que naquela época. No segmento de bens intermediários, que fechou no começo deste ano um período de seis meses de quedas mensais consecutivas ao cair 5,0% em janeiro (frente a janeiro de 2021), a perda chega a 17,7% em relação a fevereiro de 2011, ponto mais alto da atividade no setor.
  • Indicador do comportamento do investimento na economia, ao lado da construção, o setor de bens de capital despencou 27,7% entre setembro de 2013 e janeiro deste ano. Nesta área, a produção segue em desaquecimento desde julho, quando a taxa de crescimento saiu de impressionantes 53,0% para impressionantes 36,3% – com a ressalva, mais do que devida, de que os mesmos meses de 2020 foram marcados pelo desempenho medíocre.
  • Ainda na comparação anual, a produção de bens de capital saiu daqueles 36,3% registrados em julho para 8,2% em outubro e daí para apenas 3,7% em dezembro, fechando janeiro em queda de 8,1%.
  • Mais impressionante, a produção de bens duráveis foi reduzida a quase a metade dos níveis registrados em junho de 2013, num tombo de 47% até janeiro deste ano, quando encolheu 25,8% em relação ao primeiro mês de 2021. Foram, até janeiro, sete meses ininterruptos de perdas, levando o setor a zerar a variação acumulada em 12 meses. A indústria de veículos, considerando janeiro de 2022 diante de igual mês de 2021, registrou baixa de 23,5%. Teve papel importante na queda geral da indústria, mas não foi o único.
  • A redução na produção de veículos automotores respondeu por 27,5% da queda geral da produção industrial na comparação entre janeiro do ano passado e o mesmo mês deste ano. Excluída a indústria de veículos, os demais setores industriais sofreram baixa de 5,2% em idêntico período. O cenário para fevereiro não antecipa melhoras, ao contrário. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção no setor caiu 15,8% na comparação entre fevereiro deste ano e o mesmo mês de 2021, atingindo o pior número para o mês desde 2016. No primeiro bimestre, a produção murchou 21,7%.
  • Depois de sete meses de perdas, a indústria de bens semiduráveis e não duráveis (alimentos, roupas, calçados, medicamentos e outros) experimentou mais um tombo de 8,4% em janeiro (diante do mesmo mês de 2021), recuando ainda 0,5% frente a dezembro passado. Desde junho de 2013, a produção no setor despencou 16,8%.