Inflação cai em agosto e esvazia manobras do presidente do BC
O cenário inflacionário antecipado pelos mercados para agosto não se concretizou
O cenário inflacionário antecipado pelos mercados para agosto não se concretizou, o que poderá esvaziar as manobras articuladas desde o gabinete de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), para pressionar sua diretoria a retomar a política de aumento da taxa básica de juros. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou o mês passado em leve baixa de 0,02%, saindo de altas de 0,38% em julho e de 0,19% nas quatro semanas encerradas em 14 de agosto. O resultado final do mês mostra uma desaceleração importante no ritmo de variação dos preços em geral, refletindo principalmente as quedas nas tarifas da energia residencial e nos preços das passagens aéreas, que saíram de forte alta em julho.
Na mediana das previsões do mercado financeiro, conforme apurado pelo relatório Focus, havia a expectativa de uma elevação de 0,02% para o IPCA de agosto, com algumas casas financeiras antecipando um índice mais próximo de 0,03%. Parece mesmo uma discussão estéril, já que envolve alguma coisa ali na segunda casa depois da vírgula. Mas o fato é que a inflação que os mercados tentaram antecipar chegava a ser duas ou mais vezes mais elevada do que o índice de fato capturado pelas pesquisas do IBGE. O comportamento dos preços das passagens aéreas, que se caracteriza por sua extrema volatilidade, de fato influenciou na queda observada para a taxa inflacionária em agosto, ainda que o item tenha peso inferior a 0,65% no cálculo do IPCA.
A influência das passagens
Em julho, quando o índice “cheio” da inflação oficial havia alcançado 0,38%, as passagens aéreas tinham disparado, saltando 19,39% e respondendo por quase 28% na composição do IPCA. Para quem não comprou passagens naquele período, mas consumiu um pouco de cada item da cesta de produtos que formam o IPCA, a inflação ficou limitada a 0,27%. Na quadrissemana terminada em 14 de agosto, com o IPCA recuando para 0,19%, o custo da passagem aérea passou a indicar queda de 4,63% e encerraria o período entre 30 de julho a 29 de agosto em baixa de 4,93%. Com a exclusão da passagem do cálculo, o IPCA teria saído de 0,27% em julho para 0,16% na primeira quinzena de agosto, encerrando as quatro semanas daquele mês com variação de apenas 0,01%. Em resumo, o cenário inflacionário tem se mantido benigno, com o IPCA acumulado em 12 meses saindo de 4,61% em agosto do ano passado para 4,24% no mesmo mês deste ano, mesmo diante de pressões vindas da alta do dólar, que subiu 13,24% entre agosto do ano passado e o mesmo mês deste ano, na média de cada período.