Inflação desacelera no começo de outubro no País. Mas sobe em Goiânia

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de outubro de 2023

Se você e sua família, raras leitoras e raros leitores, não gastaram um único centavo na compra de passagens áreas entre 15 de setembro e 13 de outubro, período coberto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua taxa de inflação deve ter recuado para alguma coisa ao redor de 0,05% naquelas quatro semanas. Ainda mais baixa do que a inflação de 0,19% observada nos 30 dias de setembro, já com a exclusão das passagens aéreas, um item de alta volatilidade. Tanto assim que, a despeito do aumento de 13,47% ao longo de todo o mês passado e do salto de 23,75% registrado pelas pesquisas do IBGE na segunda quadrissemana de outubro, a alta acumulada em 12 meses limitou-se a 3,80% por conta de fortes quedas registradas em meses anteriores.

A “surpresa altista” trazida pelo setor de transporte aéreo de passageiros, conforme anota o Itaú BBA em seu relatório sobre o IPCA-15 de outubro, concentrou as pressões sobre o indicador de preços do IBGE, que mesmo assim recuou de 0,26% nas quatro semanas de setembro para 0,21% na quadrissemana finalizado no dia 13 de outubro (o que se compara ainda com a taxa de 0,35% alcançada na segunda quadrissemana de agosto, segundo o IPCA-15 do período). Os dados recentes mostram que a tendência de desaceleração ainda persiste, a despeito da perda relativa de intensidade na “desinflação” aferida pelo IBGE.

Ao contrário da tendência geral registrada pelo IPCA-15, a inflação até a primeira metade de outubro em Goiânia atingiu 0,63%, a taxa mais elevada entre as 11 capitais acompanhadas pelo IBGE, diante de uma taxa de negativa de 0,11% nos 30 dias de setembro. A elevação veio na esteira de uma queda menos acentuada nos preços dos alimentos, saindo de -0,94% em setembro para -0,01% até 13 de outubro, e da energia, que recuou 0,03% nos 30 dias terminados no último dia 13, depois de cair 2,97% em setembro. As passagens áreas saltaram 30,33%, mas tiveram influência de menos de 18,0% na composição do IPCA-15 deste mês na capital do Estado. Ao mesmo tempo, a alta dos combustíveis nos mesmos períodos cedeu de 3,65% para 2,10%.

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Conforme o Itaú BBA, o IPCA-15 de outubro superou suas projeções, que indicavam uma elevação de 0,14% para o período, mas aproximou-se muito das expectativas do mercado financeiro, que sugeriam, na mediana das previsões, uma inflação de 0,20%. De uma maneira ou de outra, o desafogo nesta área vem se mantendo, ainda que as quedas nos preços médios dos alimentos, que têm sustentado em grande parte o processo de recuo das taxas inflacionárias, tenham se revelado menos intensas do que nos meses anteriores.

Mais ao centro

A inflação acumulada em 12 meses até 13 de outubro deste ano atingiu 5,05%, com grandes chances de fechar o mês abaixo desses níveis e já muito próximo do teto da meta inflacionária, fixado em 4,75% para este ano (ou 1,5 ponto percentual acima do centro da média, definido em 3,25%). Na taxa acumulada em 12 meses até a primeira metade deste mês, o índice mensal de 0,21% observado entre as duas semanas finais de setembro e a primeira quinzena de outubro “substituiu” o IPCA-15 de outubro do ano passado, que havia sido de 0,16% – ainda como reflexo da queda artificial dos preços dos combustíveis. A inflação nas quatro semanas de outubro do ano passado, no entanto, havia atingido 0,59%, em forte aceleração na comparação com o índice anterior. Neste ano, na hipótese de se manter o ritmo de alta observado nas primeiras duas semanas deste mês, a inflação acumulada em 12 meses estaria mais próxima de 4,75%.

Balanço

  • Considerando as expectativas menos animadoras do mercado, que tem apostado em uma inflação de 0,27% para este mês (também inferior à inflação de 0,59% em outubro do ano passado), a taxa acumulada em 12 meses tenderia a alcançar 4,85%. O relatório Focus do Banco Central (BC), que registra as projeções do setor financeiro sobre o IPCA e também sobre o Produto Interno Bruto (PIB), anota uma projeção de 4,65% para o IPCA de 2023, já abaixo do ponto mais alto da meta inflacionária deste ano.
  • As projeções capturadas pelo Focus mostram que os mercados regularam suas previsões para 0,30% e 0,51% para a taxa de inflação respectivamente de novembro e dezembro. Considerando as previsões para o último trimestre deste ano e a inflação acumulada até setembro, o IPCA deste ano tenderia a ficar mais perto de 4,62%. 
  • Aparentemente, esse tipo de discussão parece inócuo, já que as diferenças estariam na segunda casa depois da vírgula. E de fato há certa ociosidade nessa discussão, muito embora os mercados pareçam muito ciosos de suas projeções, que invariavelmente incluem dois dígitos depois da vírgula como se isso fosse afetar terrivelmente o dia a dia dos brasileiros. O mais relevante aqui é deixar registrado que a inflação já caminha rumo à meta anual, o que deveria “animar” a turma dos loucos por juros altos a aliviar mais rapidamente o arrocho imposto à economia como um todo.
  • O resultado preliminar da inflação de outubro, ainda que tenha trazido algumas pressões altistas, continua bastante promissor, com a exclusão ou não de itens mais instáveis, a exemplo das passagens aéreas. A inflação dos chamados “núcleos” nos setores de serviços e industriais, que excluem aqueles itens, “veio melhor do que a nossa projeção”, observa o Itaú BBA. No primeiro caso, o índice ficou em 0,14% (saindo de 0,33% em setembro), enquanto o núcleo da inflação de bens industriais limitou a 0,02% (diante de -0,16% nos 30 dias de setembro).
  • “Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, a leitura do IPCA-EX3, núcleos de serviços e bens subjacentes [com exclusão de preços muito voláteis e que não respondem necessariamente ao ritmo da atividade na economia], desacelerou para 2,8%, de 3,3% em setembro e 6,3% em junho desse ano”, registra o boletim do Itaú BBA, com o economês usual.
  • Aquele comportamento, sempre considerando a média móvel trimestral, “com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes [que excluem comunicação, cursos regulares e passagens aéreas] desaceleraram para 3,8% (de 4,1%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes desacelerou para 1,4% (de 1,9%)”, apontam os analistas do banco.