Inflação dos alimentos chega a 12,0% no ano e combustíveis baixam 26,5%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 26 de outubro de 2022

O teto imposto pelo governo federal à cobrança de impostos estaduais sobre combustíveis desempenhou papel decisivo para reduzir os índices de inflação a partir de julho. As mudanças tributárias, aprovadas de última hora e com propósitos nitidamente eleitoreiros, foram aplicadas igualmente aos setores de energia elétrica e de comunicações, com efeitos igualmente deflacionários (quer dizer, contribuíram para produzir redução nos preços médios em geral cobrados do consumidor em geral). A baixa nas despesas com combustíveis, no entanto, teve contribuição mais relevante para amenizar o peso da inflação sobretudo para as classes média e alta, que utilizam o carro no seu dia a dia. Esse efeito, como já se antecipava desde o início, será temporário e já começa a perder força.

Para uma faixa mais ampla da população, os efeitos desse barateamento temporário da gasolina, do etanol e do diesel foram mais limitados, já que os gastos com alimentação comprometem uma parcela maior do orçamento das famílias de renda mais baixa. Entre janeiro e a primeira quinzena de outubro, segundo acompanhamento realizado regularmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços dos combustíveis despencaram 26,54%. Considerando o peso dos combustíveis no cálculo da inflação, algo em torno de 5,92% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), esse grupo retirou do índice geral alguma coisa próxima a 1,57 pontos percentuais, deixando a inflação acumulada em nove meses e meio em 4,80%.

O custo dos alimentos no domicílio, que responde por 15,89% de todos os gastos das famílias com renda entre um e 40 salários mínimos, experimentou salto de 11,98% em quase 10 meses, respondendo por praticamente 40% do índice geral. No caso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que acompanha o custo de vida de famílias com renda entre um e cinco salários mínimos, os alimentos consumidos em casa subiram 10,83% entre janeiro e o final da segunda semana deste mês. A alta parece relativamente menor, mas o estrago foi maior porque o peso da alimentação em domicílio no INPC chega a 19,61%. Diante dessa relação, a alta dos alimentos respondeu por 49,2% do INPC, que acumulou variação de 4,32% desde janeiro.

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O jogo dos combustíveis

Por isso mesmo, quando excluídos os combustíveis do cálculo da inflação, o IPCA passa a anotar uma variação quase um terço maior do que aquela observada pela pesquisa integral. A inflação medida pelo IPCA, sem os combustíveis, registrou alta de 6,37%. No INPC, como o peso dos combustíveis é ligeiramente mais baixo (5,56% frente a 5,92% no IPCA), a retirada do grupo de despesas com combustíveis do cálculo do índice traz um efeito menor, com a inflação dos demais preços variando 5,73%. Da mesma forma, o indicador é quase um terço mais elevado do a inflação cheia medida pelo INPC.

Balanço

  • A alta nos custos dos alimentos consumidos dentro de casa, aqui considerados por serem mais importantes na cesta de consumo das famílias, especialmente para aquelas de menor renda, tem evidentemente impactos diferentes conforme a faixa de renda avaliada, como visto. Assim, o aumento de 11,98% na medição feita pelo IPCA resultou num acréscimo de 1,90 pontos no índice geral. A alta de 10,83% registrada pelo INPC, embora um pouco menor, teve como consequência o acréscimo de 2,12 pontos. O dado reafirma o estrago maior causado pelo encarecimento da alimentação em domicílio para as famílias de renda mais baixa.
  • O aumento da cesta básica e o esvaziamento da política de concessão de aumentos reais para o salário mínimo têm resultado no aumento da carestia para todas as famílias que dependem do mínimo para sobreviver.
  • Descontado o percentual de 7,5% do salário destinado à Previdência, o custo da cesta básica passou a representar 58,10% do valor do salário mínimo em setembro deste ano, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Para comparação, aquela relação havia sido de 46,27% em dezembro de 2014, chegando a 45,59% no final de 2018.
  • Os trabalhadores naquela faixa de renda tiveram que trabalhar 118 horas e 14 minutos apenas para comprar a cesta básica, diante de 93 horas e 39 minutos em dezembro de 2014 e de 92 horas e 17 minutos em dezembro de 2018.
  • Ainda com base nos dados do Dieese, o salário mínimo variou 27,04% entre dezembro de 2018 e setembro deste ano, saindo de R$ 954 para R$ 1.212. Mas o ganho mínimo necessário para assegurar uma vida mais digna para as famílias aumentou nada menos do que 59,2%, saltando de R$ 3.960,57 para R$ 6.306,97. O vencimento mínimo necessário, na estimativa do Dieese, passou a ser 5,2 vezes maior do que o salário mínimo bruto efetivamente recebido pelos trabalhadores. Essa relação chegou a ser 4,11 vezes em 2014, ainda bastante elevada, mas menor do que a relação observada atualmente.
  • De volta ao IPCA-15 de outubro, a taxa média geral deixou o terreno negativo e atingiu 0,16%, depois de três meses de deflação. Descontados os combustíveis, que registraram baixa de 6,14%, já abaixo do tombo de 9,47% acumulado nas quatro semanas finalizadas em 15 de setembro, e o aumento de 28,17% anotado pelos preços das passagens aéreas nos 30 dias encerrados em 15 de outubro, a “inflação” nos demais setores aproximou-se de 0,34%. Considerando os mesmos critérios, a inflação sem combustíveis e passagens havia girado entre 0,20% e 0,19% no IPCA-15 de setembro e nas quatro semanas do mesmo mês.