Inflação mantém ritmo de baixa no começo de julho

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 26 de julho de 2023

A queda persistente da inflação na primeira quinzena de julho guarda relação também, mas não exclusiva, com os incentivos distribuídos pelo governo à indústria automobilística, destinados a estimular as vendas de automóveis novos, barateando momentaneamente seus preços. Mas este não foi o único motivo para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) se mantivesse em terreno negativo. O processo de “desinflação” alcança outros setores, incluindo alguns sobre os quais a demanda exerce influência mais relevante – e o fato de se manterem em queda diz muito sobre o estado atual da demanda doméstica a esta altura.

O IPCA-15 de julho, medido entre os dias 15 de junho e 13 de julho, registrou deflação (“inflação negativa”) de 0,07% e praticamente repetiu o resultado observado nos 30 dias de junho, quando o IPCA havia anotado baixa de 0,08%. Ajudaram a derrubar o índice a queda continuada dos preços dos alimentos no domicílio (-0,81% em junho e -0,72% em julho, sempre com base no IPCA-15), a redução da tarifa de energia elétrica residencial (-3,45% em julho, depois de subir 1,45% em junho) e do gás de botijão (-2,99% em junho e -2,10% em julho), além das baixas observadas nos preços dos automóveis novos (-2,34%), eletroeletrônicos (-0,89%), televisores, sistemas de som e equipamentos de informática (-2,02%).

Como se observa, os preços dos chamados bens industriais entraram em franca desaceleração e não somente por conta dos descontos nos preços dos automóveis. Há nitidamente um esfriamento da demanda, o que tem influenciado aqueles preços para baixo. Na desagregação feita pelo Itaú BBA, os preços dos bens industriais caíram 0,55% nas quatro semanas finalizadas encerradas em 13 de julho, com tendência de desinflação verificada desde junho.

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A maioria em queda

As análises têm em geral destacado a influência dos descontos nos preços dos carros na taxa de inflação, mas a “desinflação” ocorre em outros setores da economia, atingindo quatro entre os nove grupos de despesas que ajudam a compor o IPCA. Excluídos os automóveis, por exemplo, o IPCA-15 de junho teria alcançado 0,07%, diante de 0,04% anotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baixando para zero até o final da primeira quinzena de julho. Adicionalmente, o indicador de difusão, que afere o percentual de itens e/ou produtos em alta, foi reduzido para 47,96% em julho (o que significa dizer que 52,04% dos itens pesquisados não subiram ou experimentaram queda). Para comparar, esse indicador havia registrado 67,8% em julho do ano passado, muito embora o IPCA cheio tenha ficado negativo em 0,68% por conta da suspensão na cobrança de contribuições federais e redução de impostos federais sobre combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica e comunicação.

As pressões altistas vieram principalmente da gasolina, que subiu 2,99% depois de ter caído 3,40% em junho, numa elevação parcialmente compensada pela redução de 3,48% e de 0,70% nos preços do diesel e do etanol, respectivamente. As passagens aéreas subiram 4,70% (embora com efeito limitado sobre o orçamento da maior parcela das famílias) e a alimentação fora de casa também ficou mais cara, numa elevação de 0,46% como consequência principalmente do aumento de 1,02% no custo do lanche.

Balanço

  • Além dos impactos da safra recorde, próxima de 317,6 milhões de toneladas, perto de 44,9 milhões de toneladas a mais do que na safra anterior, os preços dos alimentos vêm anotando bom comportamento também em função da maior oferta de carne e consequente redução nos preços do boi gordo, tendência reforçada pelo recuo das exportações neste setor.
  • Em conjunto, o grupo carnes apresentou redução média de 2,42% nos preços ao longo das quatro semanas finalizadas em 13 de julho, depois de já haverem registrado baixa de 1,13% na medição de junho. O IBGE, responsável pela apuração e divulgação do IPCA, anotou reduções ainda para os preços do feijão carioca, num tombo de 10,20% (acelerando o ritmo de queda diante da redução de 2,53% anotada em junho), assim como para o óleo de soja e para leite longa vida. Na mesma sequência, as quedas foram de 6,14% e de 2,50%. No caso do óleo de soja, o ritmo de baixa foi menos intenso do que em junho, quando os preços haviam registrado redução de 8,95%. Para o leite longa vida, a queda ganhou maior fôlego quando se considera o recuo de 1,44% ocorrido nos 30 dias até 14 de junho passado.
  • A alta projetada para os combustíveis com o retorno da tributação, reduzida a zero no ano passado, no caso das contribuições federais, numa tentativa vã do desgoverno instalado no Planalto de conquistar mentes e corações durante a campanha eleitoral, vem sendo parcialmente compensada pela redução de preços nas refinarias, mas tende a exercer alguma pressão sobre a taxa inflacionária. Assim como o fim do programa federal de descontos para automóveis.
  • Os governos estaduais normalizaram a cobrança do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) desde 1º de junho, como impactos maiores sobre os preços da gasolina. O governo federal voltou a cobrar integralmente PIS e Cofins desde 1º de julho, acrescentando R$ 0,34 por litro de gasolina e R$ 0,22 para o etanol. Em alguns cálculos, a tributação total sobre a gasolina, considerando impostos estaduais e federais, deve ter sido elevada de 29% até junho para 35,3%, subindo de 12,9% para 18,8% no caso do etanol.
  • De toda forma, o IPCA-15 de julho ficou ligeiramente abaixo das projeções do mercado financeiro, que apostava em uma taxa negativa também, mas mais próxima de 0,03%. As análises do setor antecipam a continuidade da tendência de “desinflação”, ainda que sugiram um ritmo lento de perda de ritmo para os preços em geral. O mercado persiste da prática de seu “conservadorismo desinteressado”, embora venha revisando lentamente para baixo as previsões para a inflação deste ano, saindo de 5,06% há pouco mais de quatro semanas para 4,90%. Ainda acima do teto da meta, fixado em 4,75% neste ano (considerando-se 3,25% para o centro da meta e a margem de 1,5 ponto percentual para baixo e para cima como intervalo de tolerância).
  • Nessas projeções, as taxas mensais para o IPCA atingiriam 0,10% nas quatro semanas de julho, subindo até 0,31% em agosto para recuar levemente até 0,28% em setembro. Se confirmadas, as projeções elevariam o IPCA acumulado em 12 meses de 3,16% em junho para algo mais próximo de 5,27% até setembro (sempre tomando períodos de 12 meses), já que o IPCA havia ficado negativo nos mesmos três meses do ano passado (-0,68% em julho, -0,36% em agosto e -0,29% em setembro, acumulando baixa de 1,32% em três meses). Caso a taxa se sustente em 0,3% mensais em todos os três últimos meses deste ano, o IPCA tenderia a encerrar o ano em 4,52% – ou seja, dentro do espaço de tolerância admitido pela política de metas inflacionárias.