Inflação perde força no final de julho e recua para (apenas) 0,26%
A taxa de inflação oficial, aferida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem se mantido praticamente estabilizada em torno de 0,26% desde a quinzena final de maio e acumulou uma variação de 0,76% nos três últimos meses. O ritmo tem sido nitidamente inferior àquele observado nos mesmos meses do ano passado, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia anotado variação de 1,05% também entre maio e julho.
O comportamento recente dos preços reforça os indícios de desaceleração no ritmo de alta em toda a economia, sob liderança dos preços dos alimentos, que caíram em junho e julho, e também pela redução nos custos de transporte, influenciados pela queda nos preços dos combustíveis.
No curtíssimo prazo, a inflação não teve fôlego para sustentar a ligeira elevação observada na saída de junho para a quinzena inicial de julho, quando a taxa subiu de 0,24% para 0,33% na medição do IPCA-15 referente ao mês passado. Isso refletiu, especialmente, as altas nos preços das passagens aéreas (19,86%), transporte por aplicativo (14,55%) e tarifas de energia elétrica residencial (3,01%). No fechamento de julho, cobrindo os 30 dias do período, o IPCA indicou variação de 0,26%, retomando o ritmo mensal observado desde o fim de maio.
Naquele mesmo período, as passagens aéreas aceleraram ligeiramente, subindo 19,92% nas quatro semanas de julho, mas o transporte por aplicativo caiu 3,41%, enquanto a energia elétrica manteve alta próxima, de 3,04%. Na aferição mais recente, energia e passagens aéreas responderam por pouco mais de 85% do IPCA total. A taxa mensal veio abaixo das projeções do mercado financeiro, que esperava 0,36% para julho, ou seja, 0,10 ponto percentual acima do resultado real.
Alimentos e combustíveis
Nos últimos meses, as taxas inflacionárias têm sido contidas pela combinação de alimentos mais baratos e redução nos preços dos combustíveis. Considerando o IPCA mensal, os combustíveis caíram 0,72% em maio, 0,42% em junho e 0,64% em julho. Já a inflação de alimentos e bebidas, que chegou a 1,17% em março, recuou para 0,82% em abril, 0,17% em maio e apresentou deflação de 0,18% em junho e 0,27% em julho.
Em relação ao comportamento dos demais preços, uma estimativa da coluna, com base nos dados do IBGE, mostra que, ao se retirar do IPCA itens voláteis como passagens aéreas, alimentos, energia e combustíveis, a inflação dos demais grupos caiu de 0,19% em junho para 0,15% entre 14 de junho e 15 de julho (IPCA-15), e para 0,14% no fechamento do mês. Mantido esse ritmo, a taxa anual ficaria próxima de 1,8%, menos da metade do piso da meta inflacionária de 3,50% para 12 meses.
Os preços monitorados — submetidos a contrato ou definidos pelo poder público — subiram 0,67% em julho, contra 0,60% no mês anterior, num ritmo bem superior à média geral dos preços. Isso reforça a análise de que boa parte da inflação vem de reajustes controlados, pouco relacionados à demanda, alvo da política de juros altos.
Na prática, juros elevados visam desacelerar a economia, aumentar o desemprego e conter salários, reduzindo o consumo. Mas os dados do IBGE mostram que, em junho e julho, preços monitorados responderam por mais de dois terços do IPCA: 64,7% em junho e 67,2% em julho. Sem esses preços, a inflação média nos demais itens ficou próxima de 0,09% nos dois meses, muito graças aos alimentos e combustíveis.
Num exercício adicional, excluindo também esses dois grupos, a variação em julho teria sido de 0,18%, contra 0,15% em junho — valores distantes de uma “explosão inflacionária” que justificasse juros básicos em 15% ao ano.
Por fim, mesmo com a imposição de tarifas pelos EUA a produtos brasileiros, o impacto sobre os preços internos desses itens foi mínimo. Carnes, laranja, suco de frutas e café recuaram 0,02% em julho. Apenas o suco subiu (0,18%), enquanto a laranja-pera caiu 6,36%, as carnes 0,30% e o café moído 1,01%.
Balanço da inflação
Mas como os demais preços têm se comportado? Segundo estimativa da coluna, construída a partir de dados do IBGE, ao se retirar do IPCA itens mais voláteis ,como passagens aéreas e outros com grande peso no cálculo do índice, como alimentos, energia e combustíveis, a “inflação” dos demais grupos de gastos recuou levemente nos últimos meses: passou de 0,19% em junho para 0,15% entre 14 de junho e 15 de julho (IPCA-15) e, no encerramento do mês passado, ficou em 0,14%. Mantido esse ritmo nos próximos 12 meses, a taxa de variação desses preços estaria avançando a um ritmo anual de cerca de 1,8% — menos da metade do piso estabelecido para a meta inflacionária deste ano, fixada em 3,50% no acumulado de 12 meses.
Já os preços de bens e serviços monitorados — aqueles submetidos a algum tipo de contrato ou definidos pelo setor público federal, estadual ou municipal — registraram alta de 0,67% em julho, após avanço de 0,60% no mês anterior, um ritmo muito mais intenso do que a variação média de todos os preços na economia. O dado reforça a análise de que a inflação corrente tem sido determinada, em grande medida, por fatores e decisões pouco relacionados ao comportamento da demanda. Ou seja, uma parte expressiva das taxas inflacionárias decorre de aumentos de preços “controlados” (ou monitorados), que não respondem às pressões de consumo — alvo central da política de juros elevados em vigor no país.
O objetivo, em última instância, dos juros altos é desacelerar a atividade econômica, elevando o desemprego para que os salários caiam ou deixem de subir, esfriando o consumo e, teoricamente, reduzindo as pressões sobre os preços. No entanto, as estatísticas do IBGE indicam um cenário diferente do considerado pela direção do Banco Central. Em junho e novamente em julho, os preços monitorados responderam por mais de dois terços do IPCA. Na conta final, sua participação no índice foi de 64,7% em junho e chegou a quase 67,2% em julho.
Ao se descontar esses preços, a taxa média de inflação no restante da economia ficou próxima de 0,09% nos dois meses, influenciada principalmente pela queda de alimentos e combustíveis. Em um exercício adicional, excluindo também esses dois grupos, a variação dos preços restantes em julho foi de cerca de 0,18%, contra 0,15% em junho — nada que se assemelhe a uma “explosão inflacionária” capaz de justificar uma taxa básica de juros em torno de 15% ao ano.
Além disso, apesar da turbulência causada pelo autoritarismo errático da administração dos Estados Unidos e da imposição de tarifas sobre produtos exportados, até o momento houve pouco ou nenhum impacto nos preços internos desses mesmos bens. Em julho, o conjunto formado por carnes, laranja, suco de frutas e café registrou variação negativa de 0,02%. Nesse grupo, apenas o suco de frutas subiu (0,18% no mês), enquanto a laranja-pera ficou 6,36% mais barata, as carnes caíram 0,30% e o café moído teve queda de 1,01%.