Inflação recua, fica abaixo do esperado e pressão altista cede na agropecuária

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de abril de 2021

Depois de duas semanas de estabilidade, a inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou desaceleração nas duas semanas seguintes, fechando as quatro semanas encerradas em 13 de abril em 0,60%,como mostram os resultados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15(IPCA-15) deste mês. A taxa ficou abaixo das previsões dos mercados, que haviam antecipado variação de 0,66% para o período. Para relembrar, os preços haviam anotado variação média de 0,93% em 30 dias até 15 de março e mantiveram a mesma taxa nas duas semanas seguintes, conforme registrado pelo IPCA “cheio” de março (isto é, nas quatro semanas daquele mês comparadas às quatro semanas imediatamente anteriores).

Essa “estabilidade” na taxa mostra que os preços em geral, na média, não anotaram qualquer variação naquelas duas semanas, o que foi uma novidade após semanas consecutivas de altas, quinzena a quinzena, puxadas principalmente pelos combustíveis e gás de cozinha. O resultado do IPCA-15 de abril reforça a tendência mais comportada da inflação, indicada pela desaceleração observada mesmo quando descontados aqueles produtos mais voláteis ou com flutuações mais intensas.

Essa moderação, no entanto, não significa que a inflação acumulada em 12 meses voltará recuar tão depressa. Isso se explica pelo fato de as taxas terem sido muito baixas e até negativas entre abril e junho do ano passado. Na série acumulada em 12 meses, os índices mais baixos registrados naqueles períodos do ano passado, quando as medidas de restrição à circulação de pessoas haviam sido mais duras, vão ceder o lugar para taxas mensais relativamente mais elevadas observadas neste ano, mas as expectativas apontam para uma acomodação mais à frente. Mesmo o setor financeiro trabalha com a perspectiva de uma inflação em torno de 5,01% nos 12 meses deste ano, segundo o relatório Focus do Banco Central (BC), diante de uma projeção de 4,81% firmada no finalzinho de março. Numa aposta de prazo relativamente mais longo, as apostas dos mercados sugerem uma inflação ao redor de 3,60% no próximo ano, o que não sugere o temor de descontrole inflacionário à frente.

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Pressão menor no campo

O comportamento dos preços recebidos pelos produtores rurais, capturado pelo Índice de Preços ao Produtor de Grupos de Produtos Agropecuários (IPPA), do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostra pressões menores vindas do campo. O levantamento mais recente, referente ao primeiro trimestre deste ano, mostra uma queda real de 5,5% para os preços da agropecuária em geral frente ao último trimestre de 2020. Os preços dos grãos baixaram 3,3%, com destaque para as reduções observadas para os preços do arroz e da soja. A queda foi mais intensa na pecuária, com baixa de 7,1% na mesma comparação, refletindo os preços menores recebidos pelos produtores de leite e criadores de suínos. Os preços dos produtos hortifrutícolas desabaram 19,2%, com baixa generalizada. O Cepea desataca, no caso, as quedas anotadas para os preços do tomate, da uva e da banana. Cana e café recuaram 1,1% (com perdas para produtores de cana e algum avanço no caso do grão).

Balanço

  • Esse comportamento dos preços no campo poderá trazer algum alívio nas pressões observadas no atacado, com possível impacto baixista, mais adiante, nos preços cobrados ao consumidor final. De qualquer forma, trata-se de um ponto de tensão a menos no cenário inflacionário.
  • A redução real na passagem do quarto trimestre do ano passado para o primeiro deste ano, já descontada a variação dos preços em geral no atacado medida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), veio depois de meses de escalada. Apesar dessa baixa, os preços pagos aos produtores ainda se encontravam 14,1% mais altos do que no primeiro trimestre do ano passado, com saltos de 32,8% para os grãos e avanço de 4,7% nos preços da pecuária. Como exceções, hortifrútis, cana e café ficaram mais baratos naqueles 12 meses, com baixas de 9,8% para verduras, legumes e frutas e de 10,8% na média dos preços do segundo grupo.
  • Na composição do IPCA-15 deste mês, as altas da gasolina, do etanol, do óleo diesel e do botijão de gás responderam por 58,3% da taxa acumulada em quatro semanas. A contribuição havia sido de mais de 82,0% no IPCA de março. Houve desaceleração para todos aqueles preços, a começar pela gasolina, que havia subido 11,26% em março e passou a anotar variação de 5,49% entre as duas semanas finais do mês passado e a primeira quinzena deste mês.
  • Os aumentos do etanol, do diesel e do botijão de gás saíram de 12,59%, 9,05% e 4,98%, respectivamente, para 1,46%, 2,54% e 2,49%.
  • Alimentação e bebidas, que vinham em desaceleração mais acentuada, subiram um pouco mais no índice mais recente, saindo de uma variação de 0,13% em março para 0,36% segundo o IPCA-15 de abril. A alimentação no domicílio saiu de ligeiro recuo em março para elevação de 0,19%, refletindo os reajustes de 1,73% no preço do pão francês e de 1,75% no leite longa vida.
  • Na média calculada pelo Itaú BBA, os “núcleos” da inflação – medida que descarta variações atípicas e preços mais voláteis, refletindo a tendência dos preços mais influenciados pelos ciclos da demanda – saíram de 0,65% em janeiro para 0,46% no mês seguinte, recuando para 0,41% em março e agora em abril para 0,33%.
  • Nas projeções anda preliminares do banco, o IPCA tende a fechar abril com variação de 0,36% (quase metade da taxa atual), chegando a 0,55% em maio e a 0,18% em junho. Caso se confirmem as previsões, a inflação no segundo trimestre atingiria 1,09%, ainda conforme o Itaú BBA, o que se compara com recuo de 0,43% registrado no mesmo trimestre do ano passado.
  • Ainda conforme o banco, as pressões altistas verificadas no curto prazo podem ser explicadas pela aceleração dos preços administrados, com destaque para medicamentos e energia elétrica. Os economistas do Itaú BBA acreditam que o governo deverá anunciar a adoção da bandeira vermelha (nível 1) para a tarifa de energia a partir de maio, em decisão a ser anunciada na sexta, dia 30.