Excluído salto das passagens aéreas, inflação recua no começo de julho

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de julho de 2024

A elevação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de julho, aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os dias 15 de junho e 15 deste mês, foi causada em grande medida pela escalada dos preços das passagens aéreas, que vinham em baixa até o final de junho, e pelo aumento nos preços da gasolina e, em menor proporção, também do etanol. No geral, o índice avançou de 0,21% nos 30 dias de junho para 0,30% nas quatro semanas terminadas na primeira quinzena de julho, refletindo principalmente a “inflação” dos transportes, que avançou 1,12% na medição mais recente. Para comparar, os custos dos transportes haviam recuado 0,19% em junho.

O setor de transportes isoladamente contribuiu com quase 66,7% na composição do IPCA-15 de julho e apenas dois itens – passagens áreas e gasolina – tiveram participação de 61,8% na formação do índice geral. Um dos principais impactos negativos, particularmente no caso dos combustíveis, veio do reajuste dos preços anunciado pela Petrobrás no começo de julho, com correção de 7,11% para a gasolina nas refinarias. O repasse daquele aumento para os preços na bomba levaram à alta também do etanol, principal concorrente do combustível fóssil no mercado doméstico.

Além de uma volatilidade evidente, os custos das passagens aéreas têm participação limitada na cesta de produtos consumidos pelas famílias e que serve de base para o cálculo da inflação mensal pelo IBGE, respondendo por 0,61% do custo de vida total. Como as variações nesta área têm sido vigorosas, para baixo e para cima, as passagens acabam influindo de forma relevante na composição da carestia mensal. Na prática, para a maioria das famílias que não tiveram gastos com passagens, a inflação foi mais baixa e, mais do que isto, o índice anotou recuo nas primeiras semanas de julho, o que deveria, numa economia mais racional, reforçar os votos dentro do Comitê de Política Monetária (Copom) em favor da retomada da redução dos juros básicos.

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E até deflação

Excluídas as passagens aéreas, a inflação observada em todos os demais setores da economia, que havia alcançado 0,27% nas quatro semanas de junho, passou a registrar variação de apenas 0,18% nos 30 dias encerrados em 15 de julho. De acordo com o IBGE, um grupo restrito de oito itens e/ou produtos foi responsável por toda a inflação medida pelo IPCA-15 de julho, com sobras. Em conjunto, passagens aéreas, gasolina, energia elétrica residencial, seguro voluntário de veículo, plano de saúde, taxa de condomínio, leite longa vida e serviços bancários saíram de uma variação de 0,07% em junho para 0,36% em julho. A inflação registrada pelos demais setores, com exclusão daquele grupo, havia atingido 0,14% em junho. Nas quatro semanas terminadas em 15 de julho, houve deflação (inflação negativa) de 0,06%.

Balanço

  • Em resumo, não há pressões altistas sobre os preços causadas por desencontros entre a demanda e a oferta de produtos na economia, quando a alta de juros poderia trazer algum alívio ao regular alguma eventual tendência de crescimento excessivo do consumo. A inflação tem flutuado ao sabor de fatores específicos e localizados, a exemplo dos aumentos dos preços dos alimentos entre o final de maio e o começo de junho, e agora com o reajuste dos combustíveis e pressões motivadas pelas flutuações aparentemente desmedidas das passagens aéreas.
  • Mesmo aquelas altas não têm “contaminado” os demais preços na economia, vale dizer, setores econômicos majoritários não têm tomado como base a elevação ocorrida em áreas específicas e limitadas para remarcar seus próprios preços – a tal “inflação inercial”, ao que sugerem os dados do IBGE, não tem prevalecido.
  • O IPCA-15 de julho, de todo modo, veio um pouco acima dos níveis antecipados pelos mercados, que haviam centrado suas apostas numa variação de 0,22% para o período, com surpresas altistas precisamente para as passagens aéreas e serviços associados ao setor de veículos (a exemplo do seguro).
  • Para reforçar, somados, os aumentos das passagens e do seguro para veículos, com maior influência para o primeiro, explicaram mais da metade do IPCA-15 de julho. Mais uma vez, apenas para reforçar o argumento, com a exclusão de passagens e seguro de carros, os demais preços reduziram sua “inflação” pela metade, encolhendo de 0,28% em junho para 0,14% na segunda quadrissemana de julho, o que apenas deixa mais claro o caráter transitório da alta observada mais recentemente para o índice geral.
  • A expectativa dos mercados de uma inflação mais pressionada daqui para frente parece largamente relacionada a uma suposta tendência de encarecimento dos serviços, assim como dos chamados “preços industriais”, que incluem itens como eletrodomésticos, televisores, aparelho de som, automóveis e outros bens manufaturados. Neste último grupo, as análises sugerem que os preços tenderão a refletir o impacto da alta do dólar, já que parte de suas peças, seus acessórios e componentes são importados.
  • Dado o cenário antevisto até aqui e ainda considerando que previsões sobre o comportamento do câmbio são tão imprecisas quando projeções para a atividade econômica produzidas pelos mercados, seria recomendável avaliar o que mostram os dados do Banco Central (BC) nas últimas semanas. Na média, a cotação do dólar comercial em reais parece ter registrado sua variação mais relevante ao longo de junho. Entre abril e maio, o dólar médio havia anotado variação de 0,08% e passou a subir 4,99% tomando o fechamento médio diário ao longo dos 30 dias de junho na comparação com igual período de maio.
  • No acumulado até ontem, a moeda norte-americana havia registrado elevação de 2,89% diante dos primeiros 25 dias de junho, sugerindo uma desaceleração no ritmo de alta. Essa redução no ritmo de avanço do dólar poderá influir de forma mais positiva na formação de preços de setores que mais dependem de importações ou que têm seus preços denominados na moeda estrangeira.