Inflação veio abaixo do previsto. E Tesouro registra superávit (de novo)

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de maio de 2024

Medido entre 15 de abril e 16 de maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) deste mês, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), voltou a apresentar bom comportamento, com elevação inferior àquela projetada pelos mercados. O ritmo de elevação da taxa perdeu intensidade, embora mantivesse uma tendência marginal de alta, novamente abaixo das expectativas de boa parte dos analistas do sistema financeiro. Na passagem da quadrissemana terminada em 14 de abril para os 30 dias do mesmo mês, o índice havia se movido de 0,21% para 0,38%, subindo 0,17 pontos percentuais. Entre o final de abril e a quadrissemana encerrada em 16 de maio, registrou-se elevação de 0,06 pontos, com o IPCA-15 alcançando 0,44% – em grande medida por conta de pressões altistas de combustíveis, produtos farmacêuticos e combustíveis, que somados responderam por 53% do índice geral.

Em outro indicador observado com atenção pelos mercados, o governo central manteve suas contas em terreno positivo no primeiro quadrimestre, com as receitas superando as despesas em R$ 30,605 bilhões como se poderá conferir mais abaixo. Olhados em conjunto, aqueles dois indicadores deveriam acalmar os mercados e especialmente a equipe do Comitê de Política Monetária (Copom), abrindo espaço para uma aceleração na queda dos juros. Um prognóstico que dificilmente será referendado pela autoridade monetária e muito menos pelos mercados.

Na mediana das projeções, o setor financeiro esperava uma taxa mais próxima de 0,47%, com algumas apostas girando em torno de 0,49%. Entre as “surpresas” baixistas, os preços dos alimentos no domicílio saíram de uma alta de 0,81% nas quatro semanas de abril para uma variação de 0,22% na quadrissemana finalizada no último dia 16. As avaliações mais frequentes sugeriam altas entre 0,46% e 0,50%. A queda nos preços das carnes contribuiu para segurar os custos da alimentação em casa.

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Numa estimativa realizada pela coluna, a exclusão de passagens aéreas, que havia anotado queda de 12,09% em abril, passando a subir 6,04% nas duas primeiras semanas de maio, e de produtos farmacêuticos do cálculo, os preços restantes teriam experimentado variação de 0,32% dentro do IPCA-15 de maio, abaixo da taxa de 0,36% calculada para as quatro semanas de abril. A pressão dos produtos farmacêuticos, que tiveram seus preços elevados pelo governo em 4,5% em 31 de março, já vem se arrefecendo, o que tende a aparecer nas próximas medições, com reflexos positivos sobre o índice geral. Os preços naquela área haviam anotado aumento de 2,84% nas quatro semanas de abril, com a alta cedendo para 2,06% nos 30 dias terminados em 16 de maio.

Abaixo do teto

A taxa de inflação acumulada em 12 meses alcançou 3,70% na medição mais recente, saindo de 4,51% em janeiro deste ano, e continuou abaixo do teto da meta inflacionária estabelecida em 4,50% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano, com o centro da meta fixado em 3,0%. A tragédia gerada pelas enchentes no Rio Grande do Sul surge como um ponto de incerteza para as perspectivas da inflação nos próximos meses, com previsões e análises sugerindo, no entanto, impactos limitados e temporários sobre os preços em geral.

Balanço

  • Embora ainda não se registre impacto mais relevante sobre o índice inflacionário, o IBGE assinala que o sistema de coleta de preços na região chegou a ser afetado marginalmente, diante da impossibilidade de levantamento presencial notadamente a partir de 6 de maio, quando passou a ser intensificada a pesquisa remota. Conforme o IBGE, até aquela data já haviam sido aferidos 70% dos preços, “ainda assim, nem todos os subitens puderam ser coletados por telefone ou pela internet, como foi o caso de alguns subitens do item hortaliças e verduras”.
  • “Para a leitura do IPCA fechado de maio, existe alguma incerteza em relação ao impacto das enchentes no Rio Grande do Sul sobre os preços, ainda assim, esperamos que a média dos núcleos do BC continue em patamar semelhante”, comenta a nota sobre o IPCA-15 da equipe de macroeconomia do Itaú.
  • O comportamento benigno dos preços foi registrado pelos departamentos econômicos do mesmo Itaú e da Warren Investimentos, entre outras casas bancárias, que continuam alimentando expectativas positivas em relação à inflação futura. Grupos relevantes para a definição de tendências para as taxas inflacionárias nos meses a seguir registraram desaceleração recentemente, animando prognósticos aparentemente menos dramáticos do que aqueles manejados pelo Banco Central (BC).
  • Tomando a média móvel trimestral, com dados dessazonalizados e anualizados, registra o Itaú, o índice de variação média dos preços de serviços subjacentes (excluídos itens mais voláteis) desacelerou de 5,8% na leitura anterior para 4,9%, enquanto o núcleo dos preços industriais desabou de 2,6% para apenas 0,5% em 12 meses. Na média dos núcleos de inflação definidos pelo BC, sob o cálculo do Itaú, a variação cedeu de 3,6% para 3,2% igualmente num período de 12 meses.
  • A taxa de inflação dos serviços intensivos em trabalho, como barbeiros, cabeleireiros e outros, que vinha subindo 6,30% em 12 meses, passou a anotar variação de 5,83% na medição da Warren Investimentos.
  • Se o cenário inflacionário segue de certa forma sem maiores ameaças altistas no horizonte, aqui dentro, na área fiscal, os dados não corroboram as análises mais catastrofistas, mais uma vez contrariando a grita da “esquadrilha do ajuste fiscal”. O governo central, incluindo as contas do Tesouro, da Previdência e do BC, encerrou o primeiro quadrimestre deste ano com superávit primário de R$ 30,605 bilhões, perto de 36,9% abaixo do resultado de igual período do ano passado, já descontada a inflação, quando o saldo havia alcançado R$ 46,849 milhões, mas ainda um número positivo.
  • As receitas líquidas experimentaram elevação de R$ 59,945 bilhões, saindo de R$ 670,254 bilhões para quase R$ 730,200 bilhões (alta real de 8,9%). As despesas primárias, excluídos gastos com juros, aumentaram 12,6% a valores de abril deste ano, subindo de R$ 620,501 bilhões para R$ 698,825 bilhões (mais R$ 78,342 bilhões). Mas 37% desse aumento vieram do acerto de precatórios que haviam sido alvo de calote pela equipe de Paulo Guedes.
  • Descontados os precatórios, o superávit primário teria se aproximado de R$ 60,4 bilhões, num crescimento de praticamente 21,4% em relação aos primeiros quatro meses do ano passado.