Coluna

Intenção de investimento encolhe e produção de bens de capital desaba

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 10 de julho de 2020


havia a percepção de que o cenário desfavorável na economia deveria afugentar
investimentos, resultado de uma combinação perversa entre a insegurança elevada
e o encolhimento da demanda, com perspectivas ainda bastante incertas em
relação ao que poderá vir no futuro imediato e de médio prazo. As decisões de
investimento, neste caso, tenderiam a murchar, o que de fato parece ocorrer, a
serem considerados dados mais recentes sobre a produção de bens de capital
(máquinas, equipamentos, essencialmente) e a sondagem divulgada ontem pelo
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

O
indicador de investimentos da fundação sofreu baixa para os menores níveis
desde o início desse tipo de sondagem, em 2012, abaixo inclusive dos números
coletados durante a recessão de 2015/16, portanto. Não surpreende, igualmente,
que os resultados tenham vindo ainda piores para a indústria, que registrou não
só a pior queda como também o indicador mais baixo entre os setores
acompanhados pelo Ibre pela primeira vez desde que o levantamento começou a ser
realizado.

É
claro que o retrocesso está relacionado diretamente à pandemia e aos efeitos
gerados pelas medidas para tentar conter o avanço do novo coronavírus. E o
poderá vir pela frente? Para o economista Rodolpho Tobler, da FGV, “considerando
o patamar historicamente baixo e a elevada e persistente incerteza no País,
fica difícil imaginar um cenário de recuperação completa do indicador no curto
ou médio prazo”.

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De
fato, o indicador de intenção de investimentos, aferido a partir da diferença
entre aqueles que planejam investir e os que não têm planos de investimento nos
próximos 12 meses, caiu a menos da metade na indústria, passando de 119,5 para
56,3 pontos entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. No segundo
trimestre do ano passado, o indicador na indústria havia alcançado 116,3
pontos. No setor de serviços, a intenção de investimentos baixou de 117,1 para
58,4 pontos na saída do primeiro para o segundo trimestres, com redução de
126,0 para 78,2 no comércio e de 107,7 para 64,6 no setor da construção. A fundação
ressalva que os números do primeiro trimestre foram captados ainda antes da
chegada da pandemia por aqui, refletindo o estado de ânimo dos empresários
anterior à crise sanitária.

Incertezas

O
levantamento acompanha ainda o grau de incerteza das empresas em relação à
execução do plano de investimentos desenhado para os 12 meses seguintes. E essa
incerteza mostrou-se igualmente recorde no segundo trimestre nos serviços e na
indústria, atingindo 66,5% no primeiro setor e 49,5% no segundo.Mais de dois terços
das empresas do setor da construção (65,9%) tinham dúvidas em relação ao futuro
do investimento, percentual mais elevado desde o segundo trimestre de 2016. No
comércio, perto de 41,1% das empresas ouvidas pela pesquisa igualmente não
tinham certeza sobre a realização de seus projetos, percentual mais alto desde
o terceiro trimestre de 2017. Com dúvidas e muita insegurança, antecipar a
retomada dos investimentos parece irrealista.

Balanço

·  
A
produção de bens de capital sofreu tombo de 39,4% em maio, na comparação com o
mesmo mês do ano passado, acumulando retração de 21,0% nos primeiros cinco
meses de 2020 (também em relação a igual intervalo de 2019) e baixa de 9,6% em
12 meses.

·  
A
tendência recente, mesmo antes da pandemia, já não era muito promissora para um
setor que está diretamente relacionado a investimentos (já que se trata de
produzir máquinas e equipamentos que deverão ampliar a capacidade das fábricas
e, portanto, ajudarão a expandir a produção mais à frente).

·  
Assim,
a produção de bens de capital já havia recuado 3,8% no quarto trimestre de
2019, baixou mais 2,1% no primeiro trimestre deste ano e despencou 45,4% no
bimestre abril-maio, sempre tomando como base idênticos períodos do ano
imediatamente anterior. A produção de bens de capital destinados ao setor de
transportes caiu três trimestres em sequência (-0,1% e -4,4% no terceiro e
quarto trimestres de 2019 e -4,1% no primeiro deste ano) e desabou 70,6% no
bimestre abril-maio, fechando com redução de 35,3% no acumulado de janeiro a
maio diante dos cinco mesmos meses de 2019).

·  
Os
bens de capital destinados à indústria, por sua vez, apontaram elevação de 2,0%
no primeiro trimestre deste ano, mas encolheram 38,6% no bimestre abril-maio,
fechando os cinco primeiros meses de 2020 em baixa de 15,5%. Para a
agricultura, da mesma forma, foram três trimestres seguidos de perdas, chegando
a uma retração de 27,1% no bimestre abril-maio.

·  
Nesta
última área, a queda tende a prosseguir ao se considerar que a produção de
máquinas agrícolas, de acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), caiu 24,9% em junho e fechou o segundo
trimestre em queda de 36,8%, saindo de 13.908 unidades no segundo trimestre de
2019 para 8.788. No primeiro semestre, a produção de tratores, colheitadeiras e
outros equipamentos baixou 22,6% frente à primeira metade de 2019 (24.724 para
19.135 unidades).

·  
Não
tem sido diferente em outro setor essencial para o investimento. A produção de
bens de capital para a indústria da construção, responsável pela edificação de
galpões e de toda a sorte de estruturas industriais, baixou 0,8% no terceiro de
trimestre de 2019, recuou mais 0,6% no trimestre seguinte e acelerou o ritmo
das perdas para 4,1% no primeiro trimestre deste ano. No bimestre abril-maio,
houve um tombo de 38,0%.

·  
No
setor de energia, a produção de bens de capital saiu de um crescimento de 7,8%
no primeiro quarto do ano para uma retração de 9,8% no acumulado entre abril e
maio, frente ao mesmo bimestre de 2019, e passou a apresentar variação de apenas
0,1% nos cinco meses de 2020.