Investimento em infraestrutura pode chegar ao menor nível histórico

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 07 de maio de 2022

O investimento total em infraestrutura no País tende a atingir seu piso histórico ao longo deste ano, na projeção da Inter. B Consultoria Internacional de Negócios, recuando para apenas 1,71% do Produto Interno Bruto (PIB) frente a 1,73% estimados para 2021. Os valores investidos no setor, destaca a consultoria, estão muito aquém do necessário para garantir a oferta de serviços de qualidade e assegurar a eficiência e a competitividade da economia como um todo. Numa estimativa que leva em conta o estoque de capital em infraestrutura e sua qualidade, a Inter. B calcula que o País deveria investir pelo menos 3,64% do PIB ao ano. Nessa conta, restaria a descoberto um déficit de investimentos da ordem de 1,91% do PIB, o que exigiria, muito obviamente, mais do que dobrar o investimento realizado no ano passado.

As estimativas para este ano, com base nos dados disponíveis até o momento, sugerem um investimento próximo a R$ 151,2 bilhões, o que significaria um incremento real, depois de descontada a inflação, ao redor de 1,0% frente ao ano passado, quando a infraestrutura brasileira havia recebido uma injeção de R$ 149,7 bilhões. Seria preciso elevar esse número para R$ 315,5 bilhões, em valores aproximados, com um investimento adicional próximo de R$ 165,8 bilhões, a se considerar o déficit indicado pela consultoria.

O avanço muito modesto esperado para este ano estará, no entanto, ancorado quase exclusivamente no setor de saneamento, que deverá receber investimentos em torno de R$ 19,0 bilhões, crescendo 15,9% em relação aos R$ 16,4 bilhões investidos no ano passado (quando já havia crescido 15,5% frente a 2020). A consultoria atribuiu o crescimento recente à mudança no marco regulatório do setor de saneamento, que trouxe metas para universalização do serviço.

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Retrocessos

As estimativas para os demais setores mostram desempenho tímido ou queda mesmo. O setor de energia elétrica deverá receber investimentos de R$ 51,5 bilhões, dos quais apenas R$ 10,5 bilhões do setor público e R$ 41,1 bilhões de empresas privadas. Pode-se antecipar que nem todos esses recursos sairão de fato do caixa daquelas empresas, pois parcela do investimento tende a ser financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De toda forma, o valor previsto deverá representar uma queda de 3,4% na comparação com os R$ 53,3 bilhões investidos em 2021, com tombo de 11,8% para o investimento público em energia (saindo de R$ 11,9 bilhões para R$ 10,5 bilhões). No setor de telecomunicações, amplamente dominado por capitais privados, o investimento tende a recua 0,9%, de R$ 31,9 bilhões para R$ 31,6 bilhões.

Balanço

  • Os investimentos em transportes, incluído rodovias, ferrovias, aeroportos, portos, hidrovias e a área de mobilidade urbana, devem subir ligeiramente de R$ 48,1 bilhões para R$ 49,0 bilhões, variando ao redor de 1,9%, depois de ter saltado 18,0% na passagem de 2020 para 2021.
  • O incremento registrado pela Inter. B no ano passado, saindo de investimentos de R$ 40,7 bilhões em 2020, foi impulsionado principalmente pelo aumento de 24,5% no investimento público, de R$ 20,8 bilhões para R$ 25,9 bilhões. No segmento rodoviário, o investimento registrou elevação de 27,2%, passando de R$ 22,51 bilhões em 2020 para R$ 28,64 bilhões no ano seguinte. Mas deve crescer apenas 2,9% neste ano, aproximando-se de R$ 29,47 bilhões.
  • Uma parte do avanço observado em 2021, ainda no setor de transportes, pode ser atribuído ao salto de 68,5% no investimento realizado pelos governos estaduais, alimentado pela arrecadação atipicamente elevada, na avaliação da Inter. B, e ainda pelo “controle das despesas com pessoal”.
  • Nitidamente, o País tem investido muito menos do que deveria em toda a sua infraestrutura. “Continuamos errando com projetos sem avaliação de custo-benefício, muitos de natureza paroquial e clientelista, com taxas sociais de retorno negativas ou questionáveis.O resultado é um baixo estoque de capital (37,4% do PIB em 2021), quando o necessário seria não menos do que 60,4% do PIB”, anota a consultoria. Para a Inter. B, “os maiores hiatos entre o investimento necessário e o investimento médio setorial” encontram-se “em transportes e saneamento básico (incluindo resíduos sólidos)”.
  • “No caso do estoque de capital, o hiato é estimado em 23% do PIB – essa é a magnitude do esforço cumulativo para o País contar com uma infraestrutura modernizada (ainda que não necessariamente de fronteira)”, reforça ainda o estudo da Inter. B. Para se ter uma dimensão do desafio, seria preciso agregar à infraestrutura brasileira algo como R$ 1,99 trilhão.
  • Ainda na avaliação da consultoria, “a modernização da infraestrutura irá demandar um esforço de ao menos duas décadas, e um gasto anual – público e principalmente privado – de não menos de 3,64% do PIB no período”. Embora “ainda distantes desse alvo”, a Inter. B acredita que “uma política de Estado voltada para remover as principais barreiras seria capaz de levar a um ganho incremental anual no investimento de 0,3% do PIB nesta década – não distante de outros exemplos históricos –, o que estabilizaria a taxa de investimento a um nível acima de 4% do PIB, alcançando o estoque alvo em menos de vinte anos”.
  • Para chegar lá, sustenta a Inter. B, será necessário antes reconstruir a imagem do Brasil e sua reputação internacional, além de melhorar a regulação. Num período mais recente, “a perda de autonomia e o processo de escolha dos dirigentes – alguns com limitado conhecimento técnico – vêm permitindo o uso político das agências, prática que leva à uma redução da qualidade regulatória”, observa ainda a consultoria.