IPCA inicia ano em recuo modesto, mas levemente acima de previsões

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de janeiro de 2023

Depois de um mês de preços em aceleração, a inflação acumulada entre as duas semanas finais de dezembro e a primeira quinzena de janeiro anotou discreta desaceleração, em meio às festas de fim de ano e a chuvas mais intensas, que levaram a um encarecimento dos preços de verduras e hortaliças. Essa pressão altista, de toda forma, não chegou a “contaminar” todo o grupo alimentação, que havia experimentado elevação de 0,66% nas quatro semanas de dezembro e passou a anotar variação de 0,55% na medição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de janeiro, aferido entre os dias 14 de dezembro do ano passado e 12 de janeiro deste ano.

O índice geral do período, finalizado na segunda semana deste mês, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu 0,55% (apenas por coincidência, a mesma variação indicada para os preços médios de alimentos e bebidas), o que se compara com 0,62% nas quatro semanas de dezembro. Na média, o mercado apostava num índice ao redor de 0,51% para o IPCA-15 de janeiro, com o Itaú BBA marcando uma taxa de 0,48%. Apenas para recordar, a taxa inflacionária havia experimentado elevação de 0,10 pontos entre a primeira e a segunda quinzena do mês passado, saindo de 0,52% (conforme o IPCA-15 de dezembro) para 0,62% no fechamento do período (segundo o IPCA do mesmo mês).

Houve, portanto, uma reversão no ritmo de alta dos preços em geral, ditada não apenas pelo melhor comportamento dos alimentos, mas também pela queda nos preços dos combustíveis, do gás de botijão e das tarifas de energia elétrica nas residências. A energia, que havia anotado leve alta de 0,20% nas quatro semanas de dezembro, passou a recuar 0,16%. Os preços do gás aceleram a baixa, caindo 1,32% nas duas primeiras semanas deste mês, depois de baixar 0,56% em dezembro. Os combustíveis vêm perdendo intensidade na queda, passando de baixa de 0,90% no mês passado para um recuo de 0,58%.

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Novo reajuste

Esse comportamento tende a ser revertido daqui para frente, diante do reajuste de 7,47% aplicado ontem pela Petrobrás sobre os preços da gasolina nas distribuidoras, em vigor a partir de hoje, dia 25. O Itaú BBA estima que a reajuste deverá trazer um impacto altista de 0,2 pontos de porcentagem no IPCA de fevereiro. As estimativas para fevereiro giravam ao redor de 0,70% antes do anúncio mais recente da Petrobrás, que continua comandada pelo presidente e pelo conselho de administração constituídos ainda na gestão anterior. Para janeiro, a expectativa antes da divulgação do IPCA-15 rondava a casa de 0,50% (o que, para ser confirmada, pressuporia a continuidade da tendência de desaceleração observada nas duas primeiras semanas deste mês).

Balanço

  • A menor variação nos custos dos alimentos ocorreu, como já mencionado, num período de chuvas intensas em praticamente todo o País, fazendo com que os preços do grupo das folhas passassem de redução de 0,13% nos 30 dias de dezembro para um aumento de 2,66% nas quatro semanas encerradas em 12 de janeiro.
  • A alta foi compensada, de certa forma, pelo forte desaquecimento na velocidade de aumento nos preços de tubérculos e legumes, saindo de 5,72% de alta para variação de 1,95% na passagem de dezembro para janeiro (sempre considerando a primeira quinzena do mês, refletida na aferição do IPCA-15).
  • Excluídos os preços de gás de botijão, energia elétrica, combustíveis e alimentos, a “inflação” dos demais setores igualmente experimentou desaceleração, com a variação média recuando de 0,53% para 0,44% entre dezembro e janeiro. No acompanhamento do Itaú BBA, com dados do IBGE, a variação média dos chamados “núcleos” da taxa inflacionária, que excluem preços mais voláteis, assim como altas e quedas muito acentuadas e atípicas, recuou de 0,67% para 0,60% também entre os 30 dias de dezembro e a quadrissemana terminada em 12 de janeiro.
  • O índice de difusão dos preços, quer dizer, o percentual de produtos e itens em alta entre os pesquisados pelo IBGE para calcular o IPCA, saiu de 68,97% em dezembro para 67,03%, o que se compara com 74,39% na quadrissemana terminada na primeira quinzena de janeiro do ano passado.
  • A inflação acumulada em 12 meses voltou a registrar ligeira elevação, passando de 5,79% em dezembro para 5,87% (mas abaixo dos 10,20% acumulados nos 12 meses terminados na primeira quinzena de janeiro de 2022).
  • A queda do IPCA entre 2021 e 2022, conforme já anotado neste espaço, não parece guardar relação com o arrocho monetário produzido pelo Banco Central (BC), com a manutenção dos juros a 13,75% ao ano, correspondendo a uma taxa real (descontada a inflação) muito próxima de 8,0% – a mais elevada em todo planeta. Na verdade, medidas artificiais e eleitoreiras, como a redução de impostos sobre combustíveis e energia, explicam toda a queda.
  • A taxa combinada de inflação do gás de botijão, energia e combustíveis desabou de 5,51% em 2021 para um índice negativo de 2,03% no ano seguinte. Excluídos esses itens, os demais preços subiram, na média, 7,82% no ano passado, frente a 4,55% em 2021. Em boa parcela porque o custo da alimentação no domicílio disparou, com salto de 13,23% no ano passado, frente a uma variação de 8,24% em 2021.
  • Mais uma vez, não foi aquele o único foco inflacionário. Com exclusão de alimentos, gás de cozinha, energia e combustíveis, os preços restantes também se mantiveram em elevação, saindo de uma taxa de 2,91% para 5,26%. Mais claramente, mesmo desconsiderados preços sobre os quais os efeitos da política monetária são nulos ou quase isso, a tendência de fundo continuava sendo altista.