Jogo de pressões e ameaças na produção de fertilizantes

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de setembro de 2022

A produção de fertilizantes no Brasil patina entre a política de “desinvestimento” da Petrobrás, que vem se desfazendo de ativos estratégicos, inclusive no setor de insumos para a agricultura, liquidando bilhões de reais em patrimônio público, e projetos que avançam sobre áreas indígenas e ameaçam a integridade de suas reservas, seu patrimônio cultural, a sobrevivência daqueles povos e a floresta. Os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a produção, escoamento e distribuição de adubos e fertilizantes, associados ao avanço da demanda por alimentos, acirram as pressões para acelerar empreendimentos minerários em áreas ambientalmente sensíveis.

Some-se ao cenário a expectativa de esgotamento da mina de Rosário do Catete, no Sergipe, nos próximos cinco anos, o que tende a tornar o País quase integralmente dependente do cloreto de potássio importado. Essa combinação de fatores tem influído na busca de alternativas, quaisquer que sejam seus custos. A Potássio do Brasil, controlado pelo banco canadense Forbes & Manhattan, espera a retomada ainda neste ano do processo de licenciamento do seu projeto em Autazes, no Amazonas, de acordo com Adriano Espeschit, presidente da mineradora.

A Justiça Federal do Amazonas havia determinado, no dia 17 de março de 2017, a suspensão da licença prévia concedida à empresa pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), condicionando a retomada do licenciamento ao início da consulta ao povo indígena Mura, num acordo que envolveu a própria Potássio do Brasil. Espeschit argumenta que a consulta, interrompida com a chegada da pandemia, já foi retomada neste ano a pedido dos Mura.

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“Como já atendemos a todos os requisitos dessa etapa do licenciamento, assim que for liberada a licença prévia vamos entrar com o pedido de licença de instalação da mina”, antecipa Espeschit. Concluída essa fase, seriam necessários três a quatro anos de obras para colocar todo o projeto de pé. Desde o início da década, a mineradora investiu em torno de US$ 230,0 milhões em projetos de potássio no Brasil, a maior parcela destinada a Autazes, mas também aos projetos de Itapiranga e Itacoatiara, que se encontram em fase de desenvolvimento.

Prioridade total

“Nossa prioridade total, no momento, é implantar Autazes”, declara Espeschit. Com reservas totais estimadas em 170,0 milhões de toneladas, teor médio de 30% de minério contido e vida útil prevista em 23 anos, a mina deverá assegurar uma produção anual em torno de 2,4 milhões de toneladas de cloreto de potássio, perto de um quinto da demanda brasileira. Autazes demandará um investimento estimado em US$ 2,3 bilhões, conforme Espeschit, incluindo a instalação de dois poços com até 930 metros de profundidade, já que silvanita, minério do qual se extrai o potássio, encontra-se a uma profundidade aproximada de 800 metros.

Balanço

  • Depois de injetar em torno de R$ 510,0 milhões na atualização e adequação das plantas de fertilizantes nitrogenados arrendadas da Petrobrás em Camaçari, na Bahia, e em Laranjeiras, em Sergipe, a Unigel está investindo quase R$ 1,25 bilhão entre este e o próximo ano para ampliar a produção de ácido sulfúrico e sulfato de amônio e na instalação de uma planta para a produção de amônia verde. A intenção é reforçar a presença da empresa, uma das líderes no setor químico no país, no agronegócio, resume Luiz Felipe Fustaino, diretor executivo da Unigel.
  • A primeira fase da planta de amônia verde, a ser construída em Camaçari, vai demandar um investimento ao redor de R$ 650,0 milhões, com início de operação previsto para o final de 2023. Nessa etapa, o conjunto de eletrolisadores, alimentados por energia de fontes solar e eólica, terá capacidade para produzir 10 mil toneladas de hidrogênio por ano, a ser convertido em 60 mil toneladas de amônia verde após mistura com o nitrogênio capturado do ar por uma unidade de separação. A segunda etapa, a ser operada provavelmente até o final de 2025, terá capacidade para produzir 40 mil toneladas de hidrogênio e 200 mil toneladas de amônia.
  • Assumidas pela Unigel em 2010, por um prazo de 10 anos, renováveis por período idêntico, as fábricas de Laranjeiras e de Camaçari retomaram a operação, respectivamente, em abril e julho do ano passado, somando uma capacidade para produzir 925,0 mil toneladas de amônia e 1,150 milhão de toneladas de ureia, o que representa perto de 14% da demanda total brasileira, próxima a 8,24 milhões de toneladas no ano passado. “Somos a única empresa produzindo ureia no País atualmente”, destaca Fustaino. Em 2021, o país importou algo como 7,84 milhões de toneladas, correspondentes a aproximadamente 95% do consumo doméstico.
  • A empresa está investindo ainda em torno de R$ 500,0 milhões numa planta de ácido sulfúrico em Camaçari, que vai abastecer a unidade de sulfato de amônio em Sergipe. Ali será realizado um aporte próximo a R$ 100,0 milhões em 2023 para acrescentar mais 320,0 mil toneladas à capacidade atual, próxima de 350,0 mil toneladas. Fustaino lembra que a Paranapanema era a única fabricante de ácido sulfúrico no mercado brasileiro, mas deixou de produzir, levando o País a se tornar importador nesta área.
  • Controlada pela Aguia Resources Limited, empresa listada na Bolsa de Sidney, na Austrália, e sede em Porto Alegre (RS), a Águia Fertilizantes espera receber licença prévia e iniciar as obras de instalação do projeto Três Estradas provavelmente em outubro próximo, conforme Fernando Tallarico, CEO da companhia. Ele acredita que a produção poderá ser iniciada em outubro de 2023, prevendo-se a entrega ao mercado de 306,0 mil toneladas por ano de fosfato.
  • Localizado entre os municípios de Caçapava e Lavras do Sul, no centro-sul do Estado, o projeto prevê a construção de uma mina a céu aberto e de uma unidade de processamento da rocha fosfática. Até momento, descreve Tallarico, a empresa já investiu em torno de R$ 80,0 milhões, principalmente na compra da área. Outros R$ 30,0 milhões ou um pouco mais, de acordo com o executivo, serão ainda destinados à implantação da mina, que acumula reservas totais de aproximadamente 105,0 milhões de toneladas, com teor médio de fosfato de 4,11%, o que assegura vida útil de 18 anos ao projeto, sem considerar novas descobertas e expansões futuras, completa Tallarico.