Liderança de Caiado será posta à prova em 2020

Publicado por: Lucas de Godoi | Postado em: 03 de junho de 2019

É trabalho fundamental de todo governador que pretende ser
reeleito o de construir uma representatividade abrangente nos municípios, tarefa
desafiadora para Ronaldo Caiado (Democratas). Passado quase seis meses no
governo e com as tratativas políticas visando a disputa eleitoral de 2020
tomando forma, o governador precisa assumir papel de liderança sob pena de
perder o protagonismo nas bases do partido e dos aliados.

Sucesso nas eleições municipais são essenciais para, em 2022,
transformarem-se em palanque para divulgação da gestão e, claro, angariar
votos. A história não nega evidências: em meio às articulações pesadas do
derrotado PSDB e, claro, do MDB que mesmo tendo sido adversário do moço da
‘camisa azul’, Marconi Perillo (PSDB), em 1998, pode se juntar contra Caiado.

A eleição do democrata Ronaldo Caiado, depois de 20 anos de
gestão tucana, apresenta oportunidades naturais após o rompimento de um ciclo:
o fortalecimento do novo mandatário. Mas isso, por si só, não é suficiente.

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O PSDB adotou o discurso de seguir em frente, ao eleger o
prefeito de Trindade, Jânio Darrot presidente do Diretório Regional do partido
em Goiás. Foi ele que, nos últimos dias, saiu em defesa do protagonismo da
legenda no próximo pleito. Mesmo com a derrota e o encolhimento sofrido nas
eleições do ano passado, Darrot defende que o partido lance candidatura própria
em pelo menos 150 dos 246 municípios goianos. A ideia é defender o legado no
Estado e ampliar o número de prefeituras, que hoje, somam mais de cem.

Para Caiado, cuja votação expressiva garantiu-lhe a cadeira
governamental do Palácio das Esmeraldas ainda no primeiro turno, o caminho não
é de certezas. Isso por que, após mudar-se para a emblemático prédio do poder,
o governador não se empenhou em criar laços com os administradores municipais.
Pelo contrário, colocou em suas costas obrigação do Estado, como a manutenção
de rodovias estaduais e encerrou o antigo programa de obras ‘Goiás na Frente’,
que em sua avaliação, servia de cabresto eleitoral. E para Ronaldo Caiado, um
entusiasta dos equínos, é sabido que laços e cabrestos, muitas vezes, galopam
juntos.

E se o cenário é propício para o crescimento da oposição, é
preciso lembrar o desempenho do ex-deputado federal e principiante ao Governo
de Goiás, Daniel Vilela (MDB), que apesar de derrotado, obteve 16,14% dos votos
válidos e superou o herdeiro do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), José
Eliton, que dispunha da máquina nas mãos.

É de Daniel as maiores críticas à gestão do democrata que, afirma,
ainda não desceu do palanque. “Está na hora do senhor sentar na cadeira e começar
a trabalhar. Chega de ficar dando entrevista. Os órgãos estão parados, sem
indicação […] Chega de reclamar, de fazer discurso. Para de dar essas
declarações bizarras também. Se não der conta, é só avisar, viu?”, alfinetou o
presidente estadual do MDB em vídeo postado nas redes sociais.

Daniel conta pontos se analisado o tamanho dos municípios que
o partido possui eleitos. Dois dos maiores colégios eleitorais do Estado,
Goiânia e Aparecida de Goiânia, respondem por cerca de um terço dos votos. Em
números aproximados, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), as cidades que o MDB administram somam cerca de R$ 2,3
milhões de habitantes, atrás apenas do PSDB, que tende a encolher no próximo
pleito.

Por outro lado, Caiado conseguiu angariar o maior número de
partidos nas eleições de 2018, mas mais da metade deles não possui sequer uma
prefeitura em Goiás, que são o caso do PODE, PTC, PMN, PMB, PSC, DC e o PSL do
presidente da República, Jair Bolsonaro. A composição do governador somaram algo
em torno de 37 cidades cujos prefeitos em exercício apoiaram sua campanha, aí
incluídos os dissidentes do MDB.

Apesar de Ronaldo Caiado ter vencido, mesmo nas cidades
administradas por partidos opostos ao de sua coligação, ele terá que contar com
as particularidades das eleições municipais, embaladas por disputas históricas
e, claro, pela ascenção de partidos até então insignificantes, como o PSL, que
almeja ter candidaturas em Goiânia e em outras cidades goianas.

Esta, inclusive, seria uma das primeiras movimentações que
Caiado teria que contornar, porque apesar de surfar, em parte, na onda
bolsonarista, o médico vai ter que operar um milagre para evitar a pulverização
do apoio que recebeu durante a campanha. A figura mais simbólica do PSL em
Goiás, deputado federal Delegado Waldir já manifestou inúmeras vezes
insatisfação com o modelo de gestão adotado por Caiado. Waldir disse que rodou o
estado pedindo votos para o democrata e não obteve o espaço esperado no Governo.
A crítica não é só dele e daqui até 2020, é provável que esse coro aumente. E
incomode!