Literatura infantil com raízes no Brasil
Depois de conquistar crítica e leitores com Torto Arado, o escritor e geógrafo Itamar Vieira Junior estreia na literatura infantil com Chupim, obra publicada pela editora Baião em parceria com a artista visual Manuela Navas. A partir do olhar de Julim, menino que acompanha os pais no trabalho nos campos de arroz, o livro apresenta às crianças uma realidade ainda pouco retratada no universo da infância: a vida rural marcada por trabalho, ancestralidade e desigualdades persistentes.
Inspirado em experiências reais vividas por Vieira Junior quando atuava no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o enredo resgata memórias de famílias sem terra, rotinas no campo e a presença das crianças como parte do cotidiano agrícola. No centro da narrativa está a simbologia do pássaro chupim — considerado praga por quem planta e espantado pelas crianças, que são bem-vindas no campo não apenas pela companhia, mas por sua função no sustento da lavoura.
A narrativa é sensível e honesta, sem romantizar a dureza da vida rural, mas também sem apagar suas potências. Vieira Junior reflete sobre o trabalho infantil e o direito ao estudo, reconhecendo, ao mesmo tempo, os aprendizados que brotam da relação direta com a terra. Com linguagem acessível e poética, o autor traz para o universo das infâncias uma perspectiva até então restrita aos adultos, resgatando o campo como espaço de afetos, desafios e resistência.
As ilustrações de Manuela Navas acompanham o movimento proposto pelo texto e ampliam seu alcance. Os traços em constante deslocamento, a representação das lavouras e a presença dos trabalhadores conferem profundidade à experiência de leitura. O projeto gráfico, assinado por Giulia Fagundes e Thaíse Amorim, contribui para transformar o livro em um objeto que dialoga com a infância de forma completa — estética, narrativa e politicamente.
O autor
Itamar Vieira Junior, nascido em Salvador em 1979, é escritor, geógrafo e doutor pela UFBA. Ganhou destaque com Torto arado (2019), vencedor dos prêmios Leya, Oceanos e Jabuti. Também publicou Dias, A oração do carrasco, Doramar ou a odisseia e Salvar o fogo (2023), este último ambientado em uma comunidade afro-indígena baiana, onde aborda religiosidade, família e a força das mulheres.