A partir de uma escrita que atravessa filosofia, crítica literária e experiências cotidianas, o professor, pesquisador e produtor cultural Wigvan Pereira dos Santos lança Palavras em movimento: estudos críticos. A coletânea, publicada em formato digital, reúne cinco ensaios que tratam de temas contemporâneos como maternidade, relações mediadas por tecnologia, memória cultural e o olhar ocidental sobre o Oriente.

Ao longo de 126 páginas, o autor propõe deslocamentos conceituais que tensionam a percepção comum sobre temas afetivos e políticos. Com um olhar voltado para obras literárias e audiovisuais, Wigvan constrói análises que transitam entre o íntimo e o social, costurando questões locais com referenciais globais. A publicação é resultado de uma bolsa do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás e foi desenvolvida durante sua passagem acadêmica por Portugal.

Em capítulos como A ideia de mãe: um retrato e A rã na caixa de espelhos, o autor se debruça sobre a literatura produzida em Goiás, analisando o romance Como se fosse monstro, de Fabiane Guimarães, e a obra epistolar Sem Palavras, de Larissa Mundim e Valentina Prado. Nos textos, a maternidade e as relações digitais são apresentadas não como conceitos fechados, mas como espaços de ambiguidade e transformação. A leitura do “monstro” como figura simbólica, por exemplo, permite discutir os limites do que é considerado normal, natural ou aceitável socialmente.

Já em O filme biográfico em sua contribuição para a memória cultural, o foco se volta para o curta-metragem Hugo, de Lázaro Ribeiro, que narra a trajetória do escritor Hugo de Carvalho Ramos. A análise propõe uma reflexão sobre como o cinema pode expandir a memória de uma cidade ao preencher lacunas históricas com elementos ficcionais, contribuindo para o reconhecimento de personalidades literárias goianas.

Nos capítulos finais, O exílio e a fuga e Os braços de Kali, o autor articula o conceito de orientalismo, elaborado por Edward Said, a partir de um conto do escritor goês Laxmanrao Sardessai e de um romance do norte-americano Dan Simmons. A proposta é desconstruir leituras ocidentais reducionistas sobre sociedades asiáticas e apresentar abordagens mais plurais, que escapem da lógica binária entre o “civilizado” e o “exótico”.

A coletânea dialoga com discussões atuais sobre identidade, tecnologia, política e afeto, em uma abordagem que não busca conclusões definitivas, mas sim novos modos de escuta e pensamento. O lançamento se insere em um movimento mais amplo de valorização das produções intelectuais fora dos grandes centros e contribui para a circulação de reflexões enraizadas no território goiano, com ressonância universal.

Segundo levantamento da Nielsen BookScan, ensaios de crítica cultural e livros híbridos entre autobiografia e teoria ganharam mais espaço entre os leitores brasileiros nos últimos anos, especialmente entre os que buscam entender as transformações sociais por meio de experiências subjetivas. Palavras em movimento se insere nesse contexto, oferecendo uma leitura que convida ao estranhamento e à reconexão com o sensível.

O autor

Pereira dos Santos é licenciado em Filosofia (UFG) e mestre em Estudos Comparados (USP), com doutoramento em Ciências da Literatura (Uminho). Professor há mais de 20 anos, concilia a pesquisa com a docência, além dos trabalhos como escritor e produtor cultural. É autor dos livros Uma Maria (2014), Vergonha das Asas (2014), Amor às escaras (2014), Cheiro de Tinta (2014), Fresh Paint (2016) e Sapatos Brancos (2022). Agora, publica Palavras em Movimento, uma coletânea que reúne ensaios produzidos durante seus estudos em Portugal.