Lucro líquido da Saneago mais do que dobra no primeiro trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de maio de 2022

A redução e quase eliminação de medidas de restrição à circulação de pessoas, o reajuste de tarifas em vigor desde o começo de fevereiro, a reversão de provisões realizadas anteriormente e os efeitos da variação do dólar sobre a conta financeira da concessionária contribuíram para mais do que dobrar o lucro líquido da Saneamento de Goiás S.A. (Saneago) no primeiro trimestre deste ano. A companhia apresentou lucro de R$ 23,254 milhões no acumulado dos primeiros três meses deste ano, frente a R$ 9,851 milhões em igual período do ano passado, resultando num salto de 136,06%.

Parte do aumento registrado na última linha da conta de resultados está relacionada ao que ocorreu há um ano. Explica-se. O lucro do primeiro trimestre de 2021 foi afetado negativamente pela necessidade de provisionar (reservar) recursos para fazer frente a ação ambiental movida pelo município de Mineiros e ainda a novas contingências trabalhistas que atingiram perto de R$ 101,7 milhões. Neste ano, ao contrário, a companhia registrou a reversão de R$ 16,204 milhões em provisões relacionadas ao programa de participação nos resultados facultado aos funcionários da Saneago.

A correção de 8,85% na tarifa média cobrada dos clientes pela concessionária contribuiu para uma elevação de 10,58% nas receitas líquidas acumuladas nos três meses iniciais deste ano na comparação com idêntico trimestre do ano passado, saindo de R$ 569,331 milhões para R$ 629,578 milhões. A variação das receitas praticamente acompanhou o avanço somado de custos e despesas, que saíram de R$ 549,945 milhões para R$ 609,111 milhões, em alta de 10,76%. Receitas e despesas novamente não conseguiram acompanhar a variação acumulada em 12 meses pelos preços em geral, expressando modesta redução em termos reais diante de uma inflação de 11,30% até março deste ano.

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Demissão voluntária

Ainda de acordo com a apresentação que acompanha a demonstração de resultados da operadora, alguns fatores tiveram maior peso na definição do comportamento de despesas e custos, com destaque para o gasto de R$ 404,203 milhões dom a folha de pessoal, o que se compara com R$ 257,442 milhões no mesmo trimestre de 2021, numa alta de 57,01%. O aumento pode ser explicado principalmente pelo desligamento de 443 empregados que aderiram ao plano de demissão voluntária, exigindo o desembolso de R$ 139,208 milhões. “Além disso, ressalta-se ainda o reajuste salarial da categoria concedido a partir de outubro de 2021 para reposição da inflação do período em 8,9%”, destaca a empresa.

Balanço

  • A companhia contabiliza ainda o impacto da demissão de 70 empregados entre novembro e dezembro do ano passado como decorrência da reforma da Previdência implantada em 2019. Considerando aqueles afastamentos e a correção salarial aprovada em setembro de 2021, data-base dos trabalhadores do setor, e descontando-se os efeitos não recorrentes do plano de demissão voluntária, a Saneago informa um crescimento de 7,07% no gasto com pessoal.
  • Pesou na conta dos gastos o crescimento de 43,11% na despesa com energia elétrica, que subiu de R$ 52,538 milhões para R$ 75,186 milhões, refletindo o aumento de 14,21% na tarifa em vigor desde outubro de 2021, a manutenção da bandeira de escassez hídrica e também a reversão gradual do desconto de 15% a que a Saneago fazia jus sobre o preço da tarifa.
  • Na descrição da própria companhia, “a elevação dos custos com energia que, em razão do reajuste tarifário de 14,21% em outubro de 2021, somado à elevação de 50% do custo da bandeira vermelha, ocasionou impacto de 43%”.
  • Os gastos gerais, por sua vez, foram multiplicados em quase sete vezes entre o primeiro trimestre de 2021 e igual período deste ano, passando de apenas R$ 4,278 milhões para R$ 29,740 milhões (mais 595,18%). A concessionária teve que realizar o pagamento de R$ 15,942 milhões por conta de ação trabalhista que questionava o acerto de verbas relativas ao intervalo intrajornada, entre outras contingências igualmente não recorrentes (ou seja, que tendem a não se repetir daqui em diante).
  • De outro lado, o resultado da empresa foi favorecido pela reversão de R$ 27,995 milhões em provisões, o que se compara com a constituição de provisões no valor de R$ 105,531 milhões no primeiro trimestre do ano passado. Da mesma forma, o resultado financeiro ficou positivo em R$ 12,332 milhões, saindo de um “déficit” de R$ 4,943 milhões em igual período de 2021.
  • O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) sofreu queda de 3,28% nos dados ajustados (com exclusão de fatores que não afetam o caixa da empresa), recuando de R$ 154,644 milhões para R$ 149,566 milhões. O indicador reflete a geração de caixa pela companhia e correspondeu a uma margem líquida (Ebitda sobre receita líquida) de 23,76% no primeiro trimestre deste ano, abaixo dos 27,16% anotados no mesmo período de 2021.
  • O investimento total atingiu R$ 44,352 milhões no trimestre, correspondendo a pouco mais de 21,0% da meta fixada para este ano, em torno de R$ 211,191 milhões. Na comparação com os três primeiros meses de 2021, quando a empresa havia investido R$ 37,746 milhões, houve crescimento de 17,50%, integralmente concentrado no item “outros investimentos”. Neste caso, registrou-se alta de 281,92% na comparação entre os dois trimestres, de R$ 5,881 milhões para R$ 22,461 milhões. Boa parte desse investimento foi destinado a aquisições de hardwares e softwares (R$ 9,926 milhões) e à compra de caminhões (R$ 9,288 milhões).
  • O investimento em sistemas de água e de esgoto despencou na mesma comparação. No primeiro caso, a queda foi de 28,25% (de R$ 19,357 milhões para R$ 13,889 milhões), com tombo de 36,02% para os valores investidos em esgoto (de R$ 12,508 milhões para R$ 8,002 milhões).