Mais pobres sofrem maior perda de renda e desemprego mais alto

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de setembro de 2021

A metade mais pobre dos brasileiros foram afetados com maior intensidade pela crise trazida pela pandemia do Sars-CoV-2, com perdas mais severas de renda e taxas de desemprego muito acima da média observada para o mercado de trabalho como todo. Essa realizada foi agora exposta de fora mais detalhada pelo trabalho “Desigualdade de impactos trabalhistas na pandemia”, realizado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), sob comando de seu diretor, o economista Marcelo Neri.

Essa discrepância, como não poderia ser diferente, agravou desigualdades, levou a maior concentração de renda e piorou os indicadores de inclusão social (conduzindo, na prática, a uma exclusão ainda mais ampla). Ao fim e ao cabo, os impactos da pandemia tenderão a reduzir as possibilidades de um crescimento econômico mais justo e equilibrado e, na verdade, encurta em muito a perspectiva de qualquer crescimento sustentado e de longo prazo. De acordo com o estudo, a renda individual média dos brasileiros, incluindo todo o contingente de formais e informais, desempregados e inativos, encolheu 9,4% desde o último trimestre de 2019 e o segundo trimestre deste ano.

Os 50% mais pobres, considerando a renda per capita habitual do trabalho, sofreram perda de 21,5% naquele mesmo período, o que se compara com redução de 7,17% para os 10% mais ricos, “menos de um terço da queda de renda observada na metade mais pobre”, ressalta o trabalho. Entre aqueles que estão imediatamente acima dos 50% mais pobres e imediatamente abaixo dos 10% mais ricos, no que poderia classificar como uma espécie de “classe média”, a queda na renda chegou a 8,96% (que dizer, 2,8 pontos de porcentagem acima do que foi perdido pelos mais ricos).

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Mulheres, idosos e nordestinos foram mais castigados pela redução de rendimentos, com perdas de 10,36%, 14,22% e 11,44% respectivamente. Neri inclui entre esses também os cônjuges, sobrecarregados por dupla jornada durante a pandemia, “incluindo cuidado das crianças sem aula em casa”, com redução de 15,57% em sua renda. As desigualdades de gênero estão também dentro do extrato dos 50% mais pobres, onde as mulheres perderam 26,24% de sua renda enquanto os homens viram a renda cair 18,43%.

Desemprego e concentração

O desemprego surge como principal causa para a perda de renda, explicando mais da metade da redução observada desde o final de 2019. O quadro aqui ganha cores ainda mais dramáticas: a taxa de desemprego entre a metade mais pobre da população saltou de 26,55% antes da pandemia para 35,98% em abril deste ano. Entre os 10% mais ricos, o desemprego variou de 2,60% para 2,87%. A proporção de pessoas com renda abaixo da linha de pobreza (R$ 261 per capita) havia caído de 10,97% antes da pandemia para 4,63% em setembro do ano passado, por conta do auxílio emergencial, e voltou a subir para 16,1% no primeiro trimestre deste ano, com a suspensão do auxílio, significando 34,3 milhões na pobreza (25,0 milhões de novos pobres). E recuou para 12,98% depois de abril deste ano, quando o auxílio foi retomado, com menor extensão e valores mais baixos. A concentração da renda, medida pelo “índice de Gini”, já havia aumentado de 0,60 para quase 0,63 entre os trimestres finais de 2014 e 2019 e saltou para 0,64 no segundo trimestre deste ano, “acima de toda série histórica pré-pandemia”.

Balanço

  • A produção industrial no Estado observou ligeiramente reação em julho, variando 0,8% na comparação com junho deste ano, quando havia sofrido baixa de 1,3%. Na verdade, o setor vem oscilando entre altos e baixos ao longo dos sete primeiros meses deste ano e não conseguiu ainda se recompor em relação às perdas registadas depois que a pandemia desembarcou no País.
  • De acordo com a pesquisa mensal da produção industrial, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os volumes produzidos pela indústria goiana em julho ficaram 0,8% mais baixos do que em fevereiro do ano passado e estavam 5,8% abaixo de seu nível máximo, alcançado em outubro de 2019.
  • Se o setor conseguiu se sustentar nos primeiros meses da pandemia, graças aos avanços observados principalmente nas indústrias de produtos alimentícios e de medicamentos, entre abril de 2020 e julho deste ano, a produção acumulou perda de 3,9%.
  • Entre julho do ano passado e o mesmo mês deste ano, a pesquisa aponta redução de 3,0% depois de já ter sofrido baixa de 4,1% em junho e registrar estagnação em maio, sempre em relação a iguais períodos de 2020.
  • Os resultados negativos têm sido puxados pela indústria de transformação, que não conseguiu sustentar números sequer parecidos com os de 2020 e tem apresentado resultados muito ruins neste ano. Em maio, junho e julho, comparando aos mesmos meses do ano passado, a produção no setor caiu, pela ordem, 0,4%, 5,2% e 4,6%. A perda acumulada em sete meses foi também de 4,6%.
  • A indústria extrativa, que engloba principalmente a extração de minérios de cobre, níquel, ouro, amianto, fosfato, calcário e brita, tem conseguido manter-se em terreno largamente positivo, registrando saltos de 39,6% em relação a julho de 2020 e de 11,7% na comparação entre os primeiros sete meses deste ano e igual intervalo do ano passado. Em 12 meses, o setor avançou 3,5% enquanto a indústria de transformação encolheu 2,7%.
  • De acordo com o IBGE, os ganhos na extração mineral foram influenciados pela maior produção de amianto em fibra ou em pó (a mina de Minaçu continua produzindo exclusivamente para atender a compromissos externos, já contratados com clientes de fora do País), pelo aumento na usinagem de pedras para a produção de britas, assim como pelos ganhos nos segmentos de produção de calcário e de fosfatos.
  • No setor de transformação, a produção de alimentos sofreu baixas de 4,2% em julho e acumulou queda de 3,9% nos primeiros sete meses do ano, sempre em relação a iguais períodos de 2020. Em 12 meses, a produção apresentou recuo de 1,1%.
  • Segundo maior setor na composição da indústria de transformação, as usinas de biocombustíveis foram atingidas por seca e, na sequência, por incêndios, o que reduziu a colheita de cana, afetando a produção de etanol, com oscilações para cima e para baixo no setor de biodiesel (majoritariamente produzido a partir do óleo de soja, embora parte da produção provenha também de gorduras animais).
  • De uma forma ou de outra, a indústria de biocombustíveis sofreu cortes de 6,6% na produção realizada em julho, comparada ao mesmo mês do ano passado, e fechou os sete primeiros meses deste ano em retração de 4,9%. A indústria farmacêutica desabou 25,8% em julho e 32,3% no acumulado do ano.
  • Destaques positivos para a produção de “outros produtos químicos” (adubos e fertilizantes), com altas de 17,6% em julho e de 13,9% no ano, e para a montagem de veículos, que avançou 51,1% em julho e 89,6% no ano (lembrando que a produção despencado no ano passado, para níveis recordes de baixa).