Massa de rendimentos bate recorde, mas desigualdade avança em Goiás

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de maio de 2024

O mercado de trabalho vem dando mostras de recuperação também em Goiás, com desemprego relativamente mais baixo, crescimento da ocupação, alta do rendimento e da massa salarial, que atingiu no primeiro trimestre deste ano níveis recordes na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A recuperação, no entanto, tem sido acompanhada por um agravamento das desigualdades de gênero e raça, com mulheres, pessoas pretas e pardas anotando taxas de desemprego proporcionalmente mais elevadas, rendimentos comparativamente mais baixos do que a população branca e, no caso de trabalhadoras e trabalhadores pretos, com perdas expressivas de renda.

Como efeito principalmente da sazonalidade do período, o total de pessoas ocupadas no Estado registrou leve recuo na passagem do último trimestre do ano passado, quando o comércio em geral e segmentos do setor de serviços aceleram as contratações para atender à demanda relativamente mais aquecida em finais de ano. O número de ocupados baixou de 3,848 milhões para 3,829 milhões, com afastamento de 19,0 mil trabalhadores, uma flutuação considerada como “estabilidade” pelo IBGE. De toda forma, a baixa ficou concentrada nas ocupações informais, que foram reduzidas em praticamente 4,0% entre aqueles dois trimestres, saindo de 1,431 milhão para 1,374 milhão, resultando no desemprego de 57,0 mil pessoas.

Sob um ponto de vista mais otimista, a taxa de informalidade baixou de 37,2% para 35,9% e os empregos formais lideraram a criação de vagas, avançando de 2,305 milhões para 2,326 milhões, ou seja, em torno de 21,0 mil a mais. Para completar o cenário, houve um salto de 14,9% no total de contratados do setor público sem carteira (categoria que não entra no cálculo de informalidade feito pelo IBGE). Esse número cresceu de 112,0 mil para 129,0 mil ocupados.

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Entre os setores de atividade do trabalho principal, comércio e reparação de veículos demitiram 26,0 mil trabalhadores, reduzindo os ocupados em 3,0%, de 873,0 mil para 847,0 mil, com corte de 28,0 mil vagas na área de alojamentos e alimentação (hotéis, pousadas, restaurantes e bares, que reduziram em 13,0% o total de ocupados, de 213,0 mil para 185,0 mil). Como resultado, o número de desocupados aumentou 8,8% na mesma comparação, saindo de 228,0 mil para 248,0 mil, com a taxa de desemprego ascendendo de 5,6% para 6,1%.

Outro cenário

A comparação com o primeiro trimestre do ano passado mostra outro cenário, com alta de 3,2% no total de ocupados, correspondendo à abertura de 117,0 mil vagas em 12 meses, produzindo uma redução de 7,2% no total de desempregados (ou 19,0 mil a menos). No mesmo período, o mercado recebeu 98,0 mil novos trabalhadores que passaram a fazer parte da força de trabalho, elevando esse contingente de 3,979 milhões para 4,077 milhões, numa elevação de 2,5%. A taxa de desocupação havia alcançado 6,7% no começo do ano passado, recuando 0,6 ponto percentual nos 12 meses seguintes. Como o rendimento real médio manteve-se em crescimento em todo o período, crescendo 1,2% em relação ao trimestre final de 2023 e 4,1% em 12 meses, aparentemente acompanhando a melhora no mercado formal e taxas de inflação mais baixas, a massa de rendimentos continuou em elevação.

Balanço

  • A soma dos rendimentos recebidos habitualmente em todos os trabalhos pelas pessoas ocupadas, já corrigida pela inflação, saiu de R$ 11,103 bilhões no primeiro trimestre para R$ 11,835 bilhões no último trimestre de 2023, avançando até R$ 11,911 bilhões nos primeiros três meses deste ano. O incremento em relação ao trimestre final do ano passado ficou limitado a apenas 0,6%, mas registrou-se alta de 7,3% em 12 meses, num acréscimo de R$ 808,0 milhões no orçamento das pessoas ocupadas.
  • As estatísticas do IBGE anotam certa desaceleração no período, já que a massa havia crescido 18,7% no primeiro trimestre do ano passado na comparação com igual período de 2022, correspondendo a um ganho de R$ 1,748 bilhão para o conjunto dos trabalhadores.
  • Novamente, o crescimento das ocupações em 12 meses foi dominado pelas contratações formais, que responderam por 84,6% do aumento observado para o total de empregos. As ocupações formais passaram de 2,227 milhões para 2,326 milhões, com abertura de 99,0 mil vagas (4,4% a mais). O número de informais apresentou recuo de 0,4% (5,0 mil a menos), saindo de 1,379 milhão para 1,374 milhão, em virtual estabilidade.
  • Essa retomada, no entanto, veio acompanhada de um agravamento das disparidades. Houve quedas em todas as categorias, mas o desemprego continuou mais baixo entre brancos e homens. Entre a população branca, a taxa de desemprego entre os brancos, que já era mais baixa do que a média, caiu de 5,3% para 4,6% entre o primeiro trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano. O desemprego entre os homens saiu de 5,5% para 5,1%.
  • A taxa foi mais elevada entre mulheres, atingindo 7,3% no primeiro trimestre deste ano (frente a 8,4% em idêntico trimestre do ano passado), seguidas pela população parda, com desemprego de 7,0% (apenas 0,3 ponto inferior à desocupação de 7,3% registrada 12 meses antes). Para trabalhadores pretos, a taxa de desocupação caiu de 8,3% para 6,6% – ainda dois pontos percentuais maior do que o desemprego entre os brancos.
  • As diferenças de renda foram agravadas por uma queda real de 12,0% no rendimento real médio recebido por trabalhadores pretos, que encolheu de R$ 3.066 para R$ 2.698 entre o trimestre inicial de 2023 e o mesmo trimestre deste ano. Na comparação com o rendimento médio dos brancos, a diferença aumentou de 23,9% para 38,0%, já que o rendimento dos brancos cresceu 8,0% na mesma comparação, elevando de R$ 4.030 para R$ 4.354.
  • A diferença cresceu igualmente entre pardos e as mulheres. No primeiro caso, o rendimento médio passou a ser 34,9% menor do que aquele percebido pela população branca, com uma variação de 2,6% em 12 meses, de R$ 2.764 para R$ 2.836. Até o início do ano passado, o rendimento real médio de trabalhadores pardos era 31,4% menor do que o ganho mensal médio dos brancos.
  • Enquanto o rendimento real médio dos homens cresceu 6,2% entre os mesmos dois trimestres, saindo de R$ 3,387 para R$ 3.597, o ganho mensal das trabalhadoras experimentou quase estagnação, avançando de R$ 2.492 para R$ 2.502, numa variação de apenas 0,4%. Enquanto o salário médio dos homens foi aumentado em R$ 210, o rendimento das mulheres registrou um acréscimo mínimo de R$ 10 no período. Isso fez aumentar a diferença entre gêneros, com o rendimento médio das mulheres tornando-se 30,4% menores. No primeiro trimestre do ano passado, as mulheres ganhavam 26,4% a menos do que os homens.