Massa salarial atinge recorde, refletindo baixa da inflação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de dezembro de 2022

O menor ímpeto das taxas de inflação, sob influência de medidas artificiais e de duração apenas temporária, favoreceu o aumento real dos rendimentos médios do trabalhador, trazendo a massa salarial (que soma todos os rendimentos recebidos por todos os que estão ocupados de alguma forma) para o maior nível da série histórica. Depois de experimentar queda ao longo de 2020, a massa real de rendimentos, já atualizada com base na inflação acumulada até outubro deste ano, voltou a avançar nos trimestres encerrados em julho e em outubro deste ano, o que coincidiu com o período de esvaziamento das pressões inflacionárias por conta principalmente do barateamento dos combustíveis e da energia, analisado neste espaço na edição de ontem (30.11).

Na série de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), que teve sua edição mais recente divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a massa salarial chegou ao seu nível mais alto no trimestre agosto-outubro deste ano, atingindo R$ 269,497 bilhões. Comparado ao trimestre imediatamente anterior, a massa cresceu R$ 10,387 bilhões, variando 4,0% frente aos R$ 259,109 bilhões registrados na média entre maio e julho deste ano. Na comparação com o trimestre agosto-outubro de 2021, quando a soma de todos os rendimentos havia alcançado R$ 241,620 bilhões a valores atualizados com base na inflação, a massa apresentou a maior taxa de variação da série, crescendo 11,5% num ganho de R$ 27,877 bilhões.

O avanço do emprego, da mesma forma, reforçou a tendência de aumento da massa salarial, conforme anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “De todo modo, o registro de elevação do número de ocupados associado ao aumento do rendimento real proporcionou expansão da massa de rendimentos reais, que é a base do consumo das famílias”, pontua o instituto.

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Recorde, mas nem tanto

Ainda que os dados do emprego coloquem o total de ocupados nos níveis mais elevados de toda a série, somando 99,661 milhões de trabalhadores, o nível de ocupação (a relação entre todos os trabalhadores ocupados e o total das pessoas com idades de 14 anos ou mais) aproximou-se de 57,4%. A taxa superou o indicador de igual trimestre do ano passado, na faixa 54,6%, mas ficou ainda abaixo dos 58,5% entre setembro e novembro de 2013 (mesma taxa registrada no último trimestre daquele ano). Para configurar um recorde, portanto, o total de pessoas ocupadas deveria estar mais próximo de 101,548 milhões, ou seja, quase 2,0% mais elevado do que o nível atual, o que exigira a contratação de mais 1,887 milhão de trabalhadores.

Balanço

  • O emprego continuou crescendo a taxas robustas, mas em discreta desaceleração trimestre a trimestre. Nos três meses encerrados em abril, o número de ocupados havia apresentado elevação de 10,3% frente ao mesmo trimestre do ano passado. No trimestre seguinte, a PNADC anotou variação de 8,8% com a taxa desacelerando para 6,1% no trimestre mais recente, encerrado em outubro.
  • Esse desaquecimento, ainda modesto, reforce-se aqui, repetiu-se nas contratações de trabalhadores formais do setor privado, assim como entre aqueles sem carteira, também no segmento privado. Naquela mesma ordem, a taxa de crescimento dos empregados privados com carteira saiu de 11,6% para 100% e depois para 8,1%.
  • Entre os empregados sem carteira, as taxas a cada trimestre saíram de 20,8% para 19,8% e daí para 11,8% no trimestre finalizado em outubro último, com 13,372 milhões de trabalhadores – o número mais alto em toda a série histórica, representando 26,7% do total de empregados privados.
  • Um olhar de mais longo prazo ajuda a colocar em perspectiva o desempenho mais recente do mercado de trabalho. E os dados da pesquisa mostram que a economia não tem conseguido criar empregos em velocidade adequada para levar o desemprego para os níveis observados oito anos atrás, quando o desemprego chegou aos níveis mais baixos na série histórica iniciada em 2012.
  • Entre o trimestre janeiro-novembro de 2014 e agosto-outubro deste ano, o total de ocupados cresceu praticamente 8,5%, representando a criação de 7,791 milhões de ocupações (saindo de 91,870 milhões para 99,661 milhões de ocupados). Ainda assim, o total de pessoas desempregadas experimentou um salto de 41,8%, subindo de apenas 6,363 milhões (em termos absolutos, o mais baixo da série) para 9,022 milhões de desocupados. Ou seja, em outubro deste ano, a economia ainda registrava 2,659 milhões de desempregados a mais do que no trimestre finalizado em novembro de 2014, mesmo com todo o aumento da ocupação.
  • A aparente discrepância explica-se, primeiro, em função do aumento da população de 14 anos ou mais, que avançou de 157,744 milhões no início do período analisado aqui para 173,587 milhões no dado mais recente, num incremento de 10%. Como a base de comparação é mais ampla, a variação observada correspondeu a 15,843 milhões de pessoas a mais, ou seja, duas vezes mais o número de ocupações novas surgidas no período. Naturalmente, nem todo esse contingente manteve-se na força de trabalho. Uma parcela, equivalente a 5,392 milhões, engrossaram o contingente de pessoas fora da força de trabalho (o que significou um aumento de 9,1% nesta área, de 59,511 milhões para 64,903 milhões de pessoas).
  • Mas o número de trabalhadores na força de trabalho (ou seja, ocupados e desempregados que continuavam a procurar uma ocupação) cresceu 10,64%, passando de 98,233 milhões para 108,684 milhões de trabalhadores, em torno de 10,451 milhões a mais (34,1% mais do que o total de empregos criados adicionalmente durante todo o período). Como resultado, a taxa de desemprego, que era de 6,5% no trimestre novembro de 2013 a janeiro de 2014, fechou outubro em 8,3% – 3,8 pontos abaixo dos 12,1% registrados no mesmo trimestre de 2021.