Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Mercado de biodefensivos deve crescer cinco vezes em oito anos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 03 de novembro de 2023

O mercado de produtos de base biológica destinados à agricultura, com destaque para os chamados biodefensivos, passou a experimentar crescimento acelerado nos últimos anos, numa resposta ainda tímida às pressões ambientais sobre o setor, especialmente na cena internacional, e ainda como tentativa de conciliar a demanda pelo aumento da produção de alimentos e a necessidade de preservar o meio ambiente e reduzir emissões de gases do efeito estufa, numa tentativa de remediar a tendência já em curso de aquecimento global.

“A taxa de adoção dos biodefensivos tem sido acelerada no agro brasileiro nos últimos cinco anos, principalmente no cultivo de soja, cana e algodão, não apenas pela durabilidade e eficiência percebida, mas também porque é parte fundamental da estratégia de portfólio e crescimento da indústria”, comenta Gian Di Gregorio, diretor da A&M, consultoria especializada em gestão de empresas e que atua globalmente em diferentes mercados. Adicionalmente, o executivo identifica uma pressão crescente da opinião pública “por insumos menos agressivos para o consumidor final e para o meio ambiente”.

A combinação desses fatores, ressalta Gregorio, anima as previsões em relação ao futuro do mercado de biodefensivos, estimando-se um crescimento anual médio na faixa de 25,0% a 30,0% até o final de década, “superior à expansão dos defensivos químicos tradicionais, que também seguirão avançando, mantendo-se no patamar de dois dígitos”. Ainda de acordo com ele, o mercado brasileiro de defensivos, incluindo produtos químicos e biológicos, está estimado atualmente em algo entre US$ 90,0 bilhões e US$ 100,0 bilhões por ano e, em seus cálculos, daquele total, os insumos biológicos ocupam uma fatia próxima de 7,0% a 10,0%, envolvendo bionematicidas, bioinseticidas, biofungicidas e bioinoculantes.

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Dados e previsões diferem conforme a fonte consultada, mas a tendência de crescimento prevalece em todos os estudos e pesquisas sobre o mercado de bioinsumos, que deverá ocupar espaço crescente na fertilização dos solos, na proteção de cultivos e na promoção da produtividade das plantas. Embora a agricultura de base meramente química deva, como consequência, reduzir sua participação no campo, não deverá ser integralmente substituída, já que os estudos sugerem um papel complementar para os insumos biológicos. A intenção aqui é minimizar os impactos ambientais e sobre a saúde humana da aplicação dos produtos químicos no processo de produção de alimentos. Nos próximos anos, diante dos avanços projetados, os biosinsumos tendem a não mais ocupar nichos de mercado, ampliando sua presença na agricultura em bases permanentes.

Aos saltos

Pesquisa conduzida pela empresa americana S&P Global mostrou um incremento médio de 62,0% ao ano para o mercado brasileiro de biodefensivos entre 2018 e 2022, diante de um aumento ao redor de 16% no mercado global em igual período. Apenas entre os ciclos 2019/20 e 2021/22, aponta o trabalho, a movimentação nesse mercado teria saltado 219,0%, saindo de R$ 1,03 bilhão para R$ 3,30 bilhões em grandes números. A área coberta por biodefensivos cresceu pouco mais de 269% entre as safras 2017/18 e 2021/22, saindo de 6,5 milhões para 24,0 milhões de hectares, algo como 27,4% da área total destinada ao plantio naquele ciclo, em torno de 87,5 milhões de hectares. A S&P Global projeta um mercado cinco vezes maior em 2030, num valor próximo de R$ 17,0 bilhões. Entre os produtores pesquisados no Brasil, 58,0% acreditam no crescimento do mercado nos próximos anos.

Balanço

  • Elaborado pela consultoria inglesa Kynetec, o estudo FarmTrak mostra que o mercado brasileiro de biodefensivos apresentou crescimento anual médio próximo de 50% entre as safras 2016/17 e 2021/22, saindo de R$ 378,0 milhões para R$ 2,905 bilhões, num salto de 668,5% em apenas cinco anos. No mesmo intervalo, os defensivos químicos, de toxidade muitas vezes superior, experimentaram variação próxima de 96,0%, passando de R$ 38,447 bilhões para R$ 75,342 bilhões, num avanço anual médio de 14%. Colocado de outra forma, o mercado de defensivos biológicos cresceu a uma velocidade anual quase 3,6 vezes maior, na média.
  • A despeito desse avanço vigoroso, a participação dos produtos biológicos de combate a pragas e doenças atingiu algo perto de 4,0% na safra passada, ainda um percentual baixo, mesmo considerando que, nas safras 2016/17 e 2017/18, aquela participação havia alcançado qualquer coisa ao redor de 1,0%. Os químicos mantiveram um predomínio ainda amplamente majoritário, ainda que sua participação tenha sido reduzida de 99,0% para 96,0% em grandes números.
  • O total de novos produtos biológicos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), num levantamento da A&M, experimentou avanços substanciais nos últimos anos. Em 2010, haviam respondido por 3,0% de um total de 60 moléculas novas registradas pelo ministério. A participação avançou até 36,0% em 2016, algo como 38 frente a um total de 106 registros.
  • O número total de novos produtos mais do que triplicou desde lá, atingindo 361 no ano passado, com os biológicos representando 29,0% daquele número, aproximando-se de 105 registros. O avanço do segmento, no entanto, foi mais intenso do que sugere esse tipo de comparação, já que os registros de biológicos havia despencado para 16% do total em 2017, somando perto de 32 novos produtos.
  • De acordo com levantamento realizado pela consultoria A&M, o mercado de defensivos agrícolas atravessa um momento de mudanças, marcadas não apenas pelo crescimento do setor de biodefensivos, impulsionados pela pressão em defesa de tecnologias mais sustentáveis, mas ainda por mudanças na legislação, que criaram facilidades para o registro de moléculas (e introduziram um fator de risco maior nesse mercado, relacionado à liberação acelerada de produtos de toxidade questionável), e por um aquecimento nas operações de fusão e aquisição entre os grandes players do setor.
  • Nos últimos anos, a gigante Bayer assumiu o controle da Monsanto, outra gigante do setor de sementes e defensivos; a chinesa ChemChina comprou a Sygenta; e a fusão entre os ativos agrícolas da Dow, DuPont e Pioneer resultou no surgimento da Corteva. Em março deste ano, a própria Corteva reforçou sua aposta no mercado de produtos biológicos ao anunciar a conclusão das aquisições da espanhola Symborg, empresa especialista em tecnologias microbiológicas, e da norte-americana Stoller, uma das maiores empresas independentes do mundo no setor de biológicos.