Mercados respondem a eleições com bolsa em alta, juros e dólar em baixa

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de novembro de 2022

O rápido reconhecimento do resultado das eleições presidenciais de domingo, 30, pelos principais líderes globais e domésticos, incluindo aliados do desgoverno ainda instalado em Brasília, reduziu imensamente o espaço para aventuras insanas. Escolhido pela maioria, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma o comando do País a partir de janeiro de 2023 e, a despeito de ameaças e movimentações nada republicanas no entorno e entre apoiadores do governo incumbente, o ambiente parece mais desanuviado. Mesmo os mercados reagiram positivamente, ao fim de uma segunda-feira ainda marcada por ações aparentemente isoladas de caminhoneiros e ruralistas contrafeitos com a alternância no poder.

“O ambiente (econômico) parece até muito mais desafiador lá fora do que aqui dentro”, resume o engenheiro civil, com pós-graduação em finanças pelo Insper, Lucas D’Alcântara, um dos sócios fundadores da family office Nau Capital. A despeito da forte volatilidade observada para os preços das ações das estatais, o Ibovespa (índice que reúne as ações negociadas na B3) encerrou o dia com valorização de 1,31%, numa virada em relação ao recuo de 0,85% registrado no começo da tarde de ontem.

Os papéis da Petrobrás, refletindo especulações em relação ao próximo presidente a ser escolhido pelo governo eleito, encerraram o dia com perdas entre 7,04% e 8,47%. Para o Banco do Brasil, ação ordinária chegou a cair 4,64%. Os resultados sugerem que, na média, o restante das ações teria experimentado elevação até mais expressiva do que aquela apropriada pelo índice geral da B3, lembrando que Petrobrás e BB respondem por algo em torno de 16,7% na composição do Ibovespa.

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Na visão de D’Alcântara, a resposta de “atores políticos locais e internacionais sacramenta o resultado das urnas” e reduz os temores do mercado em relação a eventual crise institucional. O discurso de Lula, já como presidente eleito, da mesma forma, ajudou a reduzir a volatilidade dos mercados, por seu tom conciliador e dia união nacional, mas também por deixar muito claro que a preservação ambiental, avalia o gestor, deverá ocupar espaço central na agenda do próximo governo. “Acredito que a reação da bolsa reflete isso”, acrescenta ele.

Fundo ambiental

Num sinal na mesma direção, acrescenta D’Alcântara, o ministro do meio ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, antecipou a decisão daquele país de retomar o financiamento de ações em defesa da floresta amazônica, interrompido desde 2019. Os recursos disponíveis somam em torno de 5,0 bilhões de coroas norueguesas, algo próximo de R$ 2,5 bilhões. Ainda na avaliação do sócio da Nau, o presidente eleito já demonstrou maior desenvoltura para lidar com a agenda internacional do que o atual ocupante do Palácio do Planalto. De toda forma, D’Alcântara antecipa um período de nervosismo e volatilidade ao longo dos próximos dias, pelo menos até que se confirmem os nomes que vão compor a equipe de transição do governo eleito.

Balanço

  • Numa análise sobre o comportamento da Bolsa desde a volta das eleições diretas, em 1989, considerando os seis meses anteriores e seus meses posteriores à votação, observa D’Alcântara, as ações usualmente demonstraram tendência altista no semestre imediatamente após a conclusão das apurações. Ele acredita que a tendência deve prevalecer também desta vez, considerando, entre outros pontos, que a relação entre preço e lucro e o valor das ações corrigido pelo dólar têm se mantido abaixo de seus níveis históricos.
  • De volta aos números do mercado ontem, a alta relativa do Ibovespa veio acompanhada ainda de queda de 2,55% no valor do dólar, que passou a girar ao redor de R$ 5,16, e de redução nos juros futuros, aferidos pela chamada “taxa DI” (depósito interfinanceiro), que acompanha a taxa básica de juros (ou Selic). Nos contratos com vencimento em janeiro de 2026, a taxa DI baixou de 11,68% para pouco menos de 11,52%, numa redução de 0,165 pontos de porcentagem.
  • Os juros nos contratos mais curtos, com vencimento em janeiro de 2024, recuaram de 12,965% para 12,905% e saíram de 11,815% para 11,690% para os vencimentos de janeiro de 2025. Ainda sujeita a uma série de intercorrências, a começar sobre quem assumirá o Banco Central (BC) a partir de janeiro, os juros futuros vinham projetando o início do processo de redução dos juros básicos para meados do próximo ano, de acordo com D’Alcântara.
  • Um ponto de incertezas para o curto e médio prazos, prossegue ele, está relacionado à maneira como se fará a acomodação das despesas adicionais já contratadas pelo atual governo enquanto tentava se reeleger, qualquer coisa próxima a R$ 86,0 bilhões, e a agenda de ampliação de gasto sociais já antecipada pelo governo eleito. Os caminhos adiante sugerem uma redefinição da claudicante política de teto de gastos, o que causa tremores e incertezas nem sempre fundamentadas entre porta-vozes do mercado financeiro.
  • Criada em outubro de 2020 e associada à plataforma da XP Investimentos, com sede em São Paulo, escritório em Belo Horizonte e atuação em Goiânia, a Nau Capital atua nas áreas de gestão financeira, corporate e em modalidades de investimento alternativo, “não encontradas em outras plataformas financeiras”, descreve D’Alcântara. Esta última área envolve um trabalho de identificação de oportunidades de investimentos no lado real da economia, geralmente bancados por capital próprio ou por recursos de fundos de mercado.
  • Envolvendo 90 a 100 famílias de alta renda – ou “grupos econômicos”, na classificação da própria gestora –, a Nau administra atualmente uma carteira de quase R$ 3,0 bilhões e espera encerrar o ano com R$ 3,4 bilhões a R$ 3,5 bilhões em recursos sob sua assessoria financeira, o que significaria um crescimento entre 13% e quase 17% em relação à posição atual. A meta para 2023 contempla uma carteira próxima de R$ 5,0 bilhões, embutindo um avanço em torno de 43% a 47% frente ao fechamento esperado para este ano.